domingo, 24 de fevereiro de 2013

GUIDO GARCIA – UM NOME A SER ENALTECIDO PARA SEMPRE


Meus amigos, no dia 18 de fevereiro, o amigão Guido Garcia comemorou mais um aniversário. Nada de novo, pois todos nós comemoramos os nossos aniversários em data determinadas pelo nosso nascimento. Mas, essa data é especial, pois é o aniversário de uma pessoa maravilhosa e que muito fez e tem feito pelo nosso esporte.
Guido Garcia, bi-campeão brasileiro, títulos conquistados em Natal e Vitória, nos anos de 1994 e 1995, logo após uma tragédia interferir em sua vida de modo dramático, mostra-nos como deve ser a superação. Tenho certeza de que nenhum de nós sofreu o trauma que esse amigo teve de enfrentar, mostrando a fragilidade de nossa vida física diante da espiritualidade. Mesmo assim, amparado por amigos leais, foi, viu e venceu.
Nem por isso perdeu a sua simplicidade, seu ar constante de tranqüilidade, nem deixou a soberba assumir lugar em sua vida. Continuou o mesmo, amigo fiel e incentivador a todos os praticantes de nosso esporte. É um exemplo vivo de como deve ser o botonista que ama o que escolheu para praticar. Um exemplo para todos nós que o admiramos e respeitamos por sua conduta impecável e sua  amizade   valorizada.
Fui beneficiado por sua bondade natural, quando escolhi uma maleta para a guarda de meus botões. Como havia voltado a jogar na regra de doze toques, escolhi colocar dois tipos de botões, enviando-lhe as medidas de cada um deles. E tudo veio perfeitamente de acordo com o que eu havia planejado.
Mas, a surpresa maior ainda estava por acontecer. Ao tentar saber o valor de meu débito para com ele, fui informado que se tratava de um presente. E que presente maravilhoso estava ganhando dessa fábula de nosso esporte. São gestos assim que mostram a grandeza de um homem, pois se fiz a encomenda, sabia que teria um custo e estava disposto a pagá-lo. Mas, ele foi irredutível. É um presente. E no seu blog, ao descrever a maleta de Adauto Celso Sambaquy, escreveu:
“Raras vezes verão nesse blog uma referência à pessoa dos quais tenho a honra de confeccionar um equipamento para a prática do futebol de mesa – seja uma simples régua, palheta ou uma maleta. Todas são importantes para mim. São amigos que confiaram no meu trabalho. No entanto não posso deixar passar a oportunidade de dividir com todo o público que visita a minha página, a satisfação, a honra, de poder privar da companhia (mesmo que virtual) de uma personalidade do quilate de Adauto Celso Sambaquy. Esse homem é nada mais, nada menos do que o responsável pela introdução da regra brasileira – a regra baiana, como é conhecida popularmente – no Rio Grande do Sul. Ele já contou em sua coluna do Futmesa Brasil, por exemplo, de como foi a Bahia numa época totalmente diferente dos dias de hoje e lá assinou o primeiro livro de regras da modalidade. A história é extensa e recomendo a todos que se interessam em saber a história do futebol de mesa, que leiam suas colunas no site que referi. A verdade que isso tudo que existe – Federação gaúcha, regras compiladas, Campeonato Brasileiro, enfim ... tudo que nos faz tão feliz e apaixonados pelo esporte, deve-se ao árduo trabalho de Adauto Celso Sambaquy. Essa figura humilde, que guardava seus times em embalagens costuradas por sua esposa, merece todo o nosso reconhecimento, o nosso aplauso , a nossa gratidão. Com esse pensamento, confeccionei a maleta abaixo. Não está a altura de sua grandeza, mas foi uma simples maneira que encontrei de homenageá-lo e mostrar meu sentimento. Obrigado, Adauto, por ter feito tudo isso que hoje nos faz feliz.”

Escrevi uma crônica homenageando-o, que foi publicada no blog Futmesa Brasil, ao que ele respondeu, através de um e-mail em 04 de março de 2011, dizendo entre outras coisas:
“Meu querido amigo, história viva do futebol de mesa!
Teria talvez, que escrever extensamente, divagando sobre tudo – futebol de mesa, seria o prato principal. Mas vou tentar ser simples e preciso.
O futebol de mesa me proporcionou imensas alegrias. Se tentasse enumerá-las talvez não conseguisse reunir todas – desde os sonhos de menino, até o inúmeros amigos que fiz e tenho até hoje.
Mas, ficaria com uma que resume tudo. Em 1993 perdi um filho de cinco anos num acidente na piscina de minha casa. Não preciso te dizer que meu mundo acabou naquele instante em que o retirei daquelas águas. Meus amigos, em especial do futebol de mesa, me abraçaram e me levaram a disputar o Campeonato Brasileiro de 1994, em Natal. Deus guiou minhas mãos  e os anjos traçaram a minha sorte – ganhei o título. Isso, por si só, já dá a dimensão do que o esporte representou em minha vida. Pois bem, se não fosse por obra de diversos abnegados  - dentre eles ADAUTO CELSO SAMBAQUY – eu não teria talvez a oportunidade de praticar a regra brasileira que ajudaste a introduzir no Rio Grande do Sul. Não teria a regra – meu primeiro livro de regras (que conservo até hoje) traz a sua assinatura. Não teria granjeado a infinidade de amigos que jogam “botão”. Enfim... como te disse teria muito a falar.
Nada mais justo do que  um humilde praticante dessa regra pela qual tanto trabalhaste, tentasse te homenagear com um simples presente.
Não ficou que queria ou pretendia, mas tua alegria já me satisfaz.
Aceita, meu querido amigo, a materialização pueril de meu mais profundo reconhecimento pelo que fizeste pelo nosso esporte. Me sinto honrado em ter tido essa oportunidade, em te dizer um pouco de tudo que penso a teu respeito e de tua obra em prol do Futebol de Mesa. Um abração”
Por tudo isso, nesse dia especial em que comemoras mais um aniversário, querido amigo Guido, saibas que no fundo de meu coração brotou uma prece ao Senhor, pedindo por sua felicidade e pela realização de todos os sonhos que ainda estão latentes em você. Obrigado por ser meu amigo e por me considerar da forma como o fazes. Pessoas como você é que fazem a diferença nesse nosso mundo.
Galeria de Fotos Guido Garcia:
Guido e seu discípulo mais eficiente: Robson Bauer
Guido e Clair no XXIX Centro Sul - Caxias do Sul
Sempre recebendo Troféus - com a Equipe HPC /Sta Vitória do Plamar  (4º Lugar em 2012)
Sempre recebendo troféus...  Guido Campeão Gaúcho de Equipes 2011
Até a semana que vem, se Deus permitir.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

... NO INÍCIO ERA CELOTEX, HOJE BOTÃOBOL...


Meus amigos, hoje lhes falarei de uma modalidade de futebol de mesa que exige uma habilidade imensa e que retrata o movimento inicial de Geraldo Cardoso Décourt. Trata-se do Botãobol ou Regra Pernambucana, tratada pelos seus adeptos como a Rainha das Regras.
A regra surgiu, ao que tudo indica, nos idos de 1940, à Rua Barão de São Borja, no bairro Boa Vista, na residência de Aldiro Santos, mas se pode dizer, sem sombras de dúvidas, ser o maior nome do celotex de todos os tempos. Seus primeiros praticantes foram Armando Francisco, conhecido entre seus amigos como “Cabeça de Ataúde”, Pedrinho Palmatória, Vilaça, Chico Aborto Barbosa, Mário Sandes, Severino Vieira, René Cezar, esse oriundo do bairro São José, onde se jogava o celotex na regra chamada de “pingue-pongue”.
Com a mudança de residência de Aldiro Santos, passaram a jogar em sua nova residência, à Rua Montevidéu, também na Boa Vista. Passou a ser jogada também na Rua da Glória, naquele bairro, na residência dos familiares de Severino Vieira, já nos anos 50.
Nova safra de botonistas surge: Gilvan Carvalho, Humberto Simons, Clóvis Sandes, Fernando “Gordo da Pipoca”, Adão Pinheiro que, juntamente, com os decanos, passaram a difundir a regra em outros bairros de Recife.
Destaque maior foi para o bairro de Estância onde pontificavam nomes como o de Lula Pesão, Hemetério, seu irmão mais novo, Paulo Felinto Gouveia de Albuquerque, o mais fanático praticante do celotex de Recife, seus primos Murilo, Aldênio e Rominho que praticavam a regra “leva-leva”.
Somente no início dos anos 60, com a união de vários grupos de botonistas foi adotada definitivamente a Regra da Boa Vista, a famosa regra da bola de borracha, da tabelinha.
Destaque para os botonistas Valdir Santa Clara, Valterlys, os irmãos Abdon e Abiud e a nova safra: Ribamar, Marcos Securinha, Tuca, Silvio Romero, Adilson, Paulinho, Nadilson, entre outros. Muitos desses botonistas se espalharam, sendo que alguns já fizeram a grande viagem e outros deixaram de jogar. Mas os que continuaram levaram a sério a prática do celotex e procuram fazer com que as novas gerações perpetuem o futebol de mesa, nome pelo qual vai ficando conhecido.
Foi de propósito de que se deixou de citar Armando Francisco, o “Armandinho”, filho de um dos pioneiros do celotex e que deu uma dinâmica maior ao esporte, mesmo utilizando outra regra, fazendo com que o jogo de botões conseguisse mais e mais adeptos. Graças à atuação desse maravilhoso botonista, a Regra da Boa Vista foi levada para as dependências do Santa Cruz Futebol Clube, onde terá grande expansão.
A Regra da Boa Vista, ou Pernambucana, ou então Botãobol viveu seu período áureo, no Recife, na década de 60. Depois, foi uma longa pausa, somente retornando nos anos 90. Seus adeptos, entretanto, frequentavam os terraços e quintais de alguns amigos, jogando inúmeras partidas de botão. A volta com força total foi em 1999, já no Santa Cruz, com a Regra de 12 Toques. Com muito esforço, os amantes do celotex conseguiram introduzir uma mesa. Depois, tudo ficou mais fácil. Acabaram engolindo a Regra de 12 toques e criaram a Associação Pernambucana de Futebol de Mesa, isso em 2002. A partir daí, nunca mais pararam.
Regra Pernambucana, a garotada reunida para comemorar...
O Quadro de Competições, recebidos de seu presidente Abiud Gomes, apresenta, desde o ano 2000, mais de noventa competições, variando o nome de seus competidores, o que atesta a paridade que existe entre seus praticantes.
O Presidente ABIUD na entrega dos prêmios aos vencedores do Campeonato
Pernambucano de 2012 (Troféu Chico Barbosa)
Acompanho assiduamente dois Blogs pernambucanos: “A Marreta” e “Chelsea F. M.”, dos botonistas Abiud Gomes e Hugo Alexandre. A Marreta foi criada como uma brincadeira que servia de motivação para os torneios e campeonatos que aconteciam no Bairro da Estância, onde Abiud morava. As edições datilografadas eram levadas todos os sábados para o local de jogos, que era na casa de seu irmão Abdon, já falecido, onde havia um campo. Com a Internet, influenciado pelos seus filhos, aderiu ao blog, que acabou herdando o nome do informativo. O lema do jornaleco era: a luta eterna pela sobrevivência do celotex.
Troféu Chico Barbosa
Em ambos são descritas em detalhes as partidas da rodada. Acompanhei o último campeonato, iniciado em 2012 e terminado no dia 2 de fevereiro de 2013, que destinaria ao campeão o troféu CHICO BARBOSA. O mesmo nome de um dos decanos que iniciaram a prática nos anos 40. Rodada a rodada, termina o primeiro turno com a vitória do Chelsea, de Hugo Alexandre. Classificaram-se os melhores colocados para a disputa da chave ouro e os demais para a prata. Se vencesse, o Chelsea seria campeão antecipado. Foi então que surgiu Marcos Antonio Silva, carinhosamente chamado de Marcos Bundão pelos seus camaradas e com o seu Botafogo foi destruindo os sonhos de todos os adversários. Venceu de forma invicta a chave Ouro e, com a vantagem do empate, foi decidir com o Hugo Alexandre o campeonato de 2012.
Lance da final Botafogo x Chelsea
Mário fazendo seu Botafogo "pegar fogo"
 Lendo a descrição da partida, tanto na Marreta como no blog do Chelsea, sentimos que deve ter sido um jogo arrepiante, cujo resultado final 5 x 5 mostra a gana que motivava os dois adversários. Chegou a estar 5 x 3 para Marcos, mas Hugo Alexandre conseguiu empatar pouco antes do toque final do relógio. Como o empate favorecia o Botafogo, o troféu Chico Barbosa descansa em sua galeria. Mas o detalhe mais importante disso tudo, e que não pode passar despercebido, é que o campeão recebeu o troféu que homenageava seu pai que o introduziu no futebol de mesa. Não é necessário dizer que lágrimas correram de muitos olhos.
Bota Campeão, recebendo o troféu com o nome de seu pai. Emocionante...
Olhando e admirando as fotos, vejo um grupo de pessoas de minha geração, cabeças brancas que jogam e brincam como se fossem meninotes. Então, temo pela continuidade do Botãobol, pois cada um de nós tem o seu tempo definido pelo Criador. Dentro de mais alguns anos serão poucos os que o praticarão. Sugiro aos amigos pernambucanos que carreguem seus netos, os amigos de seus netos e lhes ensinem esse espetacular esporte,  pois só sobreviverá o Botãobol, se for herdado por uma nova geração. Falo isso com a experiência de ter levado, em 1970, por ocasião do Primeiro Campeonato Brasileiro realizado em Salvador, três meninos que na ocasião contavam com 14/15 anos de idade. Quando saímos de Caxias do Sul, foram eles que deram continuidade ao sonho de uma entidade voltada ao futebol de mesa e, na atualidade, são os filhos deles que administram e jogam em Caxias do Sul.
A idéia gerada por Geraldo Décourt,em 1930, ganhou vida através de muitos meninos, os quais ainda hoje praticam com o mesmo entusiasmo o seu esporte. Por isso, acredito que não será difícil encontrar meninos que continuem a sua luta e ajudem na divulgação dessa regra que exige muito controle e perfeição no manejo da bolinha de borracha.
Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

domingo, 10 de fevereiro de 2013

OS PRIMEIROS TROFÉUS


Quando as disputas foram organizadas e iniciamos os campeonatos, fez-se necessário a destinação de prêmios aos vencedores. E as primeiras escolhas recaíram sobre taças que representavam aquilo que, quando meninos, admirávamos na sede do Juventude ou do Flamengo. Prateleiras cheias delas. As taças que eram confeccionadas em nossa cidade, tanto pelo Eberle como pelo Triches, passaram a ser nosso sonho de consumo.
Em nossos campeonatos, não havia cobrança de taxa de inscrição. Todos participavam gratuitamente e isso fazia com que procurássemos outros meios de angariar fundos para as compras das benditas taças. Fizemos um apanhado de preços e verificamos que, apesar de qualidade inferior, os da Triches eram mais convidativos. Foi lá que conseguimos por vários campeonatos abastecer os apetites dos botonistas caxienses.
Só que a variedade não era assim tão grande e começaram a ser repetitivos. O pessoal já olhava com desdém o prêmio e até ficava desestimulado. Urgia uma modificação. E isso foi feito. Na própria Metalúrgica Triches, começamos a adquirir peças individuais. Eram jogadores em posição de chute que, fundidos em metal e banhados em níquel ou cromo, eram-nos vendidos a preços ínfimos. Restava a nós a criatividade.

Pedaços de madeira de lei eram utilizados e neles colocados os jogadores. As peças de madeira, devidamente lixadas, laqueadas, com espaço para a colocação de uma plaquinha gravada, recebiam em seu dorso os jogadores e as bolas. A disputa voltava a ser acirrada para conseguir colocar uma delas em nossas prateleiras. Uma ocasião eu apanhei um pedaço de madeira que meu pai usava para fazer fogo no fogão à lenha, e entreguei a um amigo que tinha um torno, e dali nasceu um pedestal para um jogador, numa disputa de um torneio no Vasco da Gama. Estampo três modelos de troféus dessa época que eram super valorizados.
Quando a MAPRO, empresa que trabalhava com acrílicos (luminosos e seus derivados) que nos patrocinava, pois havíamos acordado com eles a fabricação de botões que seriam vendidos em todo o estado, observou os troféus em madeira, resolveu fabricar pequenos troféus em acrílico. Passaram a comprar os jogadores de metal e faziam a arte final. E assim foi por um bocado de tempo, de 1971 até quando saí de Caxias em 1973. Deles, tenho dois troféus que até hoje encantam quem pratica o nosso esporte. Também estarão sendo mostrados em fotografia nessa página.

Ao sair de Caxias e vir para Santa Catarina, consegui implantar o futebol de mesa na cidade de Brusque. Mas, aqui não havia a Triches para nos fornecer material para a fabricação de troféus e, por essa razão, voltamos ao mercado para a compra em Lojas especializadas em Blumenau, pois, em Brusque, na época ainda ninguém negociava taças, medalhas e troféus.
Hoje, vemos obras de arte sendo distribuídas em cada promoção realizada. Com certeza, os atuais botonistas não encontram as dificuldades que tivemos em nossa jornada, tendo de garimpar prêmios para serem distribuídos em diversas competições. Por isso, não eram muitas as competições que realizávamos no ano.
Além disso, a substituição do metal pelo plástico, além de baratear as peças, dá uma gama de qualidade maravilhosa, pois perdura o brilho das peças por muito mais tempo. Enfim, são outros tempos e a quantidade de competições aumentou, de forma tão imensa, que deve ser obedecido um calendário anual. Nem todos poderão se adequar a ele e, por essa razão, em algumas competições deverão estar de fora; mas os fominhas, aqueles que estão sempre aparecendo nas fotos dos premiados, estarão sempre presentes.
Atualmente, em muitas cidades há fabricantes de prêmios das mais diversas modalidades esportivas. Aqui em Itajaí, existe a METAL SPORT, que confecciona troféus, medalhas e placas personalizadas. Foram eles que criaram a arte e fizeram os diversos troféus dos dois Torneios que levaram o meu nome para o pessoal do Atlântico Sul/Marcílio Dias.  São peças lindas e realçam o futebol de mesa de maneira eloquente, pois em cada uma delas é salientado o nome de nosso esporte. Apresento também as imagens das duas artes.



Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy

domingo, 3 de fevereiro de 2013

AS PRIMEIRAS BOLINHAS USADAS NA REGRA BRASILEIRA.


Ao final da criação da Regra Brasileira, em janeiro de 1967, a bolinha determinada para a prática do futebol de mesa seria um botão denominado “olho de peixe”, que por sinal já era utilizado em todo nordeste brasileiro.
Ao retornarmos ao Rio Grande, trazendo os exemplares da Regra, trouxemos também algumas bolinhas “olho de peixe”, julgando que teríamos facilidade em encontrar nas diversas lojas comerciais de nossa cidade. A verdade é que esse tipo de botão estava sendo abandonado pelos fabricantes, uma vez que as cuecas estavam sendo modificadas e, ao invés de serem abotoadas, usavam elástico na cintura. Com isso, tornaram-se raros os botões que conseguíamos comprar. Alguns ainda recorriam a botões em uso e os trocavam por outro tipo, juntando tudo o que conseguiam para que pudéssemos realizar nossos jogos.
Os poucos botões “olho de peixe” eram cuidadosamente manipulados, pois se tornavam raros. E a dificuldade não era só nossa. Os nordestinos começaram a reclamar da falta da mercadoria nas diversas lojas de suas cidades.
Foi então que fomos surpreendidos pelo nosso querido amigo Raymundo Antonio Rotta Vasques. Como jogávamos aos sábados, cada um de nós que possuía carro passava na casa dos demais para levá-los até as dependências da AABB. Eu sempre chegava cedo e começava a preparar as mesas. Logo em seguida, chegava o Calegari, trazendo o Vasques, seu filho Raymundinho e mais alguns botonistas que encontrava pelo caminho. Vasques colocava uma caixa na mesa e perguntava para todos o que ela continha. Palpites de que continha botões para jogar, papéis para limpar as mesas, etc. Pelo tamanho da caixa deveria ser coisa de tamanho médio.
Para nossa surpresa, Vasques abre a caixa e ela está repleta de “olhos de boi”. Milhares de bolinhas estavam ali, diante de nós, prontas para servirem em nossos jogos. Foi então que a curiosidade se estabeleceu entre todos. Afinal, cada um de nós havia percorrido quase todas as lojas da cidade à procura daquele material e ele aparecia ali com uma quantidade que poderia ser utilizada por algum fabricante de cuecas “samba- canção”.
Vasques, com a sua veia poética, narrou a epopeia dessa conquista. Tendo a manhã livre, dirigiu-se à Loja Pratavieira, portando um botão “olho de boi” na mão perguntou à balconista se ela conseguiria aquele tipo de botão para ele. Ao olhar o botão, a menina apanhou uma caixa e disse que tinha em boa quantidade. Rapidamente, Vasques ordenou que ela embrulhasse a caixa, pois ele levaria tudo. A moça ficou intrigada e perguntou curiosa o que ele faria com tantos botões.
Vasques -  dono de um raciocínio rapidíssimo, olhou para a menina e disse, sério como sempre foi: A minha esposa está fazendo uma bandeira do Brasil e vai bordá-la com esses botões. Vão colorir alguns de verde, outros de amarelo e de azul. Os brancos ficarão como estão. Assim a escola dela apresentará uma bandeira diferente no desfile de Sete de Setembro, pois essa bandeira não tremulará, ficará fixa. Será uma novidade. Você vai ter a oportunidade de ver isso com os seus olhos, quando a escola dela passar.
A menina, convencida da veracidade e da importância do assunto, embrulhou e entregou ao Vasques o tesouro de que todos nós desfrutaríamos.
Para nós, o problema estava resolvido. Cada um ficou com um punhado de botões para os seus treinos, e o restante ficou depositado na AABB.
Mas, para o restante do país, o problema estava ficando cada vez mais grave. Não existiam mais “olhos de peixe” no mercado. E o campeonato brasileiro de 1970 já estava alinhavado pelos baianos. Foi necessária a criação de uma bolinha (disquinho) que se assemelhasse ao “olho de boi”. Um botonista sergipano conseguiu criar esse tipo de bolinha e foi prontamente adotada por todos os praticantes da Regra Brasileira. Recebemos o material oriundo da Bahia, para onde havíamos enviado uma boa quantidade de botõezinhos que, entretanto, ficaram sem uso, pois a adoção do disquinho foi obrigatória a todos nós.
A bolinha utilizada na Regra Gaúcha era côncava e, dependendo do lado que parasse na mesa, não levantava do chão, sendo então impossível fazer gol sobre o arqueiro. Esse nosso disquinho era próprio para ser erguido e cobrir o goleiro, sempre que fosse chutada por um botão atacante.
Para matar a saudade, estou postando o restante que ficou em meu poder de “olhos de boi”, pois  servirá algum dia para ilustrar um museu do futebol de mesa. Afinal, foi com ela que iniciamos a nossa caminhada pelas mesas do Brasil. Na foto, estão os “olhos de boi”, as bolinhas utilizadas na regra gaúcha e os disquinhos, alguns em cores adotadas pela Confederação para os diversos campeonatos realizados.

Recordando a façanha do querido amigo Vasques, companheiro inseparável do Calegari, bate uma saudade de um tempo maravilhoso em que solidificamos amizades, através do futebol de mesa. Saudade de amigos e façanhas incríveis.

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy