segunda-feira, 30 de abril de 2012

CADA REGRA DE FUTEBOL DE MESA TEM A SUA HISTÓRIA. REGRA PERNAMBUCANA.


Tenho, em minhas colunas, contado sobre a criação da Regra Brasileira realizada em Salvador, capital baiana, em janeiro de 1967. Com o passar do tempo, muita coisa foi modificada, ajustando-se para que cada vez ela fique mais atraente.
Há alguns dias, recebi um e-mail do Edu Caxias, perguntando-me se possuía exemplares antigos da regra gaúcha e baiana, anteriores a essa fusão. Respondi-lhe que o exemplar da Regra Baiana está depositado na AFM Caxias do Sul, mas, infelizmente, os exemplares que tínhamos da Regra Gaúcha foram enviados aos amigos baianos para que a estudassem, assim como nós, estávamos fazendo com a regra deles.
Isso fez nascer em mim a curiosidade demonstrada pelo Edu, mas num sentido mais amplo. Qual a história das regras que estão sendo disputadas, com tanto ardor nesses encontros de botonistas em todo nosso país?
A pioneira, editada em 1930, por Geraldo Cardoso Décourt, chamava-se Regras de Foot-Ball Celotex. Há um exemplar dessa regra, devidamente, autenticado pelo Décourt, guardado no cofre da AFM. Quando estive visitando o Getúlio Reis de Faria, no Rio de Janeiro, em 1982, ele me mostrou um time que jogava a regra Celotex. Havia botões torneados de madeira. Uma preciosidade maravilhosa.

O embrião da Regra Gaúcha é formado em 1941, quando Lenine Macedo de Souza cria a Sociedade General Lima e Silva na cidade de Porto Alegre. Vinte anos depois, o mesmo Lenine cria a primeira Federação de Futebol de Mesa do Brasil, jogando com a Regra Gaúcha.
Com a diferença de onze anos da publicação da celotex para a gaúcha, imaginava que fossem essas as duas regras mais antigas em vigor no nosso país. Eis que recebo do meu amigo Armando Pordeus, de Recife, um livro com a Regra Pernambucana de Futebol de Mesa. E, nela, o histórico é bastante elucidativo. Diz que a regra oficial da Boa Vista veio à tona, ao que tudo indica nos idos de 1940, à Rua Barão de São Borja, no bairro da Boa Vista, residência de Aldiro Santos, maior nome do celotex de todos os tempos. Juntamente com outros botonistas famosos, tais como Armando Francisco, conhecido entre os amigos como “Cabeça de Ataúde”, Pedrinho Palmatória, Vilaça, Chico Aborto Barbosa, Mário Sandes, Severino Vieira, René César, esse oriundo do bairro de São José, onde se jogava o “celotex” na regra chamada de “pingue-pongue”.
Depois, com a mudança de residência de Aldiro Santos, o jogo passou para a sua nova morada à Rua Montevidéu, também na Boa Vista no Parque Amorim; passou a ser jogada na Rua da Glória, naquele bairro, na residência dos familiares de Biú (Severino Vieira). Isso no início dos anos 50.
Nova safra de botonistas surge: Gilvan Carvalho, Humberto Simons, Clóvis Sandes, Fernando “Gordo de Pipoca”, Adão Pinheiro que, juntamente com os decanos, passaram a difundir a regra da Boa Viagem em outros bairros de Recife.
Destaque maior foi para o bairro da Estância, onde pontificavam os nomes como o de Lula Pesão, Hemetério, seu irmão mais novo, Paulo Felinto Gouveia de Albuquerque, o mais fanático praticante de celotex do Recife, seus primos Murilo, Aldênio e Rominho, os quais jogavam valendo-se da regra “leva-leva”.
Somente no início dos anos 60, quando botonistas da Estância começaram a frequentar a Boa Vista, já na Rua da Matriz, foi que se adotou definitivamente a Regra da Boa Vista, a famosa regra da bola de borracha, da tabelinha.
Destaque para os botonistas Valdir Santa Clara, Valterlys, os irmãos Abdon e Abiud e a nova safra: Ribamar, Marcos Securinha, Tuca, Silvio Romero, Adilson, Paulinho, Nadilson, entre outros. Muitos desses botonistas se espalharam, alguns já fizeram a grande viagem, outros já não praticam esse esporte, mas os que continuaram levam a sério a prática do celotex e fazem com que as novas gerações perpetuem o futebol de mesa, nome pelo qual vai ficando conhecido.
Foi de propósito que se deixou para citar, somente agora, Armando Francisco, “Armandinho”, filho de um dos pioneiros do celotex e que deu uma dinâmica maior ao esporte, mesmo utilizando outra regra, fazendo com que o jogo de botão conseguisse mais e mais adeptos. Graças à atuação desse maravilhoso botonista, a Regra da Boa Vista agora está sendo levada para as dependências do Santa Cruz Futebol Clube, onde se acredita que terá uma grande expansão.
Hoje, aqueles antigos botonistas, seus descendentes e os poucos amigos que se aventuram por esse jogo, distraem-se aos domingos pela manhã, na Rua Cosmorama, no Setúbal, bairro de Boa Viagem, residência do famoso Francisco Barbosa que continua com o mesmo excelente celotex, juntamente com a nata do futebol de mesa dos dias atuais: Marcos Bundão, Cláudio, Elvison, Paulo Juquiá, Celso, Tiago Papinha, Juliano, João Antônio e os veteranos e cada vez mais cobrões: Chico, René, Pedrinho, Demil, Abiud, Paulo Felinto, Ribamar, Tuca, Hercules, Marcos Securinha.
Também, às quintas feiras, no bairro do IPSEP, na residência de Demil, outro botonista veterano, sendo que esse é oriundo de Tejipió, com uma ou outra aparição na Estância e frequentador assíduo das manhas domingueiras do Setúbal. No IPSEP, além dos já citados, pontificam botonistas do quilate de um Dinoraldo, Albertinho, do aprendiz Marcos Gafanhoto, do novato Felipe, o “securinha” Adilson e Humberto Securão.
Louve-se também a atuação de Ribamar, o popular Rabão, que conseguiu despertar alguns botonistas aposentados a voltarem a praticar o celotex e fez retomar à atividade A LIGA AMADORISTA DE FUTEBOL DE MESA (LAFME) em sua residência, organizando um campeonato, reunindo 29 botonistas com todo sucesso em que pese às inúmeras dificuldades que teve.
Graças a esse gesto é que se pode ir mais longe nessa aventura e é por isso que o entusiasmo entre os praticantes continua de vento em popa. É o velho celotex de volta, com força total, praticado na mais pernambucana das regras praticadas, a mais que famosa Regra de Celotex de Boa Vista, agora intitulada REGRA PERNAMBUCANA DE FUTEBOL DE MESA, carinhosamente conhecida como a Rainha das Regras.
Essa é a minha homenagem aos amigos pernambucanos que, através do Armando Pordeus, fizeram chegar essa grandiosa história de luta pelo nosso esporte, iniciada juntamente com a batalha que Lenine travou numa época em que o futebol de mesa era coisa de criança.
Armando, que mais uma vez me surpreendeu, enviou-me um segundo time da Regra Pernambucana (SER Caxias do Sul), um time da Regra Fogo Tebei (o Real Boa Viagem), várias bolinhas de borracha, um par de traves, três times de vidrilhas (Inter, Caxias e Barcelona), um CD do seu projeto Botão na Escola e um boné que ganhou por sua participação na Copa do Brasil, 12 toques, realizada em Caruaru há poucos dias.
Para ilustrar, quis postar algumas fotos de botonistas pernambucanos, para que sintam que o amor pelo nosso esporte é igual de norte a sul, de leste a oeste.
Armando joga com seu SER Caxias
Armando e Armandinho
Hercules, Paulo Felinto e Abiud Gomes
HerculesXTimbuII 
Time do Inter recebido por mim (Presente de Armando)
Goleiro da Regra Pernambucana
Paulo Filinto
Paulo Jiqui e Paulo Filinto
PE - final do open

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ALEX DEGANI COMEMORA O BI-CAMPEONATO ESTADUAL DE LISOS


Para quem acompanha as façanhas dos botonistas, através dos diversos blogs, não causou surpresa alguma a conquista dos papa-areia: Alex, Duda e Sylvio. No blog da Riograndina, foi noticiado que eles ficavam até alta madrugada treinando, aprimorando o seu jogo, querendo melhorar o seu já extraordinário futebol de mesa.
Houve até uma manifestação do presidente da entidade, em tom de gozação, proibindo os jogos depois das 23 horas, pois as reclamações das esposas, fatalmente, chegariam até ele.
Essa dedicação foi premiada com cinco das melhores colocações do Estadual, realizado em Caxias do Sul, no último final de semana.
A AFM Caxias do Sul, com a supervisão da FGFM, conseguiu reunir mais de cinquenta botonistas de imensa qualidade nas dependências do Personal Royal Hotel, onde havia sido realizado o XXIX Campeonato Centro Sul, em julho do ano passado.
Foi armado um espetáculo gigantesco, com mais de cinquenta feras digladiando no sentido de conseguir chegar ao lugar mais alto, conquistando para si as honras do triunfo que os grandes guerreiros de outrora conseguiam.
À distância, consegui sentir a força mobilizadora desses baluartes que fazem o nosso esporte ter uma sequência maravilhosa. Vi a mescla de gerações, onde os cabelos brancos de alguns contrastavam com a juventude de outros. Todos, entretanto, imbuídos em conseguir o triunfo. E, ao contemplar o hercúleo trabalho do amigo Breno, colocando as imagens do evento, no instante que este acontecia, ao alcance de nossas vistas, vibrei ao ver duas figuras que lutaram ao meu lado há mais de quarenta anos, jogando e vencendo. Luiz Ernesto Pizzamiglio e Marcos Antonio Zeni, que desafiavam o tempo e mantinham o meu sonho em estado latente. Como foi agradável ver os irmãos de luta empenhados em vencer.
Mas, nesse combate de feras poderosas, alguns haviam de ficar pelo caminho. O funil da competição foi se estreitando de modo violento e sobraram apenas quatro finalistas. Alex, Duda, Felipe e Mário. Esses foram os melhores. Fizeram por merecer os lindos troféus que estavam em jogo.
Com essa demonstração de força, com esse espírito de competitividade, com essa vontade de praticar a Regra Brasileira na modalidade a qual foi criada, eu acredito que chegou a hora de trazer para o sul o troféu de Campeão Brasileiro.
E isso acontecerá em novembro, na mesma cidade que promoveu o primeiro campeonato no distante ano de 1970.
Desde então, passados quarenta e dois anos, conseguimos reunir forças para combater com igualdade os irmãos nordestinos que sempre praticaram o futebol de mesa na modalidade lisos. Espero poder estar presente em Salvador no mês de novembro, terá fim de desfrutar  da alegria de abraçar essas forças gaúchas, nessa que será a conquista que engrandecerá enormemente a nossa FGFM.
Hoje, desejo abraçar o Alex, o Duda, o Felipe e o Mário por serem vencedores, copeiros tradicionais, mas também agradecer a todos os que lá estiveram, pois vocês estão sendo parte integrante do meu sonho. Do sonho que ousei ter, quando, em 1967, rumamos a Salvador para criar essa Regra Brasileira de Futebol de Mesa que colocava pessoas de todas as cidades de meu estado em torno da mesma mesa de botão. E vocês todos estiveram ao redor delas nesses dois dias de disputas.
Agradeço à Federação Gaúcha e à Associação de Futebol de Mesa de Caxias do Sul, pois, ao abraçar a causa dessa competição, proporcionaram esse maravilhoso final de semana a todos os botonistas brasileiros. Uns jogando e outros apreciando. Obrigado mesmo.
Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

segunda-feira, 16 de abril de 2012

FUTEBOL DE MESA EM LIVROS.

Nosso esporte é ainda muito carente em questão de literatura. Poucos são os que se atrevem a escrever sobre aquilo que gostam de praticar, narrando as  aventuras e desventuras que acontecem no decorrer de sua caminhada esportiva. Já surgem ideias de publicações, como a do amigo Gothe, de transformar em livro a sua série maravilhosa de Gothe Cromo Gol. São narrativas dos botonistas sobre a sua vida, seu início no futebol de mesa, suas conquistas, o que se tornará um documento de raro valor para as gerações futuras. Saberão quem foi que fez a grande roda do futebol de mesa girar, chegando ao estágio atual, onde grandes realizações o fazem reunir, ao redor de mesas, botonistas de diversas regiões do planeta.

Há muitos anos consegui comprar o livro editado por Fred Mello, que trazia explicações sobre a Regra Toque-Toque, praticada no Rio Grande do Sul pela Federação Ipanema de Botão (FIB). Esse livro está depositado, juntamente com outro, escrito por Agacyr José Eggers, que demonstra a Regra Paranaense, na sede da AFM Caxias do Sul.




No ano de 1987, o grande e inesquecível Geraldo Cardoso Décourt, ao escrever Aconteceu, sim!..., no qual dedicou um capítulo de sua biografia ao seu esporte favorito: o futebol de mesa.

Até então, foram somente esses os livros que falavam sobre o futebol de mesa de que tive conhecimento. Talvez houvesse alguma outra obra sobre o assunto, mas eu desconhecia completamente, caso contrário teria adquirido.
Na atualidade, através do blog Futmesa Brasil, tomei conhecimento de mais algumas publicações. Interessei-me em adquiri-las. Enviei pedidos ao Ubirajara Bueno, solicitando a compra de seu Botoníssimo. Fui informado que a edição estava esgotada, mas que ele estava preparando uma segunda edição, ampliada e melhorada. Já sou candidato à compra de um exemplar para enriquecer a minha coleção.

Marcelo Minuzzi, presidente da FIB (Liga da Federação Ipanema de Botão) de Porto Alegre, enviou-me o seu exemplar de FUTEBOL DE BOTÃO – Uma Paixão Nacional. Nele, o Marcelo relata o seu amor pela Regra Toque Toque, elaborada em 1945 por Fred Mello. Trata-se de uma leitura agradável e como só poderia ser, cheia de causos de botonistas apaixonados pela Regra.

De Caruaru (PE), o meu colega de Banco do Brasil, José Edson Carneiro da Cunha, mais conhecido no Brasil por Zé Edson, escreve de maneira maravilhosa, relatando o movimento nordestino do futebol de mesa, narrando a trajetória realizada, desde que Armando Pordeus, convidado, levou para aquela cidade, em 1987, todos os equipamentos para a prática do esporte. Naquele distante ano, a Regra utilizada era a de três toques, também conhecida como Regra Carioca.
Em 35 páginas, cheias de humor sadio, conta histórias que serão conservadas para todo o sempre na história do futebol de mesa pernambucano e brasileiro. São simplesmente fantásticas essas histórias, muitas das quais “entregando” seus companheiros pelos fatídicos desfechos. Mas, todas elas com final feliz.
Recebi de Enio Seibert, de Porto Alegre, exemplares da Regra Unificada. Regra que foi sua criação e que tem muito da Regra Gaúcha.
Há duas propostas de livros que devem contar histórias maravilhosas sobre o nosso esporte e que, tenho certeza, um dia estarão embelezando as prateleiras das casas de todos os botonistas brasileiros.
Um é obra do colega bancário José Ricardo Caldas e Almeida. Esse é um antigo projeto, desde os anos oitenta, que contou com a colaboração de muitos botonistas que gostariam de ter a oportunidade de registrar a história do futebol de mesa de sua região, transformada em acontecimento histórico eterno. José Ricardo mora em Brasília e já conseguiu reunir uma quantidade infinita de notícias, mas que encontra algumas lacunas, as quais, infelizmente, não são preenchidas por falta de pessoas interessadas em ajudá-lo. Se avaliassem a importância que uma obra dessas terá no futuro, com certeza não hesitariam de juntar a documentação para preencher os vazios que existem e que entravam o perfeccionismo do José Ricardo.
Outra obra que está sendo ansiosamente esperada é a história da Regra Gaúcha, que está sendo preparada pelos amigos Edu Caxias e Obereci. Já me candidatei a adquirir um exemplar dessa história rica, dessa Regra que foi a pioneira no Rio Grande do Sul e que, ainda hoje, é praticada com grande contingente de grandes botonistas. Muitos nomes respeitados nos círculos gaúchos fazem parte desse grupo de botonistas que vivem as emoções que a Regra Gaúcha produz. Foschiera, do Grêmio Porto-alegrense mantém um grupo em Torres, onde ensina a Regra Gaúcha às crianças, fazendo com que o nosso esporte seja preservado para as novas gerações. Essas histórias farão a alegria de muitos amigos que cultivam o hábito de ler, junto com a alegria de jogar futebol de mesa.

Talvez, essa ideia nos incentive a também realizar uma obra sobre o assunto, pois já estamos quase chegando às cem colunas, publicadas semanalmente no Blog da AFM. Sempre soube que aquilo que não ficar escrito acabará sendo esquecido. E são tantas as histórias hilárias que aconteceram no caminho de cada um de nós, que lidas daqui a alguns anos serão motivo de muita risada.  Seriedade somente na hora de jogar, pois a alegria dos encontros será sempre um motivo de felicidade, já que recordar é viver e abraçar amigos é reconfortante.

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

domingo, 8 de abril de 2012

A UNIÃO FAZ A FORÇA...

Nos dois últimos anos, quando estivemos visitando os amigos da AFM CAXIAS DO SUL, por ocasião de duas promoções exitosas, ao usarmos a palavra citamos os esforços no sentido da união com as demais Regras de Futebol de Mesa. Mencionamos esse esforço inicial, pois acreditamos tenha sido o ponta-pé necessário para que contássemos, no futuro, com uma Confederação Brasileira de Futebol de Mesa que abrangesse todas as modalidades existentes. Até então, o nosso esporte era encarado como uma diversão, geralmente, praticada por crianças.
Talvez as palavras ditas haviam criado dúvidas, pois não havia nenhum documento para provar essa aproximação. E isso me incomodava, pois eu vivi intensamente essa fase em que conheci pessoas maravilhosas, muitas delas, infelizmente, já falecidas.
Numa troca de ideias com o amigo José Ricardo Caldas e Almeida, de Brasília, afirmei-lhe que havia encadernado todos os exemplares do BOTONISTAR, um jornal informativo, produzido na Capital Federal e que relatava notícias sobre a Regra de Três Toques. Como ele havia emprestado os primeiros exemplares, e esses nunca mais retornaram às suas mãos, solicitou-me que fizesse cópias para que ele pudesse completar sua coleção.
Como os exemplares estão depositados na AFM Caxias do Sul, solicitei ao seu presidente, Rogério Prezzi, que os remetesse ao meu endereço e que posteriormente os devolveria. Semana passada, via SEDEX, recebo uma caixa e, nela, a encadernação do BOTONISTAR.
Ao reler aquelas notícias, deparo-me com o número 26, de agosto de 1982, contendo na reportagem de capa, desenhado à mão, dois botonistas jogando e um terceiro arbitrando. Um deles com as iniciais CBFM na manga da camisa e, o outro, um barbudo, com uma camisa onde se lia ABFM. O árbitro com uma camisa com a denominação COFI estampada. CBFM era uma Confederação que fora fundada pelo pessoal da Regra de Três Toques e funcionava no Rio e em Brasília. Essa Confederação, após divergências entre seus líderes, passa a chamar-se Associação Nacional de Futebol de Mesa.
ABFM representava a Associação Brasileira de Futebol de Mesa e reunia os praticantes da Regra Brasileira, e o COFI foi uma das etapas do ressurgimento da Federação Paulista, a qual estava adormecida há algum tempo.
Na parte do fundo desse desenho, havia um placar, indicando os seguintes jogos: JOMAR X MURY, ROLIN X HIDEO, MARTINS X PIRES, NETTO X DÉCOURT, LENINE X SAMBAQUY e FÉRGUSSON X SCHEMES, numa mistura de botonistas de diversas regras, a saber: Gaúcha, Um Toque, Três Toques e Doze Toques. Um comentário ao lado do desenho dizia: Todos nos questionamos a este respeito. Algum dia, todos saberemos que será transformada em realidade esta fantasia dos toques, das bolas, dos botões, das regras. Vamos nos unir?
O representante desenhado da ABFM era barbudo e o único que usava barba era esse que escreve essa crônica. Os demais, Jomar, Martins e Schemes nunca usaram barba e nem bigode. Portanto, era a representação de quem, Sérgio Netto, o editor, desenhista, diagramador, arte-finalista, redator e revisor do informativo conhecia, desde 1981, quando estive realizando um curso pelo Banco do Brasil na Capital Federal.
Em maio de 1983, já no número 33, há uma reportagem com o título DESAFIO É ACEITO. MAS, SEM PRESSA.
Vou reproduzi-lo, pois é de validade imensa para que todos possam tomar conhecimento daquilo que acontecia há tanto tempo.
“Já se fala em união mais do que outrora. Antes se sonhava. Hoje já há bases concretas se solidificando aos poucos. O certo é que todos falam em INTEGRAÇÃO: O Brasil todo jogando numa só regra. Parece utopia se pesarmos bem esse parecer, porque as dificuldades começam com a bola, os números de toques, o tamanho do campo, das balizas, os botões...
Entretanto, vivemos um desafio que, aos poucos, vemos uma luz no horizonte brilhando mais forte. No IV Campeonato Brasileiro, em Juiz de Fora (na Regra de Três Toques), tivemos visitas ilustres de pessoas que jogam em outros movimentos, tais como Antonio Carlos Martins, da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, do Estado do Rio de Janeiro, e de Antonio Maria Della Torre, futuro presidente da Federação Paulista de Futebol de Mesa e membro dos Botonistas Unidos de Campos Elíseos (Botunice). Quem faltou a esse encontro foi o batalhador Luis Alberto Rolim, presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa que, como nós, quer a UNIÃO.
Faz poucos dias, de São Paulo a Brasília, Atienza (São Judas Tadeu) ligou para Walter Morgado (Associação Brasília), pedindo informações se a CBFM tem algum encontro de porte em julho, para viabilizar uma oportunidade de que brasilienses viajem à metrópole para um Torneio de Integração.
Há duas semanas, José Ricardo, Della Torre, Atienza e Adauto Sambaquy estiveram conversando em São Paulo e o assunto é a UNIÃO.
Do Nordeste, vem a ideia de um Conselho Nacional do Futebol de Mesa, unindo a ABFM com a CBFM.
Tudo está caminhando para acontecer a tão almejada união, porém dependerá dos esforços comunitários e isto é algo que está faltando, já que nosso País é extenso demais, dificultando o contato físico, que é muito mais viável para se conversar.”
Já, no número 35, de julho de 1983, há também uma nota dizendo:
“Della Torre crê na União.
POR SE TRATAR DE IRMÃOS, TEMOS DE FALAR A MESMA LÍNGUA E PROCURARMOS CADA VEZ MAIS A UNIÃO ENTRE OS DIVERSOS GRUPOS DE FUTEBOL DE MESA”. Essas foram as palavras proferidas por Antonio Maria Della Torre, em Belo Horizonte, dia 3 de abril, quando da visita ao Torneio ORLOFF-CENTAURO, do qual participava como convidado especial e entregou um troféu criado por ele a Jan Buarque que se sagrou campeão invicto.
O paulista venceu o Torneio de Consolação numa partida muito bem disputada, na qual venceu por 3 x 2 um representante de Brasília.
Recebeu das mãos de João Paulo Mury, presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, um cartão de prata em nome dos botonistas brasileiros, agradecendo a sua visita a Belo Horizonte para participar de um evento, cuja regra é diferente, na qual está acostumado a jogar.
Este homem é o elo principal para a UNIFICAÇÃO das regras da COFI e da CBFM. Nós torcemos por seu sucesso nesta empreitada e, temos certeza que ele também torce por nós todos, pois se isso acontecer, estaremos a um passo da tão almejada UNIÃO NACIONAL, e ter adesão do Estado de São Paulo na Confederação é um sonho sem precedentes.”
A luta foi muito grande. Barreiras foram transpostas com muito sacrifício e com a colaboração de muitos líderes nacionais. O reconhecimento aconteceu e graças a ele, hoje, somos fortes e organizados. Podemos sonhar objetivos maiores e melhores. Só resta a tristeza de saber que muitos dos que lutaram, bravamente, para que isso fosse conquistado já não se encontram entre nós. Mas, a herança deixada nos deixou enriquecidos e felizes para continuar a obra.
Quem poderá afirmar que no Paraíso não existam mesas, unindo todos esses botonistas que tanto lutaram para ser aceitos da maneira como o somos na atualidade.
Que Deus os conserve felizes, realizados, pois o sonho que perseguiram foi conquistado, deixando entre nós um esporte reconhecido, aceito e UNIDO.
Até a próxima semana, se Deus permitir e não me chamar para participar desse time.
Sambaquy

segunda-feira, 2 de abril de 2012

DE SONHO EM SONHO CHEGAMOS AO MUNDIAL

Quem tem a alegria de acompanhar as histórias dos botonistas, publicadas nos Cromos do Gothe, sabe perfeitamente que o início da trajetória de cada um é quase sempre igual. Os precursores, aqueles mais antigos (entre os quais me incluo) iniciaram raptando botões em paletós e sobretudos, os quais, depois de lixados e preparados faziam a nossa felicidade. A geração que veio após a nossa foi premiada com times padronizados da estrela ou da Gulliver, com o distintivo do time ou com a foto dos jogadores. Começava por aí o amor ao esporte que nos fascina de um modo todo especial.
Lembro que nos primeiros encontros que fazíamos na minha cidade natal, ao nos defrontarmos com outro botonista, sempre surgia a pergunta: Já ganhaste algum título? A resposta era sempre a mesma: - Sou campeão caxiense!
Campeão caxiense? Com quem jogaste? A resposta era somente a mudança de rua. Joguei o campeonato da Rua Marechal Floriano, da Alfredo Chaves, da Avenida Julio de Castilhos, da Moreira César, etc. Por isso, Caxias fervilhava de campeões de futebol de mesa.
Essa foi a razão que nos impulsionou à realização de um campeonato caxiense que fosse acolhido por todos e que apresentasse um nome que fosse aceito por ter vencido a disputa aberta e leal contra todos os demais participantes. Não seria limitado ao campeonato de uma rua, de alguns amigos que praticavam o futebol de botões.
No ano de 1963, conseguimos realizar o nosso primeiro campeonato oficial. Repetimos no ano seguinte e a experiência validou nossos esforços. Procuramos a Federação Riograndense de Futebol de Mesa, pois ainda não possuíamos uma entidade que agregasse os aficionados do esporte dos botões. Instruídos por ela, em 1965 fundamos a Liga Caxiense de Futebol de Mesa e, a partir dessa criação, Caxias do Sul nunca mais foi a mesma.
Nossa primeira experiência foi a realização do campeonato municipal. Ao fundarmos a nossa Liga, resolvemos que deveríamos alçar voos mais altos e promovemos um interestadual, convidando amigos de Porto Alegre para o primeiro Torneio Inaugural de nossa entidade.
Os porto-alegrenses carregaram todos os troféus, deixando em Caxias a certeza de que poderíamos fazer grandes promoções, bem diferentes dos campeonatos de ruas tão populares no início de nossa caminhada. Ao completar um ano de existência, mais um grande torneio foi idealizado por nós. Seria a comemoração de um ano de atividades oficiais de nossa agremiação. Convidamos porto-alegrenses, rio-grandinos, leopoldenses e rio-pardinos para, conosco, confraternizarem em um torneio de futebol de mesa. Nessa época, eu já mantinha contato com pessoas de outros estados e, por educação, remeti-lhes o mesmo convite já aceito por nossos conterrâneos. Para surpresa geral, dois baianos vieram, atravessando o país para nos honrar com sua presença. O torneio passou de intermunicipal para interestadual.
Sentimos que poderíamos sonhar mais alto. Afinal, havíamos saído da toca e não necessitávamos nos esconder para a prática de nosso esporte. Deixávamos de jogar nos porões, nas garagens, nos sótãos para jogar em ambientes sociais, dentro de clubes.
Aquela primeira experiência, chamada campeonato municipal, que já havia se tornado maior com o campeonato estadual, agora clamava por um campeonato nacional. Era um sonho que foi alimentado por alguns gaúchos e baianos. Haveríamos de conseguir, pois a primeira pedra da construção fora lançada naquele torneio de aniversário da Liga Caxiense.
No início dos anos setenta, o sonho se tornou realidade e, em Salvador, capital baiana, sete estados estão reunidos para o primeiro campeonato brasileiro, na regra de um toque.
Dez anos depois, o pessoal da regra de três toques começa a realizar os seus campeonatos. Mais seis anos, e a regra de doze toques entra para o rol dos pioneiros em campeonatos brasileiros. Eram três grupos distintos que estavam dando aos botonistas a chance de se conhecerem e trocarem idias, jogarem, formarem amizades e desenvolverem o nosso esporte tão amado.
A união de seus dirigentes acabou fazendo com que o CND homologasse o futebol de mesa como esporte reconhecido e deixasse a condição de lazer. Era uma grande vitória que estava sendo conquistada, com muito esforço.
Mas, como todo grande sonho, ainda faltava uma complementação. Um mundial da modalidade. Cada botonista é adepto e torcedor de um clube de futebol e todos torcem pela nossa Seleção Brasileira. Desde 1950 acompanhamos os mundiais. Em cada cabeça de botonista, a imagem da realização de um mundial em que ele estivesse presente, defendendo a sua pátria. Por que não? Afinal, são os sonhos que movem a grande roda da vida.
Hoje não se trata mais de um sonho. É uma grande realidade e será realizado em nosso país o Mundial de Futebol de Mesa. Acredito que estamos muito bem organizados e possuímos lideranças de valor inestimável que promovem o futebol de mesa com uma vitalidade de fazer inveja a muitos outros esportes.
Brasileiros, sob a tutela de nossa Confederação Brasileira de Futebol de Mesa, participaram no Hungria de um campeonato mundial. Para lá, levaram a regra de doze toques e a apresentaram ao mundo. Foi o debute de uma regra brasileira diante dos olhos estrangeiros.
Vamos promover, agora, em nosso país, o campeonato que estará sendo jogado na regra de doze toques e no Sectorbal.
Gostaria, como velho botonista, de sugerir à nossa CONFEDERAÇÃO a minha idéia, a qual faz parte de meus sonhos de idealista. Sei bem que não teremos tempo para essa promoção que se avizinha, mas, como seremos patrocinadores da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, no entanto vale pedir que seja estudada, com carinho, a possibilidade de um novo campeonato Mundial.
Nesse campeonato, sejam disputados em todas as regras oficiais que são adotadas pela Confederação, juntamente com as regras que foram trazidas do exterior. Que o campeonato seja realizado em uma semana inteira de jogos. Falo isso, pois se observarmos o campeonato de natação, por exemplo, são várias a modalidades que estão em disputa. Nem todas são disputadas no mesmo dia e afluência de público é sempre considerável.
Explico melhor a minha idéia. No primeiro dia, haveria a disputa de um Mundial da Regra de um Toque, com botões lisos. No segundo dia, com botões cavados, na regra de um toque. No terceiro, a regra de três toques. No quarto, na regra de doze toques; no quinto, teríamos a regra do dadinho e, no sexto, a disputa seria no sistema Sectorbal.
Para realizar tudo isso, as Federações Estaduais indicariam o seu campeão estadual, (com a possibilidade de indicação do vice-campeão, no caso do impedimento do campeão) para cada modalidade. Seria um representante de cada estado que disputaria, com os estrangeiros, a Copa do Mundo. Isso poderia ser efetivado nas modalidades que estão em voga, ou seja, Juvenis, adultos e masters.  Dessa forma, os nossos visitantes poderiam tomar conhecimento das modalidades que são jogadas em nossa terra e se quisessem se aprimorar teriam de trocar idéias e praticar conosco. Da mesma forma, nós, se quisermos jogar as modalidades de outros países, teremos de manter contatos e aprender com eles.
Acredito ser uma maneira de valorização  dos nossos jogos estaduais, fazendo com que a responsabilidade daquele que fosse vencedor seja premiada com essa chance de ser representante único de seu estado, com a possibilidade de trazer para sua Federação o troféu maior do Mundo: o título de Campeão Mundial de Futebol de Mesa.
Essa é a minha sugestão, que deverá ser estudada, apreciada e discutida entre os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa e exposta aos demais dirigentes de Confederações espalhados pelo mundo. Só assim poderemos divulgar o nosso futebol de mesa, o que, acredito, com ampla cobertura da mídia esportiva, pois será de âmbito internacional. Se o conseguirmos, com toda a certeza do mundo, ninguém mais segura o nosso esporte.
Estamos perto de conseguir tudo isso. Para isso, deveremos ter a vontade de realizar. Saímos dos campeonatos de rua para o mundial da modalidade. Quem não sonha com isso?
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy