segunda-feira, 30 de junho de 2014

AS AGREMIAÇÕES QUE INICIARAM ATIVIDADES COM A REGRA BRASILEIRA

A Regra Brasileira ganhou força na Bahia e no Rio Grande do Sul. Pela influência baiana, o nordeste foi aumentando o rol de entidades que passaram a disputar no novo modelo botonístico. Destaque para Sergipe, Paraíba e Pernambuco que, junto com os baianos, foram os estados que estiveram presentes no primeiro brasileiro.
No sul do país, a cidade de Caxias do Sul foi o embrião. Com o tempo, alguns abnegados, residentes em outras cidades, aderiram à Regra Brasileira. Com o deslocamento de Vicente Sacco Netto para Canguçú, foi formada uma frente no sul do estado, a qual se tornou muito forte e persiste até os dias atuais. Na capital do estado ganhou força quando Claudio Schemes a levou para o S. C. Internacional. Foi o início de um trabalho que rendeu inúmeros frutos e com a criação de várias entidades que abrigam a Regra Brasileira com intensidade, local onde predominava a Regra Gaúcha e depois a Unificada, de Enio Seibert.
Claudio Schemes
O Rio de Janeiro aderiu de imediato através de Getúlio Reis de Faria. Sua entidade, em Vila Isabel, perto do Colégio Martins, atraiu o professor e diretor do Colégio ao futebol de mesa. Antônio Carlos Martins passou a jogar com a turma do Getúlio e, com eles, alguns professores do referido curso como Luiz Antônio Dias Guimarães que jogava com uma Portuguesa. Além deles, o Getúlio formava uma plêiade de meninos que, junto a seus dois filhos, enalteciam e dignificavam o futebol de mesa. Um remanescente desse grupo é o nosso conhecido amigo Wanner, que continua a brilhar nas mesas cariocas.
Três Pilares do Rio: Pedro , Claudio e Wanner
 O Rio de Janeiro participou do primeiro brasileiro com os seguintes botonistas: Adelson Albuquerque, João Paulo Mury, Paulo Granja, Paulo Henrique e Antônio Carlos Martins. Jogavam com seus botões de galalite, bem menores do que os padronizados, fabricados na Bahia. Pouco tempo depois, João Paulo Mury, que praticava a Regra carioca, aderiu à Regra de três Toques e ajudou a fundar uma Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, (sem lastro jurídico) que abrigava essa regra. Juntou-se a ele o Hélio Nogueira, que já havia participado da Regra Brasileira com sucesso, tendo participado no segundo campeonato brasileiro realizado em Recife.
Hélio Nogueira jogando contra Oldemar Seixas com arbitragem de Sambaquy
Campeonato Brasileiro de 1979 - Vitória - ES
Martins, entretanto continuava a jogar na Regra Brasileira e foi o vencedor do brasileiro realizado em Caxias do Sul, o que incentivou sobremaneira a modalidade na cidade. O troféu ficava na entrada da sala da diretoria da escola Curso Martins, atraindo muitos botonistas como os irmãos Szpiro (David e Arnaldo), Fernando Antônio Lamas Flores, Augusto (com quem joguei em 27.1.80) no campeonato brasileiro realizado em Pelotas; Hélio Nogueira e Júlio César Albuquerque Nogueira, o qual conseguiu alguns títulos brasileiros.
Sambaquy, Ivan lima, João Paulo Mury, e Oldemar Seixas em Salvador 1970
Sergipe sempre foi uma força atuante na Regra Brasileira. Não foi à toa que, já no primeiro brasileiro, os nomes de Átila de Menezes Lisa e José Marcelo Freire Farias figuraram como campeão e vice. No segundo foram 3º e 4º colocados, atrás de Roberto Dartanhã Costa Mello e Claudelino Cezar Zama, baianos que disputaram o título. Em 1979, surgiu José Inácio dos Santos como campeão e Átila como vice. Em 1981, Antônio Hernanes D’Ávila ficou com o vice-campeonato na cidade de Brusque. Em 1983, José Ediberto Bastos Santos conquistou mais um vice-campeonato para Sergipe, em casa.
Atila Lisa - 1º Campeão Brasileiro
Pernambuco conquistou, com méritos, o título de campeão por equipes no segundo campeonato realizado. A figura de Ivan Lima, radialista, amante do futebol de mesa que jogava com o Galícia era o mentor maior do movimento pernambucano. Somente em 1993, novamente em Recife, tivemos um nome figurando como vice-campeão: Nilo Tadeu Nunes. Em 1994, em Natal, Paulo José Machado conseguiu se classificar em terceiro. O movimento continua e, agora, em evolução graças à divulgação de Sérgio Travassos.
1971 - entrega do diploma a Ivan Lima feita por Manoel Nerivaldo Lopes - LGFM
(Guarabira - Paraíba)
Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba eram participantes nos primeiros anos, pois marcavam presenças em diversos campeonatos realizados. Dos três, quem mais progrediu foi o Rio Grande do Norte, onde grandes nomes estão aparecendo para a glória de nosso esporte. Nem todos iniciaram como pioneiros. Foram se agregando ao longo do tempo e se tornando pilares à sustentação de nosso esporte no contexto nacional.
A alegria de ver nomes consagrados no futebol de mesa, mesclados com antigos botonistas faz com que a certeza de nossa luta sempre será levada adiante, diferente de outros movimentos do mesmo futebol de mesa, mas que sofrem com a falta de continuidade, como a própria Regra de 3 Toques, que está quase adormecida e com pouquíssimos pontos de atuação em nosso território.
A festa de despedida do 1º Campeonato Brasileiro. O pessoal do Rio Grande do Sul com o pequeno grande Webber Seixas (ao centro). Feijoada no Ypiranga
Que as agremiações, apoiadoras da Regra Brasileira, continuem com força total e que novas apareçam para solidificar e mostrar que estaremos sempre no coração dos botonistas que atuam em nosso continente.
Brasileiro de 1970. Uma homenagem  aos que começaram esta caminhada


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

JOGOS INESQUECÍVEIS

Cada botonista, nesse universo em que vive, deve ter uma série de jogos inesquecíveis que não saem de seu pensamento. Partidas que poderiam ser consideradas normais, mas por um fato qualquer se tornaram importantes e povoam a memória de uma maneira curiosa. Muitas, nem sequer resolveram torneios ou campeonatos, mas ficaram gravadas para sempre.



Dentre as partidas que marcaram a minha vida de botonista, devo destacar algumas especiais. A primeira foi no ano de 1963, enfrentando a Paulo Luís Duarte Fabião, pelo campeonato interno da AABB. Estávamos empatados e esse seria o jogo decisivo de quem seria o primeiro campeão abebeano caxiense. Venci o jogo por 2 x1, com gols dos botões 11 e 3.
Partida contra Paulo Fabião, quando recebi meu  1º troféu em 1963
No dia 13 de junho de 1965, joguei contra Lenine Macedo de Souza, então presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa e que, ao se apresentar, disse ostentar o título de campeão brasileiro. Perdi esse jogo por 1 x 2, tendo o botão 9 marcado o meu gol. Foi a primeira partida jogada contra adversário que não era residente em minha cidade.
Em maio de 1966, joguei a primeira vez contra Vicente Sacco Netto e seu São Paulo. O resultado foi 1 x 1 e, novamente, o botão número 9 foi o autor do gol. Depois disso, foi o adversário que, durante o tempo que residiu em Caxias mais vezes  enfrentei ainda na Regra Gaúcha e depois na Brasileira.
Minha despedida da Regra Gaúcha foi uma partida memorável, em que enfrentei Sérgio Duro, que representava o Grêmio Porto-Alegrense, realizada no dia 28 de dezembro de 1966. Venci o jogo por 4 x 0, com gols dos botões 9, 8, 5 e 3. Dias após, estava seguindo para a Bahia para conseguir montar a Regra Brasileira com mais cinco amigos.
No regresso, depois de perder muitos jogos para amigos baianos, vim preparado e, na disputa do Torneio Inicio da AABB, de 1967, jogando na Regra Brasileira realizei seis jogos, em 18 de fevereiro de 1967, tendo marcado quinze gols e sem levar nenhum. Joguei contra Vicente Sacco Netto, Sérgio Calegari, Sylvio Puccinelli, Rubens Schumacher, Raymundo Vasques e Rubem Bergmann. Foi um feito memorável para mim, pois intimidei meus adversários, venci o Torneio e recebi um lindo troféu.
Em 20 de dezembro de 1967 foi promovida, pelo Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul, a Primeira Olimpíada Bancária. No futebol de mesa, venci a todos os meus adversários e fiz a final contra Sylvio Puccinelli, a quem venci por 3 x1, com gols dos botões 5, 8 e 11. Um lindo troféu comemorativo me foi entregue pelo presidente do Sindicato, colega Dauro Brandão de Mello.

Em 5 de maio de 1969, recebi a visita do amigo Valdir Szeckir, de Porto Alegre, com quem joguei duas partidas. Perdi uma por 2 x 3 e venci outra por 2 x 1, com gols dos botões 4 e 8 na primeira e dois do número 9, na segunda.
Valdir renato Szeckrir
Em 20 de novembro de 1969, o visitante veio de mais longe. Era Ivan Lima, de Recife, que de passagem por nossa cidade, participou de um Torneio Caxias x Recife, com a participação de Jorge Compagnoni e Airton Dalla Rosa. Venci-o por  4 x 3, com três gols do número 9 e um do 10. Estava me preparando para o primeiro campeonato brasileiro que seria realizado em janeiro de 1970, em Salvador (Bahia).
No dia 10 de janeiro de 1970, fiz a minha primeira partida em certames nacionais. Enfrentei a sergipano José Inácio dos Santos e nosso jogo terminou empatado em 1 x 1, com o meu gol marcado pelo botão 10.
No regresso realizei a mais importante partida, até então. Em 10 de fevereiro de 1970, contra o Almir Manfredini, vencendo-o por 5 x 4 conquistei o meu primeiro e único título de Campeão Caxiense. Os gols foram marcados pelos botões números 7, 8, 9, e mais dois pelo número 7, nessa ordem.
Em agosto de 1971, por ocasião do segundo Campeonato Brasileiro, realizado em Recife, tive duas partidas inesquecíveis. A primeira, enfrentando o meu irmão Oldemar Seixas; o placar marcava 1 x 2 favorável ao meu adversário. Quase no final da partida, consegui colocar uma bola difícil de ser tirada pelo Oldemar. Quando ele se preparava para fazer sua jogada, soou o final do jogo. Eu não havia solicitado que ele colocasse, pois era a vez dele jogar. Para mim, o jogo terminara e estendi a mão para cumprimentá-lo, quando o árbitro Antônio Pinto, pernambucano disse que o jogo não havia terminado. Havia o interesse de Pernambuco em que a Bahia perdesse pontos, pois estavam lutando passo a passo pela liderança do certame por equipes. O Oldemar ficou pálido, até pensei que fosse desmaiar, pois eu estava pronto para fazer o gol de empate, caso ele errasse a jogada. Isso afetou seu estado nervoso e ele errou. Solicitei que arrumasse o seu goleiro, pois iria chutar. Naquele momento, pensei comigo: o que adianta fazer esse gol e perder um grande amigo, pois está havendo má fé por parte do árbitro, querendo prejudicá-lo. Bati forte e a bolinha passou por cima do travessão. O gol marcado foi pelo número 9.
O segundo jogo foi contra o meu colega bancário Manoel Nerivaldo Lopes. Uma pessoa finíssima, que jogava pela Liga Guarabirense de Futebol de Mesa, cidade da Paraíba. Realizamos um jogo maravilhoso e o empate de 1 x 1 premiou nossos esforços. O gol foi obra do botão 7.
Nesse campeonato, teve uma terceira partida que ficou marcada em minha memória. Foi a final entre Roberto Dartanhã Costa Mello e Cezar Aureliano Zama. Fui o árbitro escolhido para dirigi-la. Foi um jogo esplêndido, com dois botonistas jogando de unha, sem que houvesse erro algum. Foi uma partida que só poderia ser decidida por alguma falha ocasional, independente da vontade dos dois disputantes. E assim foi, pois Dartanhã constrói uma jogada para chutar ao gol, mas que seria facilmente defendida pelo Cesar Zama. Acontece que o botão impulsionado pelo Cézar, em seu trajeto em direção à bolinha, trava a alguns centímetros da mesma. Implacável, Dartanhã chuta e marca, sagrando-se campeão brasileiro de 1971.
No dia 20 de junho de 1973, aconteceu o fato mais esdrúxulo na minha vida de botonista. Jogava contra Mário de Sá Mourão. Nesse jogo eu marquei cinco gols e perdi, pois consegui a proeza de marcar três gols contra. Os gols válidos para mim foram marcados pelos números 7 e 10. Os outros três foram rebatidas que voltaram e entraram em minha meta. Acredito que foi a única vitória do Sá Mourão, apelidado pelos baianos de Turista do Futebol de Mesa.
Na cidade de Brusque, eu consegui realizar boas partidas e fui campeão por três vezes. A partida que nunca saiu de minha cabeça foi quando venci o último campeonato, em 4 de janeiro de 1979. O campeonato era ainda pelo ano de 1978. Jogava contra Márcio José Jorge, que havia sido campeão em 1977. Venci o jogo por 2 x 0, com gols do Valdomiro, número 7. O primeiro gol foi uma pintura indescritível. A bolinha estava na entrada da área, quase na meia lua, e o único botão para jogar em condições era o Valdomiro que estava na lateral quase em linha reta com a bolinha. Pedi para arrumar o goleiro, pois iria chutar. Ele olhou para o botão, incrédulo, mediu e pensou, não acreditando na possibilidade de êxito. Coloquei a palheta em cima do botão e olhei fixamente para a bolinha. Quando larguei senti que iria conseguir o que desejava. E foi maravilhoso. Tocou na bolinha exatamente onde eu fixara e ela levanta e passa por cima do goleiro, aninhando-se no fundo das redes Naquele momento, eu ganhei jogo. O segundo gol foi consequência do primeiro. Foi o terceiro troféu que a Associação Brusquense destinava aos campeões; A Deusa da Vitória.
Para finalizar, falarei de um jogo que ficou marcado na memória do Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa. No dia 28 de julho de 1973, convidados pelo Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, para fazer uma apresentação da Regra Brasileira naquela cidade. Conosco foram Luiz Ernesto Pizzamiglio e Airton Dalla Rosa. Sala repleta de jovens praticantes do futebol de mesa, repórteres do Jornal e autoridades municipais. Jogariam Airton e Pizzamiglio numa mesa, e Marcos Barbosa e eu na outra. Nosso jogo foi amplamente dominado pelo Marcos e terminou o primeiro tempo 3 x 0. Eu estava mostrando como se jogava, e o Marcos estava jogando para valer. No segundo tempo, as coisas se modificaram e passei a jogar para valer e ele demonstrando. Final do jogo 4 x 3 para mim. Gols dos botões 6, 9,8 e 3. Não lembrava mais desse resultado, até nosso encontro por ocasião do Centro Sul, em Caxias, quando o Marcos narrou o jogo inteiro pra mim. Ele nunca esqueceu esse jogo, apesar de termos feito inúmeras partidas.
Contra Marcos Barbosa - a partida que ele nunca esquece
35 anos depois Sambaquy X Barbosa no Centro Sul de Caxias do Sul
Até a semana que vem, se Deus permitir.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

COMPRA, VENDA E DOAÇÃO DE TIMES DE FUTEBOL DE MESA

Ao tomar conhecimento da intenção do amigo Ricardo Gothe de se desfazer de sua Lazio, que tantas alegrias lhe tem concedido nas mesas em favor de seu time do coração Bayern de Munique, pensei sobre quantos times passaram pelas minhas mãos nesse longo período de atividade.
Lazio de Gothe
Os primeiros times foram surrupiados de meu avô, que morava conosco. Ele deve ter me perdoado, se algum dia descobriu as minhas artimanhas. Mas, eram botões que, naquela época, preenchiam a finalidade precípua a que me dispunha.
Os botões que iniciaram a caminhada
Time do Racing
Depois surgiram os puxadores e, com eles, os times mais perfeitos do que os botões de jaqueta, casacos e sobretudos. Para montar um time de puxadores era necessário garimpar bastante e encontrar o botão ideal para cada posição. E eu havia formado um grande plantel, com botões das mais variadas cores e um centro avante todo preto, que não perdia chute. Era o Victor, que defendera o Flamengo caxiense e depois o Grêmio Porto Alegrense.
Casa Saldanha (livraria onde comprávamos os botões em Caxias)
Foi então que surgiram os botões baianos, padronizados, obedecendo às cores tradicionais do clube representado. Eu havia ganhado de presente do Oldemar Seixas uma Seleção Brasileira e estava praticando com ela, esperando a chegada de meu G. E. Flamengo, encomendado ao mago baiano, Sr. José Aurélio. Nessa época ainda disputávamos o final do campeonato de 1966, na AABB, e como demoravam pra chegar as encomendas da Bahia, jogávamos nos despedindo da Regra Gaúcha. O falecido Deodatto Maggi, que namorava o meu time há muito tempo, perguntou se eu iria jogar somente na Regra Brasileira. Disse que sim, afinal fora um dos seus criadores e pretendia que ela se alastrasse pelo nosso estado, quando poderíamos conviver e jogar com outros botonistas de nosso país. Então, sem cerimônias, perguntou se eu venderia meu time para ele. Respondi-lhe que dependia da oferta. Ele não se fez de rogado e me ofereceu o mesmo valor de um time completo, confeccionado na Bahia. Não pude resistir e vendi-lhe o time na hora. Poderia desta forma, pagar o meu Flamengo que estava por chegar sem ter de tirar dinheiro do bolso.
Na época, o meu irmão Vicente Sacco Netto havia me presenteado com um time preparado e lixado por ele. Eram todos os botões vermelhos com a base branca. Terminaria meus compromissos com aquele time. Acontece que eu teria de enfrentar os meus botões, pois estava marcada para o dia 26 de janeiro de 1967 uma partida contra o Deodatto.
O Deodatto jogava para tentar o bicampeonato caxiense, já que fora campeão em 1965. Só que ele só havia comprado os botões. O treinador estava com outros botões e venceu o jogo por 1 x 0, gol do ponteiro esquerdo. Tirei-lhe a chance de conseguir lutar pelo título, o qual acabou ficando com o Rubens Schumacher.
Algum tempo depois, já jogando com botões fabricados na Bahia, vi algo inédito até então. O Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa, que jogava com o São Paulo, mandou confeccionar dois times. Um deles era todo preto com o distintivo do São Paulo no centro e o outro, tricolor com a base branca. Os dois times muito bonitos, mas o Marcos não estava contente. Conseguiu uma pessoa que, com uma ferramenta especial, cortou em forma de círculo o centro dos botões. Então ele colou o centro do time tricolor nos botões pretos e o centro preto nos botões tricolores. Valorizaram muito os dois times. Ficaram bem diferentes e muito bonitos.
Time da Regra Brasileira de Airton Dalla Rosa (anos 80)
Time da Regra Brasileira de Oldemar Seixas (anos 70)

Lindos times modernos da Regra Brasileira  (com artes maravilhosas embutidas ou sobrepostas, artes gravadas, e materiais diferenciados)
Quando eu cheguei à cidade de Brusque e fundei a Associação Brusquense, os pedidos eram feitos em quantidade. Procurei o José Castro Sturaro que fabricava botões e era aparentado com o Oldemar. O Sturaro tinha uma boa quantidade de times nordestinos confeccionados e que eram difíceis de vender. Comprei todos eles. O preço era bom e assim o pessoal que estava iniciando poderia ter um time a preço razoável. Vieram Moto Clube, Bahia, Vitória, Ceará, Clube do Remo, Paisandú, Nacional, Confiança, Velo Clube, Sampaio Correia, Santa Cruz, Náutico e Sport, além de Fluminense, Flamengo, Vasco, Botafogo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Portuguesa, Grêmio, Internacional, Coritiba e Juventus.
Os mais conhecidos saíram logo, mas os poucos conhecidos foram ficando encalhados. Os filhos dos associados me procuravam para comprar times e, com eles, alguns amigos que só ficavam olhando a negociação. Procurei saber quem eram eles e fui informado de que se tratava dos filhos do roupeiro do Carlos Renaux, um clube de futebol da cidade. Não teriam condições de comprar, pois o salário de roupeiro de um time de uma cidade do interior de Santa Catarina era irrisório. Então chamei os dois meninos e perguntei se eles gostariam de jogar com os demais. Os dois disseram que sim e confessaram que haviam pedido dinheiro ao pai, mas ele não podia dar, pois faltaria para outras necessidades da família. Sendo assim, doei-lhes times do Velo Clube e do Sampaio Correia. A felicidade estampada nos rostos daqueles meninos foi a paga suficiente.
Nunca fui de negar a qualquer interessado um time de botão. O time com o qual fui campeão caxiense, que havia comprado de Miguel Silva, um baiano que me visitou em Caxias, doei ao filho de uma prima. O Inter, que foi o sétimo colocado no Brasileiro de Vitória doei ao filho de um amigo médico de Brusque. Assim como ganhava times de presente eu também presenteava as pessoas. Afinal, esta era uma maneira de divulgar o nosso esporte e fazer as pessoas se interessarem por ele. Nem sempre dá certo, mas a tentativa é válida.
Na regra de 12 toques, eu possuía diversos times que havia recebido de presente e, também, comprado em São Paulo. Só que o foi na década de oitenta e estavam desatualizados nos padrões atuais. Eram menores do que os atuais. Foi então que o presidente do Atlântico Sul me entregou um Barcelona, pois assim eu teria mais chances de fazer frente a eles. E, de fato, adaptei-me a esse time de uma maneira maravilhosa. Já comprei quatro times: Inter ( campeão da Libertadores de 2006), Inter (campeão do Mundial de 2006), G. E. Flamengo e Ferroviária, de Araraquara, mas não me adaptei com nenhum deles. Só consigo jogar mesmo é com o Barcelona, apesar de saber que o fabricante dos demais é o mesmo.
Botões da regra 12 Toques
Na minha coleção tenho times da Regra Brasileira, Gaúcha, Unificada, 12 Toques, 3 Toques, Botãobol, Fogo Tebei, de vidrilha. Já tive botões de osso e de coco e um time que recebi de presente de Sérgio Duro, um campeão da Regra Gaúcha, com botões especialmente lixados que coloquei em quadros para expor na sede da Associação Brusquense. Só que ladrões conseguiram entrar na sede e roubaram tudo. Roubaram inclusive um quadro onde estava a camisa e o time com a foto de um associado que havia falecido em um acidente de motocicleta. Infelizmente nada foi respeitado. Tivemos de reforçar as janelas e a porta, afinal possuíamos sete mesas em ótimas condições. Se voltassem poderiam danificá-las.
Nos anos oitenta, quando permaneci em São Paulo por um mês, fazendo um curso pelo Banco do Brasil, o presidente da Federação Paulista me entregou uns trinta times de vidrilhas, na tentativa de promover a regra por aqui. Trouxe comigo e distribuí todos eles com a garotada que morava perto de minha casa no Jardim Maluche. Eles realizavam campeonatos e se divertiam bastante. Construía mesas para a regra de 12 toques com aglomerados e distribuía para os meninos, juntamente com os times de vidrilhas. Muita gente jogou botão por causa disso e, até hoje, quando encontram meu filho pela cidade comentam o fato com ele.
Botões do Inter em Vidrilha

Que o feliz comprador da Lazio do amigo Ricardo Gothe tenha tantas alegrias como ele teve, pois foi um time que conseguiu vários troféus para a sua galeria.

Fotos de mais tipos de Botões:
Botões de chifres
Botões de Coco
Botões de Resina


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

AS MUDANÇAS QUE EU VI

Meus amigos, nessa minha ducentésima coluna, abordarei a grande diferença que encontrei no meu regresso ao mundo encantado do futebol de mesa. Como havia parado de jogar em dezembro de 1986, tendo raríssimos encontros, um em setembro de 1994, na Bahia, outro, em novembro de 2002, em Caxias do Sul; mais dois em janeiro de 2004, novamente em Caxias; a minha observação sobre a evolução do jogo ficou em detalhes da regra que haviam sido modificados.
Foi em 2011, por ocasião da realização do Centro Sul, na cidade de Caxias do Sul que voltei a manter contato com botonistas na Regra Brasileira. Para quem iniciou a Regra Brasileira, ainda em 1967, as modificações eram astronômicas. Em 1967, a bolinha era o botãozinho chamado olho de peixe, cujas fotos aparecem para todos conhecerem. Com o desaparecimento desse tipo de botãozinho, foi criada a alternativa do disquinho de polietileno, o qual perdura até os dias atuais. A bolinha já era minha conhecida, não modificou muita coisa, apenas detalhes de cor, pois muitas são brancas, outras amarelas e até azuis.
Falemos, em primeiro lugar, dos times. O goleiro que, nas primeiras versões, possuía uma rebarba, na qual a bolinha ficava encaixada, desapareceu. Tornou-se um tijolo, mas muito mais bonito do que os antigos goleiros. Já não encaixava mais a bolinha, pois isso já havia sido abolido na regra.
As bolinhas utilizadas nos primeiros anos (olho de peixe), a bolinha  da Regra Gaúcha e a bolinha utilizada na Regra Brasileira
Os botões é que sofreram uma mudança muito grande. Os primeiros zagueiros (cavadores) tinham 4,8 centímetros de diâmetro, os médios (levantadores) também na mesma medida, os atacantes 4,6 centímetros e o centro avante 4,2 centímetros. Os atuais são todos do mesmo diâmetro e medem 5,3 centímetros. A grande diferença, no entanto, está na graduação atual que é muito reduzida, chegando a quase serem confundidos os botões de ataque com zagueiros (cavadores). Nos jogos que realizei nesse Centro Sul de Caxias, tinha de perguntar ao meu adversário se o botão era cavador ou levantava a bolinha, tal a dificuldade de ver a caída do mesmo. Num jogo que realizei contra o meu irmão Luiz Ernesto Pizzamiglio, quando estava colocando os meus botões na mesa, como sempre o fiz, cinco atacantes levantadores, ele me advertiu que não se faz mais assim. Que há botonistas que jogam com sete e até oito botões cavadores. Eu sempre joguei com cinco botões cavadores e cinco botões levantadores. Como é que eu iria mudar agora? Isso sem falar no tamanho dos botões. Se colocar na mesa o meu primeiro time (G. E. Flamengo) eles vão parecer dentes de leite, perto dos botões atuais. Além disso, os botões atuais são bem mais baixos do que os antigos, os quais mediam 0,7 centímetros de altura, contra os 0,5 centímetros atuais.

Foto comparativa dos botões de ataque - nota-se a diferença do tamanho dos botões
A inclinação e altura dos mesmos são outra notável diferença
Outro ângulo dos atacantes
A diferença realmente é grande
A mesa foi outra mudança radical. As primeiras mesas tinham sarrafos laterais, com um cordão de nylon para proteger a batida do botão. No centro do campo havia um marcador que indicava o lado onde a bolinha sairia. Era uma peça móvel, pois podia ser afastada se por acaso o botão fosse ser deslocado rente à linha lateral. Essa peça foi suprimida definitivamente.  O sarrafo foi abandonado e, ao redor da mesa, colocada uma rede de proteção que acolhe os botões, evitando a sua caída no chão, coisa que poderia danificá-los. Melhorou muito, pois, mesmo com a proteção do nylon, muitas vezes o botão era impulsionado com força e voltava ao campo, deslocando outros botões. Agora ele sai e fica na rede, depositado, sendo retirado pelo árbitro e colocado à margem do campo. As mesas, que eram confeccionadas de pau marfim, estão sendo modificadas para madeiras nobres, idênticas às usadas no nordeste. Ficou muito melhor e mais agradável a mudança verificada.
Mesa mais Antiga com os sarrafos

Mesa Atual com a rede de proteção
Nos primeiros anos usava-se palheta (ficha), unha ou pente para acionar os botões. No meu retorno eu encontro a régua. E a grande maioria dos botonistas é usuária da régua. Até mesmo na Bahia, onde encontrei centenas de botonistas que jogavam com a unha, a régua é usada pela grande maioria deles na atualidade. Confesso que admirava a impulsão que os baianos faziam com suas unhas, pois era um futebol de mesa cadenciado e jogado na mesa com os botões, na sua totalidade, dentro do campo. Era um verdadeiro jogo de caça ao rato, tirando a nossa defesa e deixando o centro avante pronto para encobrir o nosso goleiro. Aprendi, mesmo com palheta, a ter um toque sutil no botão, a ponto de um botonista da regra de 12 toques ficar ao meu lado e tentar escutar o barulho do deslocamento do botão pela palheta. E ele dizia para os demais: - Incrível, não se escuta a batida da palheta na mesa...
Fichas (palhetas) e as atuais Réguas

Giovanni Moscovitz, que foi campeão brasileiro em jaguarão, jogando de régua
Por essa razão as cavadas se tornaram tão importantes no futebol de mesa atual. Já, na cobrança do tiro de meta, o zagueiro é impulsionado à lateral do campo e a bolinha jogada no campo adversário. No início, jogava-se fazendo o zagueiro lançar a bolinha e de maneira que ficasse na frente do zagueiro adversário, impossibilitando a rebatida, tendo o cuidado de não jogar o botão adversário para fora do campo, pois será falta técnica. Com isso teríamos chance de chutar ao gol adversário. Aliás, a falta técnica foi criada após o primeiro brasileiro, pois na Bahia havia um botonista chamado Cesar Zama que conseguia, num lance, retirar dois botões de defesa adversários, deixando a bolinha na entrada da área, pronta para ser arremessada ao gol. O Cesar Zama era habilíssimo nesse tipo de jogada. Tentou me ensinar, mas nunca fui bom em jogar snooker e, por isso, não consegui nunca fazer o que ele realizava com facilidade.
Devo dizer que, na atualidade, eu encontrei organizações muito melhores do que as que tínhamos. Pessoas comprometidas e organizadas. A facilidade, em parte, deve-se ao reconhecimento pelo CND, credenciando o futebol de mesa como esporte. Com isso, o amparo legal por parte de órgãos públicos tem feito engrandecer o nosso esporte. Com essas organizações comandando o esporte, a quantidade de botonistas aumentou consideravelmente, embora sinta que as novas gerações ainda relutam em se iniciar no nosso esporte. O importante é mostrar a eles que existimos e, quando os compromissos com estudos e namoros se concretizarem, acredito que muitos voltarão ao nosso meio e serão grandes botonistas.
Louve-se a dedicação do pessoal da AFM Caxias do Sul que “adotou” dois meninos e que, em pouco tempo, serão adultos, mas que persistem em mostrar aos demais que devem seguir praticando o futebol de mesa. São exemplos assim que devem ser valorizados.
Mesmo sentindo saudade do “meu tempo” de futebol de mesa, vejo a beleza das realizações que são feitas e da organização que impera em nosso esporte. Fico feliz, pois ajudei a iniciar tudo isso e não há vitória maior do que esta. Ver gente feliz jogando botão.


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

CONHECENDO O CRAQUE

Depois de uma longa parada com o futebol de mesa, fui descoberto pelo pessoal da regra de 12 toques, que havia fundado uma agremiação aqui na cidade de Balneário Camboriú. A culpa, em parte, foi minha, pois entrei em contato com eles para apresentar um botonista que havia me procurado, mas, por estar parado, não manifestei desejo de retornar. Ao saber da existência desse clube, recém-criado, tentei prestar um favor ao gaúcho que havia me contatado. Ao conversar com o então presidente, sua atenção voltou-se à minha pessoa. Visitou-me para trocar algumas ideias e acabamos conversando sobre futebol de mesa durante a tarde inteira. Mostrei-lhe todo o material que havia ficado em minhas mãos, meus troféus, reacendendo, assim, a possibilidade de eu voltar, desde que não fosse para dirigir, pois não teria mais pique para tal tarefa.
Os convites acabaram aparecendo e, num sábado, fui visitá-los. Levei comigo uma fita em que Geraldo Cardoso Décourt canta o seu Hino do Botonista, como também alguns times que havia comprado em São Paulo, próprios para a Regra de 12 toques. Mas, eram botões menores e já ultrapassados. Como é rápida a transformação dos botões, cada vez mais bonitos e perfeitos. Os que eu tinha comigo foram fabricados pelo Lourival, na década de oitenta.
Um dos primeiros encontros
Oswaldo Fabeni de Oliveira - Presidente do Atlântico Sul
Para minha surpresa, o presidente do Atlântico Sul Futebol de Mesa encaminhou um questionário para que eu o respondesse, pois desejava publicá-lo no Futebol de Mesa News, de São Paulo. As perguntas eram as mais variadas possíveis: Nome, idade, profissão, cidade, casado, filhos, netos? Quando e como começou a jogar? Defina o futebol de mesa em poucas palavras? Qual o seu time de coração e qual é o utilizado no futebol de mesa? Maior alegria no futebol de mesa?  Como era o esporte antes? E atualmente? Qual a regra que o amigo praticava? Você jogou contra grandes ícones do futebol de mesa brasileiro, poderia citar alguns? Quem é Adauto Celso Sambaquy?
Respondi a todas as perguntas sob o título acima e foi um dos primeiros artigos escritos a serem publicados. Em nove de julho de 2007, sai a publicação “Conhecendo o Craque” no blog paulista Futebol de Mesa News, estampando a minha fotografia jogando contra o Sérgio Calegari e a foto tradicional que aparece nessa página, com a camisa recebida de Paulo Cesar Carpeggiani, o manto tradicional do campão brasileiro de 1975/1976.

Na ocasião, os descendentes do Ary Pastori reclamaram os direitos autorais da fotografia em que apareço jogando com o Calegari. Para evitar maiores problemas, ela acabou sendo retirada nas edições seguintes do blog. Até hoje não entendi a reação estúpida dessas pessoas, pois se tratava de uma propaganda gratuita ao trabalho do grande fotógrafo caxiense. Mas, cada cabeça uma sentença. Quem não tem visão de negócios, vai mais devagar sempre.
Acredito que a pergunta mais difícil de ser respondida foi: Defina o futebol de mesa em poucas palavras.
Minha resposta na ocasião: Uma definição do futebol de mesa em poucas palavras: impossível. Futebol de Mesa é algo muito grande para ser definido em poucas palavras. É algo que envolve as pessoas de tal maneira que acaba se tornando um vício, uma coisa necessária na vida da gente.  Faz com que, por ele, muitas outras coisas sejam relegadas a segundo plano. Continuava dizendo: Hoje, eu tenho medo de ser novamente atacado por esse vírus gracioso, ao qual devo agradecer por momentos inesquecíveis em minha vida.
Nos dias atuais eu continuaria dizendo que, ao futebol de mesa, devo a alegria de ter encontrado tantas pessoas amigas, tantos irmãos que comungaram da mesma simpatia pelo esporte, por pessoas que guardavam meu nome em seus corações. Posso dizer que estou realizado no futebol de mesa. Nunca ganhei um título que merecesse um destaque especial. Nunca fui campeão brasileiro e nem cheguei perto disso, mas fui laureado e homenageado, o que me deixou feliz e realizado. Nos diversos encontros dos quais participei por esse Brasil afora, sou reconhecido pelos praticantes, o que me envaidece sobremaneira.
Eu tive um sonho e o persegui até concretizá-lo. Essa é a minha grande vitória e a conquista são os amigos que estão espalhados por esse país imenso. Meu nome chegou muito longe, pela ousadia e coragem de mudar algo para melhor. Agradeço a Deus por ter me dado essa chance de fazer algo pelo esporte que conheci e me apaixonei, em 1947, e que percorreu junto comigo todos esses anos vividos.
Que eu possa participar um pouco mais e abraçar cada vez mais amigos.


Até a semana que vem, se Deus assim permitir.