segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FINAL DE ANO – MENSAGEM



Há dois anos, escrevi salientando o porquê de não haver um despertador que nos faça acordar em determinada época de nossa vida. Afinal, a evolução tecnológica está sempre desafiando o nosso conhecimento trazendo novidades maravilhosas que ficam à nossa disposição.
Todos nós temos o nosso próprio cinema em casa, com as modernas TVs, podendo assistir o filme que desejarmos, a qualquer hora do dia. Há poucos anos o cinema era mudo, em preto e branco, e funcionava em locais escolhidos, e à noite. Há bem pouco tempo, tínhamos de solicitar à uma telefonista, a ligação para a cidade vizinha, coisa que demorava pelo menos umas seis a oito horas, com grandes dificuldades em escutar o outro lado da linha. Hoje falamos ao mundo inteiro em um pequeno celular, que carregamos em nossos bolsos. Hoje já trocamos coração, fígado, pulmões, rins, olhos, evitando sermos considerados mortos antes do tempo.
Entretanto, tudo isso ainda não conseguiu nos fazer retornar à nossa juventude, aos anos em que nada nos detinha em que desafiávamos a tudo e a todos. Acredito que seja esse o maior enigma que tira o sono dos cientistas e inventores. Por essa razão ainda não existe o tal despertador que nos faça acordar com quinze anos, disposto a viver tudo o que já vivemos novamente.
Será que isso seria bom? Não acredito muito, pois com o tempo, nós fomos adquirindo sabedoria, experiência e, em nossa caminhada nos defrontamos com toda série de pessoas que marcaram nossos passos. Nada do que ficou no passado poderá ser modificado. O que fizemos de bom vai perdurar para sempre, mas nossos erros nos acompanharão indefinidamente, pois a cada erro cometido tivemos a chance de aprender.
E se ao retornar, caso isso fosse possível, será que não nos desvirtuaríamos do caminho que percorremos? Voltando, será que eu encontraria as mesmas pessoas que comigo gostavam de jogar botão? E se não as encontrasse, teria eu perseverado nesse esporte? Teria encontrado tantos amigos, e, com eles sonhado, criado e difundido o futebol de mesa?
São coisas que não fazem mais a minha cabeça. Se escrevi em 27 de dezembro de 2010 sobre essa possibilidade, esses dois anos que se passaram, fizeram mudar meu pensamento.
Na mensagem de final de ano passado, abordei a oportunidade que a vida nos dá de sermos úteis àqueles que nos são afins. Baseado nesse princípio, que afugenta a hipótese egoísta de voltar ao passado e fazer a caminhada novamente, vejo-me como sendo uma pessoa útil aos meus amigos botonistas. Hoje eu não consigo mais ser competitivo, pois me falta o vigor, tão necessário para continuar na luta por títulos. Mas, sobra-me a vontade de ajudar, de incentivar e de mostrar a todos o quão foi difícil essa caminhada. Caminhada em um tempo cheio de contrariedades, dificuldades imensas tanto no sentido de divulgação como no sentido de apoio e incentivo.
Hoje, com o advento da Internet, a comunicação tornou-se imediata. Falamos com o mundo num piscar de olhos, mostramos fotos e filmes no momento em que os eventos estão sendo realizados. Hoje, existem pessoas envolvidas no mercado que o futebol de mesa fez nascer. Fabricam-se botões, goleiros, mesas, réguas, bolinhas, troféus dando chances para que pessoas possam viver disso, criando suas famílias, graças ao sonho de alguns idealistas que pensavam alto no desejo de reunir brasileiros de norte ao sul, do oeste ao leste.
E vendo isso, fruto do esforço voluntário de botonistas anônimos, sinto que não haveria necessidade de voltar e fazer coisas diferentes. O mundo é assim mesmo. Fizemos essa gigantesca roda girar e isso nos basta.
A minha vida está ligada indelevelmente ao futebol de mesa. Meu tempo está ficando menor, tenho certeza disso, pois numa relação de adversários que constam em meu arquivo de jogos, quarenta e três amigos já partiram para o mundo espiritual. A cada ano, novas surpresas e tristezas que nos invadem, pois mais um nos deixa, teimando em disputar o campeonato celestial. Como será quando lá chegarmos? Quem nos receberá?

Por isso, meus amigos botonistas, desejo que 2013 seja um ano pleno de realizações, nas quais vocês possam abraçar aquelas pessoas que sonham da mesma maneira que vocês o fazem. Abracem, pois não sabemos se teremos uma nova oportunidade, uma nova ocasião. Aproveitem para rir bastante, para recordar bons e maus momentos, desfrutem dessa amizade que o futebol de mesa proporcionou a vocês e sejam felizes.

Feliz 2013 a todos vocês e até a semana que vem, se Deus assim permitir.


Sambaquy

domingo, 23 de dezembro de 2012

VICENTE SACCO NETTO PRIMEIRO CAMPEÃO GAÚCHO DE FM - PARTE DOIS



Caxias do Sul.
Considero-me um nômade por excelência e tenho andado de uma a outra banda. Como dizia o poeta gaúcho, Marco Aurélio Campos, “Se a inspiração me comanda, da trilha logo me afasto e até semente do pasto replanto pelas estradas velhas, vermelhas, ao repisar no meu rasto”.
Em 1965, no mês de dezembro, aportei em Caxias do Sul. Levei comigo alguns poucos botões para alguma eventualidade, sem muita esperança, pois, afinal de contas, não conhecia ninguém lá. Erro de previsão, felizmente. Logo nos primeiros dias, conheci um cara que se tornou o meu, NÃO UM MEU, MAS O meu amigo, COMPADRE E IRMÃO DE VERDADE. Passei a desfrutar do seu generoso e agradável convívio e descobrimos algumas facetas em comum: éramos desportistas, adeptos do futebol de mesa e praticantes da fraternidade humana. Seu nome: Adauto Celso Sambaquy. Seu time: Flamengo, de Caxias. Que achado! Passei a ter um amigo em todos os momentos e aquele joguinho de botão atingiu proporções inimagináveis, transformando-se em Futebol de Mesa. Através do Samba, tomei contato com outros maravilhosos parceiros, como Chicão, o Mazzochi, o Vanazzi, o Heitor, o Grazziotin, o Paulo Fabião, o Schumacher, os irmãos Valiatti, o Pizzamiglio, o Airton, o Guizoni, o Sérgio, o Puccinelli, o Vasques e tantos outros. Dois deles, principalmente, tornaram-se marcantes pelo espírito esportivo: Sergio Calegari e Raimundo Vasques. Devo ter omito algum nome. Penitencio-me por isso. Havia dois meninos que nos acompanhavam como torcedores: o Ric e o Dalla Rosa. Este último arrebatou-me o título de campeão Estadual em 1975, na cidade de Jaguarão.
Em determinado momento, o Samba, depois de excursionar com seu time até a Bahia, oportunizou-nos o recebimento de Oldemar Seixas e do Ademar Carvalho que vieram lá da Boa Terra e nos deram verdadeira demonstração de seu talento como botonistas. Aliás, lá em 1966 já tínhamos os nossos times, que eram fabricados com acrílico e estampado  neles, as camisetas das respectivas equipes. Que maravilha! O Futebol de Mesa praticado como entretenimento – como de fato o é – aproxima as pessoas e lhes transmite muitas lições de desportividade e respeito. É ideal para os jovens, pois é uma prática sadia. O resultado dos jogos fica em plano secundário, colocando-se a convivência como ponto primordial. Sou muito grato ao Sambaquy e, é claro, ao restante da parceria de Caxias do Sul, de onde levei o esporte para Canguçú. Até hoje, sem interrupções, os canguçuenses praticam este esporte, cujas competições são ponto de destaque nos festejos de aniversário da cidade e na Semana da Pátria.
Quanto a mim, estava “adormecido” até ontem. Sim, até ontem! Hoje, encontro-me inclinado a voltar, nem que seja para rever a parceria e reabraçar uma prática que me acompanhou por mais de sessenta anos. Sabem por que devo voltar? Pois é, recebi um carinhoso telefonema do Adauto Sambaquy aconselhando-me a retornar às lides botonísticas. Foi mais longe, enviando um gentil confrade, o Luís, que me dirigiu um convite para jogar no Círculo Operário de Pelotas. Meus “atletas” já estão concentrados e devidamente parafinados.
Não tenho mais comigo as inúmeras fotos das competições e da parceria. Não tenho mais os meus troféus nem os meus velhos botões de minha fabricação. Uma enchente no ano de 2009 levou tudo por diante, até a minha mesa de botão. Levou muito mais, mas... é bom nem falar a respeito.
A voz do Sambaquy ao telefone, tão familiar, tão amiga, tão carinhosa, cutucou o coração deste vulcão inativo. Estou expelindo cinzas pelos poros e revivendo tantos momentos felizes e agradáveis. Fases da vida que me deixaram profundas e indeléveis marcas na alma e no coração. Para falar a verdade, essas marcas, inapagáveis, são muito semelhantes às daquela significativa parede.

Eu daria tudo que tivesse
Pra voltar aos tempos de criança
Ah! Meu Deus, por que a gente cresce?
Se não sai do peito essa lembrança.

Aos domingos missa na matriz
Da cidadezinha onde nasci
Ah! Meu Deus eu era tão feliz
No meu pequenino Mirai

Que saudade da professorinha
Que me ensinou o “bê a bá”
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?

Eu igual a toda meninada
Quanta travessura eu fazia
JOGO DE BOTÃO PELA CALÇADA
EU ERA FELIZ E NÃO SABIA.
(Música: Mirai – autor Ataulfo Alves)

Meus amigos leitores, para culminar tudo isso, quando da realização do Brasileiro, em Salvador, recebo um telefonema do Vicente, anunciando que a minha caixa postal estava cheia e os e-mails estavam voltando. Naquele momento, coloquei no celular o Oldemar Seixas que o saudou com efusão. Depois disso, ainda conversamos por mais duas vezes, sendo que o Vicente estava interessado em adquirir um São Paulo, nos moldes atuais, pois os botões que usávamos eram mais altos e menores em circunferência. Pediu-me que comprasse um, exposto pelos diversos fabricantes, mas, orientado pelo Enio Durante, nosso colega de Banco do Brasil, a indicação recaiu sobre Adilson Montenegro, que está produzindo verdadeiras obras de arte. E o Vicente merece ter uma obra de arte em suas mãos vencedoras. O próprio Enio está encarregado de receber o time e levá-lo para Pelotas, realizando mais esse sonho do menino que marcou a parede de cimento penteado de sua infância, com a criação de tantos craques que povoaram seus sonhos juvenis.
Fico feliz em falar nessa pessoa maravilhosa que cruzou seu caminho com o meu. Esse irmão que a vida me concedeu e que faz parte de minha família, pois é padrinho de minha filha Virginia.
Vicente recebe premiação na Taça Brasil em Caxias do Sul
Vicente Sacco nos dias de hoje ao lado de sua esposa  Regina

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

domingo, 16 de dezembro de 2012

VICENTE SACCO NETTO – PRIMEIRO CAMPEÃO ESTADUAL EM 1973. – PRIMEIRA PARTE.


Em 02 de maio de 2011, escrevi sobre esse grande botonista, meu irmão/amigo/compadre/colega que aportou em Caxias no ano de 1965 e, em 1968, foi transferido para Canguçú, sendo o grande propagador do futebol de mesa no sul do estado. Em 26 de novembro de 2011, enviou-me um retrospecto de sua vida de botonista e, sem a sua autorização, reproduzi-lo-ei, pois é algo que não pode ficar restrito somente em meu arquivo.
Torneio demonstrativo da Regra Brasileira realizado em Canguçu
Marcas profundas e indeléveis. Ah, sim! Aquelas marcas, eu as conheço muito bem! Pois foi naquela mesma calçada da rua onde passei boa parte de minha infância e, também, da minha adolescência, que me pus a refletir. Há poucos dias, lá estive e não havia outra. Sempre sou acometido pela nostalgia quando volto àquele quarteirão. Paro por alguns minutos e a mente vagueia; a casa onde morei está como eu, desgastada pelo tempo... envelheceu. Mas, as marcas ou sulcos nas paredes da casa contígua – aquelas marcas estão muito nítidas.
Com efeito, há muitas razões para que permaneçam. Explico: naquelas paredes foram forjados os maiores “craques” na minha imaginação de guri. Parece incrível, nos botões a gente enxerga a própria pessoa do futebolista. Comecei aos seis anos de idade, com as tampas de vidros de remédio, de brilhantina Royal Briar, de creme Antisardina e, até mesmo, com tampinhas de garrafas. Num belo dia, minha mãe – que Deus a tenha – incumbiu-me de levar um bilhete à senhora que lhe encomendara um vestido (minha mãe, Chiquinha, era costureira, e das melhores). O bilhete continha o seguinte teor: “Da. Alzira mande, pelo Vincetinho, uns seis botões daqueles que combinamos usar no seu traje.” Da. Alzira – não sei por que razão – entregou-me um pacotinho com sete botões. Eram das minhas cores prediletas, ou seja, vermelho nas bordas e, no centro, um círculo preto. Naquela época, década de cinquenta, o G. E. Brasil (grande Xavante) contava com um ponteiro direito de nome Mortosa (tio do atual assistente do Felipão), famoso por desferir chutes fortíssimos. Não hesitei um instante. Entreguei o pacotinho à minha mãe e o sétimo botão, o Mortosa, acompanhou-me até a calçada e, de lá à parede de cimento penteado. Com muito esmero, dei-lhe uma caída apropriada para que pudesse arremessar a bolinha, botão de bragueta, por cima dos goleiros (caixa de fósforos com chumbo por dentro) adversários. O calendário da casa ou folhinha, como se dizia, ficou com um furo de tesoura no espaço do número sete. E o Mortosa não me decepcionou. Ao contrário, tornou-se o goleador do time. Aquele fato desencadeou um processo ininterrupto de muitas décadas, pois cheguei à conclusão de que as tampinhas não davam melhor retorno. Aderi aos botões de casaco ou sobretudo. Passei a frequentar a casa de um alfaiate amigo da família, sempre que tivesse oportunidade. Dizia-me o Sr. Antonio Cordias: - “Vicentinho cuida da porta para mim, que vou tomar um café e já volto”. Pode ir, Seu Antonio. E me dirigia para as caixas de botões no estoque das prateleiras. Surgiram, assim, o Tibiriçá, o Seara, o Manoelzinho, o Tábua e outros tantos grandes jogadores. Mas, no futebol de botões, como no de campo, a competitividade não tem limites e logo surgiram os ioiôs. Os discos dos ioiôs tinham o seu lado interno absolutamente liso e bastava uma lixadinha para adaptar a caída e... pronto. O Dino Sani, do São Paulo F. C., nasceu assim. Chutava muito bem de longe. Possuía uma cor de cenoura e atuava, tanto no meio de campo, como na meia, tal como de carne e osso. Logo vieram outros da mesma matéria prima: Pé de Valsa, Bauer e Alfredo, a linha de “halfs” do SPFC em 1953. A duas quadras da minha casa, localizava-se o Vidrauto Princesa, casa especializada em pára-brisas, pertencente ao Sr. Luiz Carlos Moreira dos Santos, um cidadão com quem, muito tempo depois, foram estreitados laços muito fraternos. Passei a usar o vidro-plástico (era esse o material dos pára-brisas). De posse de um compasso e da serra Tito-tico, usada na disciplina Trabalhos Manuais do colégio, comecei a produzir peças circulares e a lançar outros “atletas”. Esse trabalho era árduo, pois o material era muito duro e o lixamento na parede de cimento penteado causava bolhas e ferimentos nas mãos. Os resultados, no entanto, eram compensadores, ainda mais quando descobri que, com acetona ou éter, poder-se-ia colar no vidro plástico uma camada superior de plástico comum, existente em brinquedos quebrados das minhas primas. Justamente na era dos famosos puxadores de uma, duas e até três camadas, conseguia lançar “atletas” muito parecidos a custo muito menor; até de graça.
Ora, contando com tantas opções de matéria prima, como os ioiôs, botões de casaco, vidro plástico e plástico derretido em formas, colecionei muitos times de qualidade. Os resultados em torneios e disputas com colegas e amigos eram animadores. Desenvolvi uma razoável habilidade no preparo de botões de todo o tipo.
A pior empreitada de todas foi quando me atirei ao fabrico de botões de casca de coco. Primeiramente, tinha de retirar aquela crosta de fiapos do lado de fora. Haja tempo de paciência! Pobres dedos! Depois continuava o lixamento para dar forma circular ao pedaço de casca, na famosa parede, é claro. Casca de coco não se corta com faca ou serrinha tico-tico. Esmeril? Não havia. O material é muito resistente. Mas, o Gino, o Maurinho e o Canhoteiro surgiram assim, além de muitos outros. A casca de coco, de difícil manuseio e doloroso preparo, redunda nos melhores botões, até mesmo pelo peso do material e por deixar a base interna naturalmente côncava. Aceita perfeitamente a parafina, a cera, os adesivos e, com um acabamento dado com caco de vidro bem afiado, fica totalmente lisa. Com dois tacos de madeira de iguais dimensões e duas tampas de remédio, também iguais, abertas no topo, é possível montar as cestas. Com botões levantadores e pequenos botões de bragueta, como bola, pratiquei o basquete. Algodão, Godinho, Guguta, Amauri, Vlamir e outros formavam o meu time do Flamengo. Os modismos pressionam os meninos, tanto na infância como na adolescência. Utilizar puxadores tornou-se uma verdadeira coqueluche. Comecei a me sentir meio fora da onda com meus botões, embora os resultados, como já afirmei, fossem gratificantes. Tomei uma decisão: teria um time de puxadores vindos de P. Alegre. Mas, como obtê-los? Cadê a grana? Lamentando o caso com outro menino, o Ângelo, surgiu-me uma ideia magnífica. A senhora mãe dele e ele próprio fabricavam, artesanalmente, uns bonequinhos de naftalina para vender. Os bonequinhos vinham com fitinhas e florzinhas, todos enfeitadinhos, e as pessoas os utilizavam para evitar o aparecimento de traças e outros insetos. Argumentei com o Ângelo (onde andará?) que me forneceu uma boa quantidade dos tais bonecos para pagamento após a revenda. A operação comercial funcionou às mil maravilhas, pois pagava, digamos, CR$ 1,00 e revendia por CR$ 2,00. Coloquei os bonecos em uma caixa de sapatos e os oferecia de porta em porta. Em pouco tempo, após pagar a mercadoria, com folga financeira, encomendei um time de puxadores e mais dois reservas. A defesa era de duas camadas (preto em baixo e vermelho em cima). Os dois ponteiros e o centroavante (centerforward) eram vermelhos e os dois meias, pretos. Os atacantes e os reservas (pretos) eram todos de uma só camada. O goleador daquele time era o Joel, ponta direita do Flamengo. Passado um largo tempo daquela retumbante contratação, decidi ampliar o plantel e, novamente, o Ângelo foi o empresário que financiou tudo. Vieram mais e mais puxadores de todas as cores imagináveis. Na hora do recreio no colégio, formava-se uma pequena multidão a minha volta. Havia trocas, compras e vendas. O Ilmar (já falecido) jogava com o Corinthians e tinha um botão de nome Paulo (reserva do Índio), que era bárbaro nas finalizações. Seu chute era seco e certeiro. Para mandar no canto era com ele mesmo, pois a bolinha não picava. Nessa época (1957, talvez), houve um surto de sarampo em Pelotas e o Ilmar foi acometido pela doença, tendo de ficar acamado por alguns dias. Arrisquei-me ao contágio e fui visitá-lo. Papo pra cá e papo pra lá, trocamos alguns botões e consegui contratar-lhe o Oreco, que era muito conceituado para cavar. Entre propostas e contrapropostas, acertamos a aquisição do Paulo (azul marinho brilhoso).  Despendi CR$ 15,00, mais três botões de duas camadas e doze gibis de segunda mão. Acontece que o Ilmar queria ler na cama. Na época não houve outra contratação tão valorizada. Proporcionalmente, seria como a do Ronaldinho Gaúcho pelo Flamengo. Meus amigos mais próximos ficaram com a mesma cara da diretoria do Grêmio, pela inveja e frustração que sentiram. Saí pela rua correndo e pulando com o Paulo, na mão, mostrando para o resto da gurizada. Confesso que fiquei esnobando a turma, como quem diz: agora não tem mais para ninguém. Muito bem! Até hoje, passados mais de cinquenta anos, estou aguardando a estréia do Paulo. Por quê? O Paulo sumiu! Não sei se o perdi nas comemorações ou foi furtado/sequestrado. De 1958 a 1960, minhas atividades botonisticas diminuíram de ritmo, pois passei a trabalhar numa empresa atacadista vizinha a minha casa, lá onde está a decantada parede. Diminuíram, mas não pararam. Na tal empresa, havia um grande estoque sabem de quê? De botões! Meu emprego passou a me fornecer a matéria prima e a parede de cimento penteado. Hoje em dia não se encontra um emprego assim. Um botão surrupiado de uma caixa, outro botão de outra caixa e aqueles “olhos de peixe” para servirem de bolinha. Conclusão: voltei ao lixamento em grande escala. Eram tantos os meus times que tive até o do São Cristóvão, com Santo Cristo e Olivam na ala esquerda.
Em 1962, já no Rio Grande do Sul e no Banco do Brasil, adotei o São Paulo Futebol Clube e, unicamente, ele nos torneios da AABB. Voltei aos puxadores, mas continuei a fabricar botões por distração.


Meus amigos leitores, essa é a primeira parte da história desse grande botonista. Na semana vindoura, teremos a continuação, pois nela o Vicente narra a sua chegada em Caxias e sua apresentação pela Regra Brasileira de Futebol de Mesa.
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.

domingo, 9 de dezembro de 2012

RESCALDO DO BRASILEIRO


Li e concordo com o que o Pedrinho Hallal escreveu sobre o rescaldo do brasileiro de Salvador.
Entretanto, acrescentaria um detalhe que para mim se torna importante ser observado. A aclimatação de nossos botonistas ao calor infernal que há durante o ano inteiro na região nordeste do país.
Vejam que os times brasileiros de futebol, quando devem jogar na Colômbia, Venezuela, Peru e Equador, ou se deslocam com alguma antecedência para se ambientarem ao fator altitude, quando a bola rola com mais velocidade, quando a respiração se torna mais pesada, quando as pernas não obedecem ao comando do cérebro ou, então, chegam em cima da hora. Mesmo com todos esses cuidados, geralmente na metade do segundo tempo estão apenas se arrastando em campo e, caso do Grêmio contra o time O Milionários, sofrendo gols no final da partida.
A mesma coisa aconteceu com os nossos botonistas que sofreram com o calor demasiado, já que estão acostumados ao nosso clima. E tudo isso em uma sala fechada, sem a mordomia do ar condicionado que funcionou nos primeiros dias e, devido ao resfriamento do ambiente, provocou condensação de vapor e formação de gotículas de água que prejudicavam as mesas. Com isso, o ar condicionado foi desligado e o calor se tornou um grande inimigo de todos nós. Para os nordestinos, acostumados com o calor, nenhuma diferença.
Para ilustrar, em meu primeiro jogo contra Jair, da Bahia, ainda com ar condicionado funcionando, o mesmo jogou com uma camisa de lã por baixo da camisa da Federação Baiana. Para ele estava frio, ao passo que eu suava por todos os meus poros.

E nossos botonistas chegaram horas antes do início do campeonato. Lembro ainda de que, durante o certame por equipes, encontrei o Robson Bauer, ainda de mala em punho subia as escadas da sala de jogos, ansioso para assisti-los e mesmo para tentar treinar em uma das mesas que estavam à disposição. Com exceção de quem chegou alguns dias antes do início, (três ou quatro botonistas) todos os demais chegaram quase na hora de colocarem seus times em campo.
As mesas, feitas com madeira nobre podem até ser um diferencial, mas temos mesas maravilhosas em Caxias, as quais não ficam devendo nada para as da Bahia.
Acredito que na realização do próximo Brasileiro, dessa vez no Paraná, alguma coisa mudará nesse sentido, pois o clima é mais próximo do nosso e, para eles, se houver uma queda de temperatura, terão as mesmas dificuldades que encontramos em sua terra.
Jogando no sul, por cinco vezes os baianos conseguiram lograr êxito, a saber: em 1976, em Jaguarão, o Giovani Pereira Moscovits foi o vencedor. Depois dele, em 1981, em Brusque (SC), Hozaná Sanches; 1996, em Pelotas, Diógenes Motta; 2001, em Porto Alegre, Rogério N. Horta e em 2004, em Florianópolis, foi a vez de Edenílson Tosta Santos laurear-se campeão. As demais conquistas baianas foram em terras nordestinas, assim como todos os demais campeonatos levantados por sergipanos, pernambucanos e potiguares. Isso sem falar nos cariocas, pois também são acostumados com o calor.
Acredito que teremos de, caso pensemos em conquistar o título máximo do botonismo brasileiro, fazer uma temporada de férias no nordeste e nos acostumarmos com o calor para que nos dias de jogos sintamos menos dificuldade em relação à temperatura.
Quando estivemos em Salvador, em 1967, no trabalho de construir a Regra Brasileira, nossa permanência foi do dia 7 até o dia 22 de janeiro. Os melhores jogos foram após a primeira semana de permanência na Boa Terra. Nos últimos dias, não sentíamos mais o calor abrasador, pois acostumamos com ele. Quem sabe seja essa a solução que todos nós procuramos e que, se tivermos condições, poderá ser a nossa válvula de escape para conseguir atingir o nosso ideal. Botonistas de grande valor nós possuímos e nada ficam devendo aos nordestinos. Eu ainda acredito que poderemos alcançar êxito, realizando algo parecido com a idéia que estou expondo a todos vocês.
Se alguém contestar, dizendo que tivemos um campeão brasileiro já nessa edição, devo informar aos meus leitores que o DNA do nosso querido Pica Pau é baiano também, pois seu pai é de Alagoinhas. E quem tem DNA baiano já joga futebol de mesa no berço.

Até a semana que vem se Deus assim permitir.

domingo, 2 de dezembro de 2012

REVIVENDO OS PRIMEIROS PASSOS DE NOSSA CAMINHADA...


Acredito que esse campeonato realizado na quentíssima Salvador, além de encher os olhos de maneira esplendorosa, serviu de parâmetro para avaliarmos o crescimento de nosso esporte. Dos vinte e um participantes do campeonato de 1970, pulamos para quase duzentos em 2012. Várias categorias sendo disputadas: Especial, Sênior, Master e Junior, além do campeonato entre doze Clubes previamente inscritos.
Para quem sonhou com o primeiro, estar presente nesse que leva o número trinta e nove, foi emocionante e gratificante. No primeiro dia, a disputa entre os clubes pelas partidas realizadas com galhardia e sofrimento, sagrando ao AFN (Rio Grande do Norte) como a melhor dentre todas, seguida pela ACRA-Alagoinhas, sua fiel escudeira.
A coisa estava começando... Brasileiro de Clubes
No segundo dia, a emoção ficou ainda maior. Na abertura do campeonato, o vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, André, usando a palavra fez uma explanação dos planos futuros e duas homenagens, juntamente com a Federação Baiana. Ao seu lado, o presidente dessa entidade, o amigão Tosta o ajudava nessa comemoração e  do outro, o presidente Robson Marfa observava com cuidado o trabalho sendo executado. Justa homenagem ao primeiro campeão brasileiro, recentemente falecido, Átila Lisa, a qual foi recebida por seus filhos que herdaram do pai a habilidade no jogo e a excelente educação. Os dois lembram, muito, a figura maravilhosa que nos deixou. Este colunista também foi homenageado como sendo o único dos criadores da Regra que se arriscou a enfrentar as feras que estão praticando o botonismo constantemente. Não sei como consegui dizer algumas palavras de agradecimento, pois a emoção é sempre forte quando se é reconhecido por ter feito algo que encantou a todos que lá se encontravam.
Vocês acabam matando o velho...
...sem comentários.
Comentar os jogos torna-se impossível para mim, pois a emoção era muita. Já quando entrei no salão, nas primeiras mesas, estava Zezeca, o sergipano que queria me abraçar; e foi um abraço carinhoso, trocado com esse amigo que lê as minhas colunas. Fiquei imensamente feliz em conhecê-lo. Logo adiante, o meu primeiro adversário do campeonato de setenta, nas mesas oficiais: José Inácio, também de Sergipe. Um abraço que estava guardado desde a última vez que nos encontramos, quando em Vitória (ES) disputamos o brasileiro e ele conseguiu sagrar-se campeão e eu ficando com o sétimo lugar, eliminado das finais pelo Átila. Inácio, sabendo da minha ida, presenteou-me com uma medalha destinada aos fundadores, associados e amigos da Associação Sergipana de Futebol de Mesa, gesto que me comoveu imensamente.
Em seguida, encontro Jaime, também de Sergipe, amigo de longa data. Ronald Aguiar, amigo desde 1967, baiano que sempre traz consigo e oferta uma fitinha do Senhor do Bonfim. Jair, o supercampeão baiano, Gil, de Alagoas e o campeão máster Carlos Alberto, de Pernambuco faziam parte do meu grupo. Todos me venceram.
Esquentando os meninos para os jogos. hora de sentir as mesas
Jogo contra Jair (BA)
Com a Gloriosa camisa da Federação Gaúcha de Futebol de Mesa
Juiz que não conhece mais a regra
Contra Gil (AL)
Encontrei o Giovani Moscovitz e o Hozaná Sanches. Boas lembranças. Oldemar Seixas traz ao meu encontro o filho de meu amigo Valério, o Jomário Souza e, em seguida, mais uma fera dos anos setenta: Luiz Alberto Magalhães, um dos maiores botonistas que eu vi jogar. Seu time: Milionários, com o detalhe que todos os botões traziam a marca Adidas, arte que ele mesmo produzia. Vilno Araujo, um dos diretores da CBFM veio de Alagoinhas e de lá, também, o campeão Batatinha. Claudio Savi, de Criciúma, conhecido desde a década de oitenta, agora magro. J. Campos, o baiano que era encarregado de reservas no Hotel onde ficamos hospedados. Alenio, do Rio de Janeiro e de lá, ainda, o Wanner.
Com Hozaná e Inácio, amigos de longa data
Mas, para mim foi muito importante encontrar dois companheiros que estiveram presentes na criação da Regra Brasileira: OLDEMAR DOREA SEIXAS e ROBERTO DARTANHÃ COSTA MELLO. Com eles não tivemos oportunidade de assistir muitos jogos, pois a equipe de filmagem de Filipe Seixas nos convocou para fazer parte dela, a qual já tem título: “QUE GOLAÇO!” -  narra a criação e a multiplicação da Regra Brasileira, pois dos seis participantes da Comissão Inicial, Ademar Carvalho e Nelson Carvalho já faleceram e Gilberto Ghizi, longe do futebol de mesa e com problemas de saúde, não se fez presente.
Examinando arquivos antigos com o amigo Oldemar
Será que o Ypiranga vai retornar?
Com o amigo Dartanhã
O trio de fundadores com Tosta o presidente da Federação Baiana
Voltando ao campeonato, não havia tempo para apresentações, pois os jogos eram constantes e nada deveria atrapalhar o seu andamento. Cumprimentos à distância e torcida pelos nossos companheiros que estavam se entregando na luta para conseguir classificação. E o contingente gaúcho era respeitável: Michel, Rogério, Alam, Zilber (o Chefe), João Garima, Marcelo Vinhas, Maciel, Carraro, Robson Bauer, Chambinho, Piruka, Alex Degani, Sandro Mazzochi, Duda, Mário, Cícero, Alex Prezzi, Silvio, Cristiano, André, Breno, Aramis, Osmar, Crosa, Badia, Burguel, Foschiera, Enio, Pizzamiglio, Zeni, Figueira, Sambaquy, Pica Pau e Hemerson, num total de trinta e quatro. Esse número é bem mais elevado que todos os participantes do primeiro campeonato.
A honra da casa foi salva pelos dois meninos que conseguiram um primeiro (Pica Pau) e um quarto lugar (Hemerson) e, pelo Mário que chegou à sétima colocação, a mesma posição que eu ocupei em 1979.
Os resultados das partidas poderão ser encontrados no site da Confederação Brasileira.
Vários estados reunidos.
Os caxienses estão em todos os cantos desse país...
Até a semana que vem se Deus permitir.