domingo, 25 de março de 2012

A IMPORTÂNCIA DA LIGA CAXIENSE NA REGRA BRASILEIRA.

A grande maioria dos botonistas já conhece a história da criação da Regra Brasileira. Foi por iniciativa do presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa e o presidente da Liga Caxiense, que elaboraram um anteprojeto que foi aceito, depois de discutido com um grupo de botonistas baianos. Só que ignoram como tudo isso começou...
O futebol de mesa, na cidade de Caxias do Sul, começou a ser disputado organizadamente no ano de 1963. Nesse ano, diversas agremiações inseriram como uma maneira de diversão o nosso esporte, que era então um lazer. Os campeonatos eram realizados pelo Recreio Guarany, AABB, Grêmio Banrisul e Sindicato dos Bancários. O primeiro movimento organizado foi realizado pelo presidente do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul, Dauro Brandão de Mello. Na própria sede, bancários de várias instituições se reuniram e realizaram o primeiro campeonato. Na sequência, a AABB e o Banrisul efetuaram seus certames. O Recreio Guarany realizava seus campeonatos reunindo uma garotada incrível. Faltava um certame municipal. Foi então que os líderes bancários se reuniram e resolveram criar o campeonato caxiense, o qual se efetivou no segundo semestre de 1963, pela primeira vez na história.
Os botonistas de então, acompanhando a Folha da Tarde Esportiva, tomavam conhecimento da realização do Campeonato Estadual de Futebol de Mesa, patrocinado pela FRFM. O ano findou e nós não fomos convidados a participar desse estadual.
Ano seguinte, tudo aconteceu da mesma maneira. Esperamos para, no final do ano, sermos convidados. Novamente fomos ignorados. Então resolvemos escrever ao presidente da FRFM para saber o motivo que nos impedia de participar daquela que seria a festa maior do botonismo gaúcho. Foi-nos comunicado que deveríamos criar um órgão que dirigisse os certames e esse órgão é quem deveria filiar-se à FRFM. Foi então que, na época cursando a Faculdade de Ciências Econômicas de Caxias do Sul, convocamos os demais líderes e criamos a nossa Liga Caxiense de Futebol de Mesa, nas dependências do centro Acadêmico Amaro Cavalcanti. Fomos indicados para a presidência.
Para coroar essa iniciativa resolvemos organizar um Torneio denominado Liga Caxiense de Futebol de Mesa, convidando todos os dirigentes da FRFM. Vieram, a Caxias, o presidente da FRFM, Sr. Lenine Macedo de Souza, Cláudio Saraiva, Renato Ramos e Sérgio Duro e com o pessoal local, na sede da AABB, realizamos o grande torneio que marcou o início de nossa caminhada. Os amigos da capital levaram para casa todos os troféus em disputa.
No final do ano de 1965, estávamos habilitados a disputar o ambicionado campeonato estadual da modalidade. Deodatto Maggi foi o campeão. No dia marcado, dirigimo-nos para Porto Alegre, o campeão Maggi, Sérgio Calegari e eu, para, na sede social do E. C. Piratas prestigiarmos esse importante acontecimento. Naquele local, encontramos apenas Paulo Borges, campeão porto-alegrense, sua mesa e ninguém mais. Éramos quatro pessoas, das quais somente duas em condições de disputarem o título de campeão. Um de nós atuou como árbitro e vimos Paulo Borges tornar-se campeão gaúcho de futebol de mesa, restando, ao derrotado, a glória de ser vice-campeão. Foi decepcionante, pois não imaginávamos esse quadro tão desmotivador.
Seguimos a nossa vida. A FRFM elege Gilberto Ghizi para sua presidência. Há uma aproximação dele com a Liga Caxiense. Em julho, por ocasião de nosso primeiro aniversário, realizamos um grande torneio, ainda na sede da AABB. Solicitamos ao Ghizi que convidasse, através da FRFM, todos os associados estaduais. Dessa vez, além dos porto-alegrenses, vieram amigos de Rio Grande, Arroio Grande e São Leopoldo. Como nós éramos os patrocinadores, convidamos o baiano Oldemar Seixas para participar, explicando que a regra utilizada seria a nossa regra gaúcha. Nós já enviáramos exemplares da regra para que ele tomasse conhecimento. Para nossa alegria, não só Oldemar Seixas veio ao evento. Trouxe consigo Ademar Carvalho. Atravessaram o Brasil para jogar futebol de mesa em Caxias do Sul.
O torneio transcorreu em alto nível, com os porto-alegrenses vencendo seus oponentes, com apenas um detalhe importante: Ademar Carvalho, jogando com botões padronizados, lisos, enfrentando a cada adversário, vencendo-os, apesar do desconhecimento quase total da regra. Chegou à final com Carlos Saraiva e perdeu por um detalhe, pois, ao atrasar uma bola para seu arqueiro, fê-lo com alguma força e o botão liso carregou o arqueiro e a bolinha para dentro do gol. Foi vice-campeão com méritos. Em sua caminhada derrubou grandes botonistas gaúchos. Isso chamou a atenção de todos os que estavam no torneio.
Após o encerramento, a entrega de prêmios, e servindo como uma confraternização, os dois baianos fizeram uma demonstração do futebol de mesa de sua terra, em uma mesa previamente preparada. Foi nesse momento sublime que a Regra Brasileira começou a ser gerada. Ghizi, aproximando-se de mim comentou: - Eles também jogam um toque, só que em uma mesa maior do que a nossa. Mas a beleza de times padronizados, não usados por nós, é muito linda. E as goleiras maiores dão um colorido todo especial quando chutam ao gol. Dá para acompanhar a bolinha passando pelo goleiro que joga em pé, ao contrário do nosso.
Ghizi continuou nos visitando e numa dessas ocasiões fez um pedido: - Vocês podem organizar o campeonato estadual desse ano?
Respondi-lhe que faria, desde que fosse feito nas três categorias: infantil, juvenil e adulto, e que a FRFM se encarregasse de convidar todos os seus associados. O campeonato estadual de 1966 foi maravilhoso e coroou de êxito a iniciativa do presidente da FRFM. Enquanto alinhavávamos o estadual, trocávamos idéias sobre uma possível regra que, unindo o que havia de bom na nossa com a parte boa da baiana. Abolimos uma série de imperfeições que existiam em ambas as regras e conservamos praticamente a essência do que é hoje a Regra Brasileira. Para o estadual, havíamos conseguido alojar todos os participantes no Seminário Diocesano, pois os alunos estavam de férias. A única obrigatoriedade seria a de cada um trazer seu lençol, travesseiro e cobertas. Não haveria custo algum. A comida nós também havíamos conseguido com um restaurante perto do local onde seriam os jogos.
Na noite anterior ao certame, foi realizada uma Assembléia, comandada pelo presidente da FRFM, onde foi apresentado o anteprojeto da Regra que seria levada à Bahia, para ser discutida. Ponderamos que ela seria a porta para futuras competições em níveis nacionais. Foi aprovada por todos os presentes, não havendo o registro de nenhuma objeção. A Regra Brasileira começava a ganhar sinais de vida.
Na Bahia, discutido ponderadamente todos os itens, foi criada a Regra que deveria mudar o destino do futebol de mesa brasileiro. Do que foi levado por nós, a única diferença existente foi relativa ao tamanho da mesa. Pleiteávamos uma mesa intermediária, maior do que a gaúcha e menor do que a baiana. Diante da argumentação apresentada pelos nordestinos, curvamo-nos, pois muitas associações, principalmente no interior, não teriam condições de modificar suas mesas. Financeiramente seria impossível e isso talvez prejudicasse a aceitação da nova regra. Nós teríamos a obrigação de construir novas mesas, as quais seriam bem maiores do que as que utilizávamos na Regra Gaúcha.
Caxias aceitou e adotou prontamente a Regra, pois foi ela a geradora dessa maravilhosa maneira de jogar, pois, em julho de 1966, havia mostrado aos botonistas gaúchos que haveria uma possibilidade real de unir todos os brasileiros ao redor de mesas, praticando aquilo que gostamos de fazer, jogar botão. Para isso seria necessário abdicar de algumas práticas que dominávamos e aprender novas. Infelizmente, nem todos quiseram começar algo novo e continuaram jogando a regra gaúcha, sem a possibilidade de grandes eventos de proporção nacional.
Por isso, meus amigos, a Liga Caxiense de Futebol de Mesa, hoje AFM Caxias do Sul, foi a geradora de uma idéia que deu certo. Aliás, deu muito certo, para a felicidade de todos nós.
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy

domingo, 18 de março de 2012

FUTEBOL DE MESA E RELIGIÃO NÃO SE DISCUTEM: SEGUIMOS AQUILO QUE NOS CONVÉM

Por acaso já passou pela cabeça de cada um de vocês a possibilidade de a CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL DE MESA decidir, demagogicamente, que, de uma data em diante, somente uma determinada regra contemplará as disputas em nível nacional? Fatalmente será o caos, pois quem não estiver afinado com a regra escolhida, ou deixará de praticar, ou continuará a jogar a sua preferida como fazíamos na antiguidade, isoladamente.
Para atingirmos o estágio atual, necessário foi sentarmos em mesas redondas e trocarmos ideias, conhecermo-nos, aceitarmo-nos e abrir mãos de muitas conquistas individuais.
Da mesma forma que praticamos uma determinada religião, aceitando que nosso vizinho pratique outra e até parentes escolham uma terceira bem diferente. Todas elas têm um único objetivo, que é amar a Deus e ao seu semelhante, nosso irmão. Essa liberdade está na Constituição da República Federativa do Brasil, nos Direitos e Garantias Fundamentais, capítulo I, Artigo V, parágrafo VI: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.”
Assim, cada um de nós segue a religião que quiser.
Sendo assim, jogamos na maneira que mais nos agrada. Se optarmos pela Regra de um toque, vamos em frente e tentemos ser o melhor nela. Da mesma maneira, se essa opção for pela de três toques, ou doze toques, ou mesmo dadinho, modalidade adorada pelos cariocas. Há também as escolhas regionais. Há pessoas que jogam a nossa Regra Gaúcha, a Regra Unificada, de autoria de Enio Seibert, que utiliza os mesmos botões da gaúcha, assim como existem outros que preferem a Regra Toque-toque, ou Leva-leva, do Fred Mello. Os pernambucanos adoram a Regra Pernambucana, apelidada, por eles, de a Rainha das Regras. Mas, lá também existe quem pratique a Regra Fogo Tebei. Na Paraíba, há uma Regra Paraibana, com muitos adeptos. No Pará, joga-se a Regra Celotex, cujos participantes realizam campeonatos dentro dos grandes clubes de futebol, ou seja: Remo e Paissandu. No Rio, existe a pastilha, e o pessoal que a pratica a adora. São várias as maneiras de praticar o futebol de mesa, o nosso querido jogo de botões.
O trabalho conjunto no sentido do reconhecimento pelo CND foi feito com a participação dos líderes das três Regras mais praticadas no país. A Regra de Um Toque (Regra Brasileira), a de Três Toques e a de Doze Toques. A maioria esmagadora dos botonistas brasileiros pratica uma das três. Foi essa força que conseguiu transformar uma diversão em esporte.
Imaginemos, então, que o nosso Presidente Farah escolha uma delas e exija que o restante do país a pratique. Seria a derrocada de tudo o que foi construído desde a década de oitenta, quando a aproximação foi iniciada. A Confederação adotou a Regra do Dadinho e a oficializou. Seus adeptos estão espalhados de norte a sul do país.
Agora, teremos, no Brasil, o Campeonato Mundial de Futebol de Mesa. As Regras a serem utilizadas serão a nossa de Doze Toques e o Sectorbal (Regra Húngara, trazida por dirigentes da Federação Paulista e já incorporada no clube brasileiro que mais apoia o futebol de mesa: C. R. Vasco da Gama.
Essa é a oportunidade de todos poderem tomar conhecimento de como o nosso futebol de botões é apaixonante. Pessoas que praticam o futebol de mesa em outros países estarão aqui, em nosso solo, disputando esse Mundial.
Sinceramente, eu desejaria que fosse disputado o Mundial nas Regras Oficiais do CND e mais o Sectorball, já que esse é difundido na Europa há muito tempo. Assim poderíamos sentir a reação dos botonistas estrangeiros ao conhecer as nossas três principais regras de jogo. Quem sabe não seriam adotadas em outros países a nossa regra de um toque e a de três toques?
A grande maioria brasileira joga a Regra de Doze Toques, mas ela não é a única em nosso país. Outras existem e devem ser mostradas aos que nos visitam. Talvez estejamos muito perto da data da realização desse espetacular campeonato, mas a ideia fica lançada e que o nosso vice-presidente Robson Marfa consiga sensibilizar o nosso presidente Farah nesse sentido.
Até lá, cada um joga na regra que escolheu, pois para ele é a melhor que pode existir e ninguém o fará mudar de opinião.
Regra 12 Toques

Regra Dadinho

Regra Pernambucana

Regra Brasileira

Regra Gaúcha

Regra 15 Toques
Regra Paraibana

Até a semana que vem, se Deus permitir.
Sambaquy

domingo, 11 de março de 2012

E OS CRAQUES DE FUTEBOL TAMBÉM PRATICAM O FUTEBOL DE MESA?

Cada um de nós criou o seu time, colocando os seus craques preferidos, independentemente de pertencerem ou não ao clube escolhido. Já vi Pelé em diversos times. Assim como Zico, Sócrates, Falcão e, na atualidade, Messi e Cristiano Ronaldo.
Mas será que eles já praticaram o futebol de mesa?
Logo após a conquista da primeira Copa do Mundo, no ano de 1958, o Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro, estampou uma foto de Garrincha jogando com um menino. No texto, a afirmação, enquanto espera a copa de 1962, Garrincha joga futebol de botões.
Em uma antiga revista Placar, foi feita uma entrevista na concentração do Santos F. C. e, nas fotos estampadas, há uma que chama a nossa atenção. O treinador da equipe, o conhecido e competente Formiga estava jogando botão contra o arqueiro Marola. Havia também outros tipos de jogos que serviam para os jogadores ocuparem as horas em que teriam de ficar “guardados” na concentração.
Na mesma revista, em uma reportagem sobre o futebol de mesa, foi estampada uma foto do craque da Seleção e do Corinthians: Sócrates jogando uma partida contra o artista global Osmar Prado. 

Pelé, quando parou de jogar profissionalmente jogou futebol de mesa e conseguimos uma foto de uma reportagem na qual ele fala de seu amor pelo Santos e afirma que seu time de botão “industrializado” era o Corinthians. O mesmo Corinthians que ele tanto maltratou em seu período de reinado futebolístico.

Conversando com o Vanner, botonista carioca, o mesmo me contou que o Bebeto possui uma mesa feita de jacarandá. Deve ser a mesa de jogar mais cara do planeta. Há pouco tempo, encontrei uma foto do Vanner com o Bebeto em uma visita que esse fez ao seu clube lá no Rio de Janeiro.

Quem ainda se lembra do Dirceu Lopes, a cabeça pensante do Cruzeiro da época de Tostão e Wilson Piazza? Pois em uma excursão do Cruzeiro à Bahia, ele demonstrou a sua curiosidade em conhecer o futebol de mesa na regra Brasileira. E foi levado à sede social da Liga Baiana e jogou contra o ícone Oldemar Seixas. E o fez direitinho, tendo recebido do fabricante baiano, Seu José Aurélio, um lindo time do Cruzeiro em acrílico.

Em Recife, o pessoal do futebol de mesa do Sport Clube do Recife, organizou um torneio e o denominou Torneio Magrão, em homenagem ao arqueiro que tantas alegrias tem dado aos torcedores do clube rubro negro. Pois o Magrão, em pessoa, esteve na sede e bateu uma bolinha com os integrantes para deleite geral da moçada.

Em junho de 2011, o jornal Zero Hora, de Porto Alegre reuniu os goleiros de Grêmio e Internacional, Marcelo Grohe e Muriel, numa entrevista denominada Missão: possível – Agentes 001 da Dupla. Como a entrevista era televisionada, os dois apareceram disputando uma partida de botões. Vitor estava na Argentina defendendo a seleção brasileira.
A alegria de ter um botão batizado com o nome de um craque será sempre um motivo a mais para praticar, com qualidade, o nosso esporte. Encomendei um novo Internacional e nele estarão todos os meus amigos, os quais foram jogadores do Inter. Cestari (meu companheiro de quartel), Dadá (que jogou de lateral direito no Flamengo, mas que veio do Inter), Bob, (meu amigo Robson, companheiro de futsal de Brusque), Ghizoni (pai do grande botonista Boby e meu amigo de tempo do Flamengo), Paulinho (lateral esquerdo do Flamengo e que veio do Inter), Gaspar (que veio do Inter para o Flamengo e depois foi parar no Grêmio), Puccinelli (irmão do Sylvio, um dos melhores botonistas de Caxias de todos os tempos), Borjão (meu colega de Banco do Brasil), Maciel (nunca jogou no Inter, mas é meu filho do coração), Paulo Cesar Carpeggiani (meu grande ídolo futebolístico), Irajá Machado de Carvalho, (começou no Juventude, passou pelo Inter e terminou no Flamengo de Caxias), Tarica (que jogou no Inter, Corinthians e Flamengo de Caxias), Brito (lateral que jogava no Juventude e que veio do Inter) e o meu amigo Cezar Bagatini, o goleiro número 14, que com certeza será titular, pois é muito mais novo do que o Cestari.
Essa será a minha derradeira homenagem aos amigos que um dia fizeram a alegria de milhares de torcedores colorados e que, hoje, estão aposentados do futebol. Dessa forma, serão eternizados em um time de botão que será a alegria de meus adversários, pois meus jogos serão apenas de demonstração. Nada a sério.
Posso ter esquecido algum grande craque que tenha jogado botão. Mas, cada um de vocês haverá de lembrar uma grande quantidade deles, quando folhear revistas e os encontrar batendo uma bolinha.
Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Sambaquy

domingo, 4 de março de 2012

GOLS INESQUECÍVEIS – ALEGRIA E TRISTEZA

Cada um de nós tem um filme rodando em sua memória, lembrando momentos inesquecíveis que trouxeram alegrias imensas, uma euforia incontida, um grito alucinante que nos colocava como guerreiros medievais. Era o momento em que o botão saía de nosso comando e encontrava a bolinha, fazendo-a adormecer no fundo das redes adversárias. Era um brilho que iluminava o rosto da gente num êxtase de conquista inimaginável, gerando em nosso íntimo o despertar do menino que vibrava quando recebia o presente esperado.
Cada um de nós terá histórias para contar, com resultados semelhantes. A construção de uma jogada que conseguiu amordaçar o nosso adversário e culminou com o nosso grito de gol.
Particularmente, eu tenho vivo em minha memória dois gols que me fizeram vibrar de maneira espetacular. O primeiro foi no jogo final, realizado pelo campeonato brusquense, no ano de 1978. Jogava contra Márcio José Jorge (Moto Clube) que lutava pelo bi-campeonato. Eu lutava para alcançar o meu terceiro título no certame citadino. O jogo, como só poderia ser, estava amarrado, sem chances para ambos os lados e jogado no dia 4 de janeiro de 1979.
Na metade do segundo tempo, consegui colocar uma bola na entrada da área resguardada pelo Márcio. Ele não consegue cortar e seria a minha grande chance de um chute ao gol. Quase todos os botões estavam em posição difícil. Restava o Valdomiro, pela ponta direita. Seria um chute em que eu deveria conseguir um ângulo de 90 graus. Se não acertasse a bolinha, haveria o perigo de cometer falta em um botão adversário. E isso seria fatal, pois o Márcio teria dois toques e fatalmente sairia na frente. Só havia uma chance e tinha de ser o Valdomiro mesmo. Olhei bem para a bolinha e depois para o Valdomiro. Coloquei a ficha e rezei para dar certo. Nem cheguei a olhar para o gol adversário para não perder a concentração naquilo que estava planejando. Foram alguns segundos de concentração; a ficha desceu e o Valdomiro partiu em direção à bolinha. Alcançou-a exatamente no ponto ideal e a bolinha levantou em direção ao gol. Passou por cima do goleiro e estufou a rede do Moto Clube. Eu não sou de gritar, mas não pude resistir e pulei, gritando “golaço”...
Com a vantagem ainda consegui um segundo gol que consolidou o meu terceiro campeonato brusquense.
O segundo aconteceu alguns dias depois, ou seja, mais precisamente no dia 21 de janeiro de 1979, no Campeonato Brasileiro realizado em Vitória (ES). Estava jogando a minha classificação para as semifinais do referido campeonato. Meu adversário era Wilson Marques, do Rio Grande do Norte. Um jogo bem catimbado e bastante difícil. O resultado 1 x 1 indicaria uma decisão por pênaltis à distância. Foi então que consegui jogar uma bola na intermediária direita comandada pelo Wilson. Ele não conseguiu encobrir e nem afastar a bolinha. Estava distante do gol e eu tinha, à minha disposição, somente o Paulo Cesar Carpeggiani, na minha intermediária esquerda. Mandei colocar e usei a mesma concentração que havia usado no gol do Valdomiro. Só havia um lugar para acertar a bolinha e tinha de ser ali que o Paulo Cesar chegaria. A ficha em cima do botão, os olhos fixos na bolinha e a sorte foi lançada.
O Paulo Cesar saiu célere e alcançou a bolinha exatamente onde eu imaginara. Essa levanta e encobre o goleiro, com bastante força. Bate na rede atrás dele e volta ao campo. Wilson, muito matreiro, diz: não foi gol. E o árbitro confirma: não foi gol, foi um golaço espetacular. Isso foi confirmado por todos os que estavam assistindo, que aplaudiram o gol. Eu não gritei, pois fechei os olhos e só abri quando escutei o juiz dizer que eu havia feito um golaço. Venci o jogo por 2 x 1 o que me habilitou a jogar contra o Átila Lisa nas semifinais.
Assim como eu tive a felicidade de fazer esses dois gols, meus adversários que lutavam pelo mesmo objetivo, com certeza tiveram a tristeza que cada um deles produziu em suas vidas de botonistas, pois dificilmente nos esqueceremos daqueles momentos que nos deram alegrias ou decepções.
Como venho praticando a regra de 12 toques, pois aqui não há núcleos que joguem a Regra Brasileira, tenho sentido que os gols são construídos, procurando sempre a melhor posição para o arremate final. Bem diferente da nossa regra, quando surge uma oportunidade, talvez seja essa a única que teremos no jogo. Geralmente, para chutar ao gol, o pessoal chega até a entrada da área, isso lá pelo 11º ou 12º toque, quando então mandam colocar. Essa é a grande dificuldade que eu encontrei, pois a bolinha sobrando, eu chuto ao gol, seja de onde for. Com isso, eu dou chance ao adversário, pois, após meu chute ao gol, a bola será sempre de posse dele e ele realizará seus doze toques. Mesmo assim eu consegui um lindo gol, num jogo realizado no campeonato do ano passado e que foi filmado pelo meu amigo Ivo. Não sei se haverá a possibilidade de reproduzir o vídeo de sete segundos, mas, se for possível, valerá a pena ver um gol que achei lindo, pois foi chutado de longe e encobriu o goleiro adversário.
Como o gol é o objetivo de cada botonista, ainda há de se salientar quando se consegue e o mesmo é anulado. Essa história é antiga e aconteceu em Pelotas. Um grande botonista estava lutando para a sua classificação e o jogo empatado. Quase no final desse, seu adversário comete pênalti. O nosso amigo apanha seu número 11 (Pepe), coloca na frente da bolinha e o adversário diz pode chutar. Ele chuta, marca o gol da classificação e o árbitro o anula, afirmando que ele não havia mandado colocar. Mas, sendo uma pena máxima, um pênalti, fica subentendido que vai ser chutado ao gol. Mas, enfim, acabou que aquela associação perdeu um líder natural que acabou ajudando outra a se projetar no cenário botonistico pelotense e gaúcho.
Há, também, a história, essa, na regra de doze toques, em São Paulo, contada pelo meu amigo saudoso Antonio Maria Della Torre. Seu filho mais velho, Henrique, estaria jogando contra Gabriel, seu sobrinho. O Gabriel deu a saída e na sequência perdeu a bola para o Henrique, perto da área penal deste. Como a bola ficara muito ajeitada para o botão do Henrique, mas contra a sua própria meta, o Gabriel, muito maroto, perguntou: “Vai Chutar?” O Henrique, eterno super distraído, falou: “Vai pro gol”! O Gabriel, já esboçando um sorriso, sem tocar no goleiro do Henrique, falou: “Tá”. E o Henrique mandou a bola contra suas próprias redes em meio a uma gargalhada geral.
Por essa razão, meus amigos, o gol é a concretização de todos os sonhos de todos nós botonistas. Quando o conseguimos, a alegria e a satisfação fazem parte e até a cerveja no final fica mais deliciosa. Quando os nossos adversários é que ficam felizes, apenas comemoramos junto a eles, mas com um gostinho amargo na boca.
Queiram ou não, é assim mesmo. Em qualquer regra.
Aqui um dos meus gols marcados na regra 12 toques

Até a semana que vem, se Deus assim permitir.
Adauto Celso Sambaquy