segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AS VIAGENS E O TRABALHO PARA DIVULGAR O FUTEBOL DE MESA


A primeira grande viagem foi realizada em janeiro de 1967, quando, em companhia de Gilberto Ghizi rumamos a Salvador, com a finalidade da criação da Regra Brasileira. Foi uma maratona que logrou êxito e os seus resultados foram sendo noticiados em Caxias do Sul, via Rádio e jornal O Pioneiro. Isso aguçou a curiosidade de desportistas da região serrana e frequentemente recebíamos visitas de interessados em conhecer a Regra Brasileira.
De 1967 até 1973, indiscutivelmente Caxias do Sul tornou-se a referência gaúcha da Regra Brasileira, por vezes confundida com a antiga Regra Baiana. Acolhíamos botonistas vindos de diversas cidades e apresentávamos a eles o nosso modo de jogar. Arroio Grande, Veranópolis, Lagoa Vermelha, Porto Alegre, São Leopoldo, Santa Maria, Flores da Cunha, Giruá e Uruguaiana eram as cidades que queriam conhecer o futebol de mesa praticado pelos caxienses.
Noticias de como o Futebol de Mesa andava na cidade de Caxias do Sul
Uma das reportagens que davam força ao futebol de mesa caxiense

Flores da Cunha estava realizando uma festa e convidou para que fizéssemos uma demonstração para a garotada daquela cidade. Na ocasião, presidia a Liga Caxiense o Sérgio Calegari. Combinamos viajar em dois carros e levar a garotada do Recreio Guarany, pois não sabíamos quem seriam os interessados. Se fossem muito jovens, talvez o interesse não fosse tão intenso vendo dois adultos jogando, para isso teríamos os meninos que demonstrariam como se deve praticar o nosso esporte. Para isso o Calegari apanhou o Airton Dalla Rosa, Ângelo Slomp, Almir Manfredini e seu irmão, que já começava a praticar o futebol de mesa. No meu carro levei minhas filhas, pois elas se queixavam que eu sempre estava indo jogar e elas ficavam em casa. Ao chegarmos, vários desportistas nos esperavam. Calegari e eu ficamos explicando a eles como se desenrolava o jogo, a aceitação nacional, tendo inclusive a possibilidades de realização de campeonatos brasileiros, enquanto os meninos partiam para a mesa alegremente. Como dois jogavam e um apitava, sempre sobrava um, que era o menor de todos, o irmão mais novo do Almir Manfredini. Acontece que os florenses haviam preparado uma mesa com diversos petiscos e algumas bebidas. Flores da Cunha era terra onde fabricavam vinhos de excelente qualidade, além de bebidas destiladas, tendo inclusive naquela época um uísque chamado Cookland (Terra do Galo). Dentre as bebidas havia diversos tipos de licores muito apreciados, com sabores de abacaxi, uva, goiaba, ovos que atraiam pela sua coloração exuberante. Como eram doces, o perigo estava diante de nossos olhos.
O irmão do Almir, sem ter ocupação, passou a experimentar os licores e acabou totalmente embriagado. Uma de minhas filhas veio me chamar, pois ele estava se sentindo mal. Eu abortei a minha participação naquela demonstração, deixando o Calegari encarregado de trazer os meninos para casa, pois voltaria para Caxias trazendo o menino que passara da conta. O pior seria a explicação para a Dona Cecy Puerari, mas ela entendeu, pois conhecia o filho que tinha.
Com isso resolvemos que doravante sempre iriam os adultos.
Os convites surgiam e várias vezes nos deslocamos até Canguçú, pois era o reduto em que nosso companheiro de futebol de mesa, Vicente Sacco Netto estava radicado. Ali se iniciou o movimento que hoje é uma realidade naquela cidade.
A primeira viagem a Canguçu - G.E.Flamengo (Sambaquy) foi o campeão

A segunda viagem a Canguçu - Internacional (Ghizoni)) foi o campeão
Em junho de 1973, fomos procurados por Saul Torres, diretor de esportes do Jornal do Povo de Cachoeira do Sul, no centro do estado gaúcho. O jornal patrocinava um campeonato aberto de futebol de mesa, na Regra Gaúcha, com botões puxadores. Ao tomar conhecimento de nosso movimento, manifestou interesse em uma apresentação em sua cidade, pois seria algo inédito e motivador aos jovens praticantes. Aceitamos o convite e em 27 de julho rumamos para aquela linda cidade. Saímos de Caxias em dois carros. Luiz Ernesto Pizzamiglio e Airton Dalla Rosa em um e Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa e eu no outro. Naquele tempo eu não gostava de andar de carona, queria era estar na direção e na estrada. Fomos recepcionados como autoridades e levados ao clube onde estava sendo realizado o aberto em homenagem aos 45 anos do Jornal do Povo. A garotada nos olhava desconfiada. Mas, o toque de mágica foi quando colocamos nossos times na mesa. Os olhinhos de todos eles brilhavam de espanto e inveja. Estavam vendo times do São Paulo, do Santa Cruz, do Cruzeiro e do Flamengo (de Caxias), arrumados para uma partida de demonstração.  Expliquei a todos eles que na atualidade essa era a modalidade em que poderiam disputar campeonatos brasileiros, os quais já haviam sido realizados em Salvador (Bahia), Recife (Pernambuco) e Caxias do Sul. Que continuando com a sua modalidade só poderiam disputar campeonatos regionais, pois a Regra Gaúcha não era reconhecida fora do estado. Entregamos a eles uma boa quantidade de Regras impressas, mandadas confeccionar pelo Conselho Municipal de Desportos de Caxias e os endereços dos diversos fabricantes, que nessa ocasião só existiam na Bahia. Não sei se fizeram encomendas ou se mudaram sua maneira de jogar, pois, após nosso regresso não houve mais contatos. E nesse mesmo ano eu fui transferido para Brusque (Santa Catarina), deixando de estar presente na Liga, apesar de continuar a minha participação no campeonato daquele ano, tendo ficado em terceiro lugar no resultado final.
Devo contar aos amigos que, quando da realização do Centro Sul em Caxias, em 2011, o Marcos Barbosa recordou essa nossa partida, realizada em Cachoeira do Sul. Fizemos uma demonstração para a garotada que cercou a mesa. Marcos começou fulminante e o primeiro tempo acabou 3 x 0 para ele. Estava com o pé no acelerador passando por cima do meu Flamenguinho. No segundo tempo, depois de uma carraspana nos jogadores de Caxias, o time voltou com outra mentalidade e acabou virando o jogo para 4 x 3. Até hoje ele não acredita nisso. Estava tão fácil, que ele acabou esquecendo-se de jogar o segundo tempo. Rimos muito disso tudo.
 Jornal do povo de Cachoeira do Sul, comentando o Aberto 45 anos do Jornal do Povo
Esse foi o trabalho de divulgação e devemos sempre agradecer aos amigos das rádios de Caxias, que abriram um horário em que Paulo Valiatti e eu apresentávamos o que rolava pelo futebol de mesa, dando resultados, prognósticos, e até escutando aficionados que ligavam para sugerir alguma coisa. Muitas vezes, fui parado na rua por amigos, dizendo que achavam que estivéssemos falando de campeonato de futebol de campo. Todos escutavam. E também os jornais, pois O Pioneiro sempre dava uma vez, para que pudéssemos convocar para as rodadas e o Guiomar Chies, jornalista que respondia pela sucursal da Folha da Tarde Esportiva, que estava sempre pronto a divulgar, fazendo excelentes matérias de divulgação como a que fez quando em 1968, Airton Dalla Rosa sagrou-se campeão caxiense.
Reportagem da Folha da Tarde Esportiva que percorreu todo nosso Estado, mostrando o mais técnico de nossos botonistas

Jornal local também dava  sua colher de chá aos botonista
Campeonato Brasileiro - Equipe RGS era formada por caxienses
Campeonato Estadual de 1980

Até a semana que vem, se Deus assim permitir

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O RESPEITO E ADMIRAÇÃO DO POVO BRUSQUENSE PARA COM O FUTEBOL DE MESA

O futebol de mesa teve seu início em Brusque no dia 4 de agosto de 1974, quando fundamos a Liga Brusquense, depois denominada de Associação Brusquense. Desde os primeiros passos, foi grande a procura por diversas camadas da população pelos botões, uns tomados pela curiosidade, outros por terem praticado em sua juventude.
Sempre estivemos em zona central e isso facilitava aos curiosos tomar conhecimento daquele esporte que era propalado em todas as rodas sociais da cidade. Eram pais que traziam seus filhos, mas que acabavam jogando, eram filhos que vinham conhecer o esporte com a rádio e o jornal local nos dando cobertura; tornamo-nos bem conhecidos.
1ª Sede - 2º Torneio Proclamação da República - Brusque (SC)
Por três anos ficamos na Rua Ruy Barbosa, em duas salas situadas no primeiro andar do prédio da Família Tensini. Nesse local, realizamos a segunda edição do Torneio Proclamação da República, patrocinado pelo Marcos Zeni e vencido pelo Adaljano Tadeu Cruz Barreto, de Caxias. Com a reforma do prédio desocupamos as salas e nos mudamos para o S. C. Paissandu, desta vez sem custo algum. Ficamos por lá, apoiados pela diretoria e recebemos visitas ilustres como a de Doalcey Bueno de Camargo, que viera narrar um jogo do Vasco da Gama e foi levado pelo José Orlando Battistotti, um forte comerciante local.
Nossa primeira sede, na Rua Ruy Barbosa 33, 1º Andar
2º Torneio Proclamação da República. Sambaquy (e) X  Marcos Zeni (d)
Com a mudança de diretoria do Paissandu, passamos a nossa sede para a parte baixa do Hotel Brusque, também sem custos, desde que providenciássemos um piso nivelado. Para isso recebemos, da Cerâmica Canelinha, as lajotas que foram usadas e que deixaram o ambiente perfeito. Lá realizamos alguns dos torneios com os caxienses que nos prestigiavam sempre: Luiz Ernesto Pizzamiglio, Airton Dalla Rosa e Nelson Prezzi.
Naquele momento, surgiu a ideia da construção da nossa sede, pois em poucos anos havíamos realizado três mudanças, sem contar que iniciamos na AABB, mas como era restrita a funcionários, optamos pela primeira sede. Também colaborou para que essa ideia ganhasse corpo uma enchente que fez com que tivéssemos que subir as mesas para não as perdermos.
Através do presidente Oscar Bernardi e por intermédio do presidente da Câmara de Vereadores, Cesar Gevaerd, recebemos um terreno, nas margens do Itajaí Mirim na confluência com o Rio Guabiruba. Para construir a Associação, emitiu títulos patrimoniais que foram vendidos aos associados e a diversos amigos industriais e comerciantes. Os dois caxienses Pizzamiglio e Airton são proprietários de cotas da sede social.
Foi então que resolvemos alçar voos mais altos. Jogávamos e recebíamos amigos que iam participar de nossas promoções. Nenhum ficava em hotel, pois cada associado era encarregado de hospedar um botonista e sua família. Na minha casa sempre ficou o Pizzamiglio, sua esposa e o Daniel, muito antes de ele se tornar o super campeão.
Associação Brusquense de Futebol de Mesa - Sede Social no Bairro Guarani
Associação Brusquense de Futebol de Mesa - Vista Frontal
Cláudio Schemes sempre nos visitava quando de suas passagens pela cidade. Era mais uma frente que se abria em nossos relacionamentos. Todos gostavam dele, como pessoa e como botonista.
No ano de 1979, copiando a ideia nordestina que realizava seus Nordestões desde os anos sessenta, resolvemos nos arriscar e promover o Sul Brasileiro de Futebol de Mesa. Seria o primeiro e, quem sabe, a ideia vingaria, como de fato vingou, mas com o nome de Centro Sul, pois do Espírito Santo para baixo todos podem participar. Nesse primeiro torneio, realizado na Sociedade Esportiva Bandeirante, convidamos um sergipano, dois cariocas, vários gaúchos (Porto Alegre, Caxias, Pelotas, Santana do Livramento, Jaguarão), vários catarinenses (Florianópolis, Criciúma e Brusque) e um uruguaio de Rivera, trazido pelo Dirnei Bottino Custódio.
O sucesso foi muito grande o que motivou a nos candidatarmos a realizar o campeonato Brasileiro de 1981.
Em 1980, convidado, participei como rotariano do Rotary Club de Brusque, um dos mais antigos de Santa Catarina. Aliás, Brusque tem vários predicados a enaltecê-la: Cidade dos Tecidos, Berço da Fiação Catarinense, Cidade do Clube mais antigo do estado o C. R. Carlos Renaux, que completou cem anos em 2013 e o Rotary, entidade que muito ajudou no crescimento e consolidação da cidade. Membro do clube, em uma reunião, próximo à data da realização do Campeonato Brasileiro, o presidente Manfredo Hoffmann, do alto dos seus quase dois metros de altura, empostando a sua voz anuncia à assembleia: - Companheiros vão escutar o companheiro Sambaquy que vai nos falar sobre o Campeonato Brasileiro de Futebol de Mesa que será realizado em nossa cidade em poucas semanas.
Delegações que participaram do 7º Campeonato Brasileiro - Brusque 1981
Surpreso, pois não havia sido comunicado de que teria de falar àquele povaréu de gente importante: médicos, industriais, comerciantes, juiz de direito, advogados, engenheiros, ex-prefeitos, minhas pernas tremeram literalmente. Consegui levantar da cadeira e procurei manter a calma; afinal, estava ali por méritos reconhecidos por eles mesmos. Falei e acredito que iniciei a minha caminhada rotária naquele momento, chegando até a presidência e à indicação para ser governador do distrito. Contei a eles quem eram os praticantes do futebol de mesa: pessoas com profissões semelhantes a deles, que faziam daquele esporte o seu lazer. Contei sobre a criação da Regra Brasileira e que era um dos que conseguiram esse feito, falei sobre os campeonatos brasileiros, que desde 1970 eram realizados em cidades como Salvador, Recife, Caxias do Sul, Jaguarão, Rio de Janeiro, Vitória, Pelotas e agora Brusque. A escolha era mérito do trabalho dos botonistas que acabavam divulgando o nome de sua cidade pelo Brasil.
Solicitei por fim que apoiassem esse trabalho que ajudaria a promover e fazer mais conhecida a nossa Brusque querida. E fui atendido, pois na abertura do Campeonato contamos com a presença de Deputado Federal Nelson Morro, presidente da Santur; Ciro Gevaerd, Presidente do Rotary e da Soc. Esp. Bandeirante; Manfredo Hoffmann, Prefeito da cidade, Senhor Hilário Merico, presidente da Câmara de Vereadores, uma demonstração da aceitabilidade do nosso esporte na cidade.
Em nossa sede social situada no Bairro Guarany, recebemos diversas autoridades que nos motivaram a lutar para a implantação do futebol de mesa na região, a saber: Deputado Júlio Cesar, Dr. Ênio Branco, chefe da Casa Civil do Governador Jorge Bornhausen, presidente da Câmara de Vereadores de Brusque; Cesar Gevaerd, presidente da SANTUR e ex-prefeito de Brusque, Ciro Gevaerd, Padre Pedro Paloschi, Claudio Schemes, Geraldo Décourt, José Geraldo Cursino (Taubaté), Antônio Carlos Martins (Rio de Janeiro) ex-presidente da ABFM, Jomar Moura (Bahia) ex-presidente da AFM, Oldemar Seixas (Bahia).
Guarany - Brusque - Dep. Futebol de Mesa
Influenciados, nossos vizinhos do Guarany acabaram criando um departamento de Futebol de Mesa que funcionava maravilhosamente bem, sob a chefia de Jorge Bianchini. Há poucos meses, foi entrevistado pelo programa da ESPN – Loucos por Futebol e, para a minha alegria, em sua sala museu, na Rua Ernesto Bianchini, uma mesa e vários times da Regra Brasileira estavam mostrando que algo restou de bom naquilo tudo.
Jorge Bianchini no Loucos por futebol
Para nossa tristeza, diversas ocorrências fizeram o pessoal desanimar e o movimento foi diminuindo de intensidade, chegando a parar em 1986. Voltou em 1991 e permaneceu até 1997, quando não houve mais nenhum interessado em manter o patrimônio que ficou fechado, até ser emprestado à torcida organizada do Brusque, time que disputa a primeira divisão do catarinense.
Mas, a alegria por parte das pessoas de Brusque, toda vez que as encontro, é sempre a mesma. Foi um tempo de muita promoção e entusiasmo, mas que não encontrou seguidores dispostos a tocar o barco adiante.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A BELEZA DOS TROFÉUS ATUAIS DO FUTEBOL DE MESA


Meus primeiros troféus: os dois de 1963.
 O maior de campeão da AABB e
o
menor como 3º colocado no certame caxiense
Os troféus de premiação para o futebol de mesa estão, a cada dia, mais lindos e deslumbrantes. Bem diferente foi o início de nossa caminhada no começo da década de sessenta, quando tínhamos de nos contentar com as taças fabricadas em Caxias do Sul pela Metalúrgica Abramo Eberle ou pela Metalúrgica Triches. Na época, optávamos pela Metalúrgica Triches, pois eram mais baratas e, com isso, premiávamos mais disputantes. Adquiríamos as tacinhas e as levávamos para a gravação.  Por vezes, as gravações ficavam mais caras que as próprias tacinhas. Medalhas havia, mas nenhuma indicando o esporte praticado. Existia com homenagens ao futebol, vôlei, basquete, xadrez, tênis de mesa ou então as tradicionais Honra ao Mérito. Tenho várias delas guardadas. As medalhas geralmente não recebiam gravações.
Com o tempo foram aparecendo pequenos troféus com as deusas da vitória, as quais eram alvos de nossa cobiça. Eram mais caros, mas também eram mais ambicionados  por todos.
Quando a Mapro resolveu prestigiar o futebol de mesa, cedemos botões para amostras e eles começaram a fabricá-los. Com isso surgiram pequenos troféus idealizados pelos desenhistas da empresa e ofertados às nossas disputas. Sobre uma base de acrílico eles colocavam diversos botões torneados, dando a impressão de um time empilhado, com um jogador de ferro banhado a níquel, encimando-o. Para isso, comprávamos na Metalúrgica Triches as figuras de jogadores, deusas da vitória e criávamos troféus, muitos com base de madeira, mandando-os  tornear em uma marcenaria que fabricava as mesas usadas por nós.
O tempo passou e essa lacuna foi amplamente preenchida, com vários artesões criando verdadeiras obras de arte. Na década de oitenta, recebi de meu amigo Antonio Maria Della Torre um troféu maravilhoso, criado por ele, que consistia em uma mesa de botão com dois times colocados e as traves feitas especialmente para isso, dando um aspecto verdadeiro de uma mesa de futebol. A base era um V, torneado em acrílico, com uma placa para a gravação. Para mim foi o troféu mais original visto em nosso esporte até hoje.
Troféu mais bonito do FM, recebido do Botunice (São Paulo) e confeccionado pelo Antonio Maria Della Torre, presidente da Federação Paulista
A indústria dos troféus cresceu e oferece, na atualidade, taças multicoloridas, cheias de beleza e fugindo do tradicionalismo das taças de metal. O plástico substituiu com vantagem, pois não perdem o brilho e nem a beleza com o passar do tempo.
Nos dois campeonatos brasileiros em que estive à frente dos trabalhos, minha preocupação foi a de conseguir sempre um troféu grandioso e que marcasse o campeão para sempre. Foi assim, em 1972, em Caxias, quando realizamos o terceiro brasileiro, na época Copa do Brasil, e, em 1981, por ocasião do campeonato realizado em Brusque. Esse foi ofertado por uma empresa de fabricação de toalhas e tinha um metro e meio de altura. O campeão daquele ano, Hosaná Sanches, não teve condições de levá-lo para a Bahia. Tivemos de enviar via rodoviária, depois de mandar confeccionar uma embalagem de madeira para acondicioná-lo. Acredito que, até hoje, o Hosaná não tenha recebido nenhum troféu que ultrapassasse aquele em altura.
Selecionei algumas fotos de troféus para ilustrar a beleza que, atualmente, podemos encontrar em competições. Isso sem falar nas fabricações de troféus especiais para premiações, com fotografias de pessoas homenageadas, como o troféu Zig Zig, o botonista mais antigo de Recife, morto há pouco tempo e que serviu de premiação ao pessoal pernambucano. Na Regra Botãobol, também de Recife, foi disputado no ano passado o troféu Chico Barbosa, vencido com muita emoção por seu filho, que chorou ao receber das mãos do presidente Abiud Gomes, o premio maior.
Troféu Campeonato Pernambucano em homenagem ao botonista mais antigo de Recife, falecido pouco tempo antes.O famoso Zig-Zig

Zig Zig o mais antigo botonista de Pernambuco
Troféu Chico Barbosa no campeonato da Regra pernambucana (Botãobol), do ano passado
Em Caxias foi disputado um Torneio em 2011, denominado Copa dos Campeões, com um troféu projetado pelo Rogério Prezzi, onde apareciam todos os campeões daquele ano. Troféu diferente, mas de um valor imenso.
Troféu Copa dos Campeões de 2011, criação ao "artista caxiense" Rogério Prezzi
Em Itajaí, foi realizado um Mundialito de Seleções e os troféus foram ofertados pela empresa Botão Fábrica, mostrando como base um campo de jogo; ao lado esquerdo, uma placa com o fundo expondo o globo terrestre e, no lado direito, um botão com o emblema do Atlântico Sul Futebol de Mesa; na parte de cima e em baixo, diversas bolinhas representando os emblemas de cada seleção. Troféus diferentes, mas que revelam o esporte que praticamos, dando ênfase ao seu valor. Com o tempo, a mudança foi grande e sempre para melhor. Que continue assim.
Troféu Mundialito de seleções, disputado em Itajaí (SC)
Troféus Marcilio Dias (Itajaí)
MAIS ALGUNS EXEMPLOS DE TROFÉUS DE FUTEBOL DE MESA
TROFÉUS DA LIGA INGLESA Porto Alegre
Troféus FM Regra Gaúcha (Porto Alegre)
Troféu Copa PRIMOS, tradicional torneio da AFM
Troféus da Espanha

Troféus AFUMEPA, de Cascavel
Yasmin e Vitor, os meus troféus mais valiosos
Mais belos troféus do Futebol de Mesa
Flavio Lisa exibindo os troféus de campeão de 2013 e 1970 (esse ganho por seu pai Átila Lisa)

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O PRECONCEITO RACIAL NO FUTEBOL

Meus amigos, o tema de hoje não é futebol de mesa. É sobre o preconceito que existia há algum tempo em nosso futebol.
Sou natural de Caxias do Sul, cidade colonizada por italianos, todos claros. E assim foi nos primeiros tempos, até aparecerem escravos libertos pela Lei Áurea.
E o futebol de Caxias, segundo História de Caxias do Sul (4º tomo) de João Spadari Adami e Assim na Terra como no Céu de Francisco Michielin, mostram que a criação do Juventude, clube pioneiro ainda em atividade foi composta por arianos. Em uma foto da primeira equipe do Juventude estava constituída por João Sambaquy (técnico), José Grossi, Adelmar Reis, Otávio reis, ajoelhados Carlos Zachera, Oswaldo Ártico (Mirim) e Francisco Frosi, sentados: João Costamilan, Francisco Chiaradia (Nico), o inglês Tibits, Honorino Sartori e Guido Chitolina.
Esse é o 1º  time do Juventude, de 1913. O de gravatinha borboleta é tio do meu pai.
Como eu iniciei a acompanhar o futebol em 1947, o primeiro negro que vi jogar foi o Machado, centro médio do Flamengo (hoje Caxias). E como jogava o Machadinho, era um mestre regendo uma orquestra. Naquele ano, foram os campeões da cidade e me tornei torcedor flamenguista, desde então.

Flamengo, glorioso campeão de 1947, com Machado o único pretinho do time
Mais tarde, surgiram vários jogadores negros que marcaram suas trajetórias em terras caxienses e que estão guardados no coração dos velhos torcedores das duas equipes que restaram no futebol caxiense.
Em Porto Alegre, por essa época reinava o Internacional, com o famoso Rolo Compressor. A origem disso tudo foi, conforme escrito por Ruy Carlos Ostermann, em seu livro, “Meu Coração é Vermelho” que o clube haveria de ser agora um time de jogadores profissionais, eleitos pela habilidade em jogar futebol, já não mais importando a posição da família ou o registro do nome. Vinham jogadores das ligas da periferia e traziam consigo os primeiros “torcedores”, aficionados do futebol, dos melhores jogadores e que se afeiçoavam ao clube que os recebia e lhes oferecia a camisa vermelha e branca. Eram moradores de bairros pobres e, para eles, com certeza, o clube estava assumindo um compromisso histórico de fidelidade. Eram jogadores como foi Tupan, que jogava nos times da Liga da Canela Preta e foi contratado pelo Internacional em 1934. E logo que podia Tupan ia visitar seus amigos de bairro, bem vestido, paletó, calça frisada, sapato branco e camisa de cores. Era a comprovação deslumbrada do que o futebol poderia fazer por um garoto pobre, o que emancipou o sonho de muitos deles e tornou o futebol ainda mais popular. Tesourinha é quem conta que todos os jovens do Areal da Baronesa, como ele, quando jogavam suas peladas queriam ser o “Tupan do Internacional”. E os sonhos se realizaram. Com eles o Rolo Compressor que reinou por muitos anos no Rio Grande do Sul, conquistando os campeonatos e 1940, 41, 42, 43, 44, 45 sem tomar conhecimento dos seus adversários.
Naquela época, quando o Internacional ou o Grêmio iam jogar em Caxias, a festa começava uma ou mais semanas antes. No dia do jogo, o pessoal ia esperar a delegação com rojões. Os estádios se enchiam de torcedores. Era uma festa imensa.
Entretanto, como caxiense, guardo uma mágoa de um episódio acontecido num desses anos. O Inter jogaria em Caxias e havia chegado antes, tendo ficado hospedado em um hotel central. Tesourinha e Adãozinho dirigiram-se a uma barbearia, ao lado do Cinema Central, na Praça Dante Alighieri. Queriam barbear-se. Entretanto, o barbeiro lhes barrou a entrada, afirmando que não atendia pessoas negras. Foi um vexame, explorado pelas rádios e jornais da época. Fiquei envergonhado com a atitude racista do barbeiro e nunca mais entrei em sua barbearia.
O Grêmio, também segundo Ruy Carlos Ostermann, no livro “Até à Pé nós Iremos”, o clube conseguiu quebrar a barreira vergonhosa que ostentava de nunca haver tido um jogador negro em suas fileiras. Era o ano de 1951, e Natal Vanzelotti afirmava ao Rui: “Já era para o Grêmio ter quebrado a tradição em 1949, quando nós fomos para a América Central. Era para ter sido o Salvador, que estava recém começando no Força e Luz. Não sei se ele ficou com medo, era para ser o primeiro negro e quebrar a tradição no Grêmio. Aí veio o Tesourinha, do Vasco. Estreou contra o Juventude, em Caxias. Foi o maior número de ônibus de torcida para a Serra Gaúcha.
Tesourinha não foi uma decisão fácil de concretizar. Ele havia deixado o Vasco e estava com a família em Porto Alegre, treinando com seus amigos do Nacional, na Chácara das Camélias e há três meses sem jogar profissionalmente. Foi convencido por Aparício Viana e Silva, num encontro demorado na Praça da Alfândega, e acenou, com relutância e medo, concordando em seu o negro famoso que serviria, por seu exemplo, para mudar a história do Grêmio. Sofreu muito com essa decisão, pois torcedores que o adoravam quando jogador do Inter jogavam pedras no telhado de sua casa, quebraram vidros, faziam ameaças, diziam grosserias e ele esteve a ponto de desistir da ideia. Mas, Saturnino Vanzelotti afirmou-lhe: - Você não vai me fazer isso. Você tem palavra. Eu sempre disse que os de sua raça eram melhores do que os outros. Você vai me desmentir? Diz-me o que você precisa. Eu levo você para a minha casa, eu faço o que você quiser.
O grande Tesourinha foi um dos maiores jogadores que o futebol do RGS já produziu
Graças a essa determinação, acabou-se a triste sina que havia no tradicional clube gaúcho, que até hoje enaltece uma grande quantidade de atletas negros que honraram o manto tricolor: Everaldo, Airton, Ortunho, Juarez, Alcindo, Tarcisio, Paulo Isidoro.
Então, para culminar as palavras da Saturnino Vanzelotti, surgia um 10 negro, que seria o maior de todos os futebolistas do mundo. O Rei do Futebol: Pelé.


Até a semana que vem, se Deus permitir.