segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A IMPORTÂNCIA DO MÁRIO DE SÁ MOURÃO PARA O FUTEBOL DE MESA DE CAXIAS.



São muitas as pessoas que mereceriam citações como fomentadores do futebol de mesa de Caxias. Geralmente são aficionados pelo esporte, os quais acabam dedicando-se inteiramente para o crescimento daquilo que amam e praticam.

Hoje, não falaremos de um botonista contumaz, mas de um amigo que ajudou a elevar o nome de nossa cidade, do nosso futebol de mesa, aos recantos mais afastados desse nosso país. Essa pessoa chama-se Mário de Sá Mourão. No governo do prefeito Victório Três, convidado, assumiu a presidência do Conselho Municipal de Desportos e trabalhou incansavelmente para mostrar o potencial esportivo de Caxias do Sul.

Como éramos amigos, fomos até ele, levando a idéia de realizar em nossa cidade um campeonato brasileiro de futebol de mesa. Já haviam sido realizados dois campeonatos, um em Salvador (Bahia) e outro em Recife (Pernambuco). Mostramos as fotografias tiradas em ambas as competições e explicamos detalhadamente como seria promovido o nome da cidade em todo o país, pois em todos os cantos dele há um botonista. Marcos Fúlvio de Lucena Barbosa me ajudava em todos os momentos e também era amigo do Mário de Sá Mourão. Foi providencial a sua participação no sentido de conseguirmos o sim definitivo. Foi então que recebemos a noticia tão aguardada: Vamos fazer o campeonato brasileiro. Podem convidar as pessoas de todos os estados, pois Caxias abrigarará cada um deles.

Então começou o trabalho do Sá Mourão. Sua primeira providência foi nos chamar para a sede da AABB para uma foto com o troféu de campeão, de vice, terceiro e quarto e a grande novidade, até então inexistente nessa modalidade: um troféu de comparecimento e reconhecimento a cada um dos botonistas que estariam jogando em nossa cidade. Com as fotos prontas, nosso trabalho foi enviá-las juntamente com os convites. Então começaram a aparecer jornais de todos os pontos do país com as nossas fotos, anunciando o campeonato a ser realizado em Caxias do Sul.

Sá Mourão convoca toda a imprensa escrita e falada de Caxias para um churrasco na AABB, quando então foram expostos os nossos objetivos. Além dos radialistas e jornalistas, esteve presente o Vice Prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho, que também tentou jogar contra Getúlio Soares da Rádio Difusora Caxiense. Com o apoio dos órgãos de divulgação, conseguimos encher o Ginásio da AABB, com pessoas vindas de todos os cantos da cidade e de cidades distantes, como pessoas de Uruguaiana, na fronteira com a Argentina.

O campeonato em si foi um sucesso grandioso. O campeão foi o carioca Antonio Carlos Martins, ficando o baiano Orlando Nunes com o segundo lugar. Em reconhecimento ao tratamento recebido em nossa cidade o Orlando entrega ao Sá Mourão o seu Botafogo, vice campeão brasileiro. Foi seu primeiro e único time.

A festa de encerramento foi emocionante, realizada na AABB, com a presença do Prefeito Municipal Victório Três, gerente do Banco do Brasil, presidente da AABB, todas as rádios e jornais da cidade.

Passado o campeonato, Mário de Sá Mourão começa a jogar conosco, em nossa sede, no Edifício Martinato. E acreditem, jogamos seis vezes e o venci cinco vezes, mas fui derrotado em 20 de junho de 1973, por 3 x 2, fazendo três gols contra.

As proezas do Mário são histórias que já foram comentadas em um artigo anterior. Em agosto de 1973 fomos convidados a apadrinhar uma Associação na Bahia, presidida por Oldemar Seixas. Era a nossa chance de agradecer tudo o que Sá Mourão havia feito por nós e então o convidamos, deixando o Marcos Fúlvio de fora. Seguimos para a boa terra, com o nosso botonista mais novo. Foi esta a melhor viagem que fiz em todo o meu tempo de futebol de mesa, pois não havia momento do dia ou da noite em que não estávamos todos dando boas risadas, pois o Sá Mourão sempre era dono da piada pronta.

O Oldemar tinha um fusquinha, colocava todos nós dentro do carrinho e íamos de um clube a outro. Numa noite, passando por um parque, vimos um casal de namorados, abraçados. O Sá Mourão mandou o Oldemar diminuir a marcha, e, quando cruzávamos por eles, colocou a cabeça para fora e gritou: “Vai comer ai ou quer que embrulhe?” O Oldemar ficou branco, pois era figura conhecida em Salvador e há muito mantinha um programa no ar: “Bahia, Campeão dos Campeões”. Se o reconhecessem, ele iria pagar o pato pela ousadia do gaúcho....

No torneio que fizemos por lá, jogando contra verdadeiras feras do botonismo, todos nós fomos presas fáceis. E o Sá Mourão não se alterava com nada. Foi apelidado de Turista do Futebol de Mesa.

No retorno, continuou ajudando bastante a então Liga Caxiense. Acredito que cansou de jogar e perder, mas jamais cansou de ser a pessoa grandiosa que sempre foi, agradando a todos, alegrando os ambientes e sendo o nosso Turista do Futebol de Mesa.

Nas festividades dos 45 anos da AFM Caxias do Sul, contamos com a presença dele, o que nos deixou emocionados, pois seu nome está anotado com letras de ouro no livro da vida daquela entidade, que ele ajudou enormemente.

São amigos assim que nos fazem sentir como é bonito o trabalho que desenvolvemos no futebol de mesa, pois sem ser um botonista nato, foi um tremendo colaborador e divulgador de nosso esporte.

Por isso, hoje a nossa homenagem a esse amigo que Deus colocou em nosso caminho. Que tenha vida longa e continue sendo sempre essa pessoa que cativa a todos que o conhecem.

Desejo mostrar a todos vocês duas fotos dele, em momentos diferentes. Uma na divulgação do terceiro brasileiro e outra visitando a nossa AFM por ocasião dos 45 anos.

Um grande abraço a esse amigo e que apareçam inúmeros Mários em nossa caminhada.
Até a semana que vem se Deus quiser...

Sambaquy.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O CUSTO DE UM TIME DE BOTÃO.


A história nos faz refletir sobre o quanto custa um time de botão. Ora, se no início os times eram de botões de roupa, coisa de garotos que se aproveitavam dos botões de paletós, capas de chuva, botões enfeitados de vestidos de suas mães, o custo era no máximo umas palmadas, hoje em dia a transformação faz com que tenhamos de gastar pequenas fortunas.

Mas, para os botões, depois de apropriados, havia a necessidade de prepará-los para serem craques. Quase todos os dias, na minha rua, viam-se jovens sentados na beirada da calçada passando seus craques na laje, fazendo com que perdesse a primeira camada baixa, para não saltarem por cima da bolinha. Depois vinham as lixas mais finas que ajudavam na transformação.

O melhor fabricante de botões de nosso bairro era o Renato Toni. Ele conseguia surpreender a todos, sempre com novidades. Com o tempo, apareceram os iô-iôs e o Renato conseguia fazer deles um par de zagueiros intransponíveis. Mais adiante as tampas de potes de cremes de beleza também eram utilizadas, e, transformados em bons zagueiros. O problema eram os atacantes, pois naquela época ninguém falava em graus no declive dos botões. Era tudo no olhômetro. Calculava-se a caída e procurava, com um vidro deixar o botão semelhante em toda circunferência.

E assim foram sendo criados bons times. Os melhores botões eram sempre cobiçados.

Passam-se alguns anos e surge em Porto Alegre a fábrica de botões puxadores. A principio eram todos de uma só cor, mas foram ficando cada vez mais sofisticados e começaram a surgir botões em camadas. Para os nossos padrões eram caros e bastante difíceis, pois naquela época viajar à capital só se fosse nas férias. Mesmo assim começaram a chegar aos poucos em Caxias. Quem conseguia um ou outro era invejado. Tinha de jogar em diversos lugares para mostrar o craque “importado”.

Até que, em determinada época, a Livraria Saldanha começa a vender botões fabricados em Porto Alegre. Foi uma festa para os botonistas caxienses.

Eu já cursava o ginásio e lá encontrei o Marcos Pedro Amoretti Lisboa, filho de uma professora e que era um exímio botonista. Além disso, o Marcos tinha uma habilidade fora do comum para preparar craques. Havia desenvolvido uma espécie de torno manual, no qual fazia os botões ficarem com ângulos específicos para determinadas posições. Lembro ainda do zagueiro “faz tudo” que ele utilizava. Esse botão levantava a bolinha em quase toda a circunferência, mas, uma parte era cega e quando colocada a bolinha nela, não levantava e assim ele cavava os laterais e corners. E era esse zagueiro que ia bater os escanteios para que um dos três botões colocados na área adversária cabeceasse a bola para o fundo das redes.

Em uma ocasião, o Marcos e eu pegamos uma carona de caminhão e fomos até Porto Alegre, com a finalidade de comprar botões. O caminhão nos deixou em determinado ponto e de lá, apanhamos ônibus e fomos até à rua Paulino Teixeira, número 51, onde nos encantamos com o paraíso dos botões. Enchemos os bolsos e rumamos à Rodoviária para regressar à Caxias, felizes como alguém que consegue realizar o seu sonho mais sonhado.

Entretanto, haviam botões que marcaram época em Caxias. Um deles era um botão marrom que havia sido rompido e que fora colado. Mas, ficou tão bom que jamais errava um chute ao gol. Fiz economias, deixei de ir ao cinema, de tomar refrigerantes, sorvetes e de comprar meu doce de batata doce e consegui reunir o montante para comprar o passe do”Colado”. Estava realizado, só que na estréia, em casa de uma família que morava perto do campo do Juventude, o “Colado” foi roubado. Chamei todos eles de ladrões e chorei muito. Havia custado bastante sacrifício ter aquele botão e agora um ladrão o havia levado. Deixei de jogar nas casas que me convidavam depois dessa desventura.

Houve uma época em que encontrei um rapaz que morava perto de minha casa e que fazia botões de casca de coco. Seu nome era Riário Neves. A mãe dele era doceira e ele era quem quebrava os cocos, aproveitando as cascas para fazer botões. Comprei dele vários botões e colava o retrato de jogadores do Vasco da Gama, cuja foto eu havia ganho de um amigo.

Quando estava com dezessete anos, jogava futebol de campo com amigos e em determinada ocasião deixei os meus times na casa de um deles. A fatalidade aconteceu e a casa pegou fogo. Dois times foram cremados naquela noite.

Aos poucos fui conseguindo formar um novo time. Já estava trabalhando e ganhando meu próprio dinheiro e isso facilitava as coisas. Na escola onde fazia o curso de Contabilidade, o meu amigo e colega Raul José Stalivieri, sabendo que eu estava juntando botões me presenteou com um botão preto, atacante, que logo recebeu o apelido de Vitor. E como o Vitor marcava gols. Foi dele o gol da vitória de meu primeiro troféu, campeonato da AABB de 1963.

Os botões panelinha, fabricados em plástico, eram mais utilizados pelas crianças que jogavam em estrelões. Nós jogávamos nas mesas da regra gaúcha. Entre nós não houve muita aceitação deles, pois os puxadores eram botões muito caprichados, muito embora não houvesse um padrão definido em qualquer time. Usávamos botões de diversas cores, desde que gostássemos dele. O único padrão que tínhamos era o número, colado na parte de cima dos botões, ou então a foto recortada do rosto do jogador.

Foi então que surgiu o botão baiano, padronizado, com diferenças entre defensores e atacantes. Os introdutores foram Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. Vieram participar de um torneio em Caxias e trouxeram alguns times. Entre eles, uma seleção brasileira que me foi presenteada e que guardo com carinho até os dias atuais. Esse foi o primeiro time que saiu da Bahia com destino certo. Os demais foram todos vendidos aqui em Caxias, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Se tivessem trazido mais cem times, com certeza teriam vendido todos.

Para se ter uma idéia dos valores de compra dos botões, um time de puxadores custava o equivalente a dois jogadores baianos. Nós estávamos finalizando o campeonato de 1966, ainda na Regra Gaúcha, na AABB, logo após a vinda dos baianos e o Deodatto Maggi fez uma proposta inusitada para mim. Pagava pelo meu time da Regra Gaúcha o equivalente ao um time baiano. Não pensei duas vezes, pois o meu amigo/irmão/compadre Vicente Sacco Netto havia confeccionado um time branco e vermelho que eu não utilizava, pois estava acostumado com o time que estava disputando o campeonato. Vendi o time titular e o time que ganhei do Vicente seria o substituto no restante do campeonato. Dias depois eu teria de jogar contra o Maggi e entrei com o time feito pelo Vicente, contra os meus craques. Para tristeza do Maggi, venci o jogo.

Hoje, tenho alguns times guardados. A grande maioria foi presente recebido de botonistas que considero muito em minha vida. Tenho botões que ganhei de Geraldo Decourt, de Oldemar Seixas, de José Ricardo Caldas e Almeida, de José Geraldo Cursino, de Antonio Maria Della Torre, de Vanderlei Duarte e Luiz Ernesto Pizzamiglio, de Oswaldo Fabeni, os quais são intocáveis. Times que ganhei campeonatos não ficaram em minhas mãos. Presenteei-os a pessoas que devem ter valorizado botões campeões.

Para quem não conhece o quanto é dispendioso manter um time de botão, isso é apenas uma amostra do que o botonista realiza. Hoje em dia existem maletas (ônibus), material de limpeza, flanelas especiais, réguas, paletas, bolinhas e tantas outras coisas que são necessárias para o bom desempenho do time. Além disso, o botonista deve estar sempre preparado para as despesas de deslocamentos, pois os torneios são realizados de norte a sul desse nosso país.

Felizmente, consegui ver ser realizado o meu sonho de unir o Brasil em torno de uma mesa de botão.

Semana que vem tem mais, se Deus quiser.

Sambaquy.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

VAMOS TORCER JUNTOS PELA REATIVAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRUSQUENSE.


Como já comentei em inúmeras vezes, após a minha passagem pela presidência da Associação Brasileira de Futebol de Mesa, fui abandonando aos poucos o nosso esporte. Vários outros compromissos eram assumidos e isso, aliado ao desgosto com os acontecimentos havidos, fizeram com que o futebol de mesa perdesse espaço em minha vida.

Entretanto, nunca abandonei totalmente, pois, de longe, acompanhava sempre as atividades desenvolvidas pelos meus amigos. A partir de 1982, cada vez menos eu comparecia à sede da ABRFM para jogar. Até 1986, os campeonatos foram jogados regularmente. Desde 1974 os campeões foram Adauto Celso Sambaquy, 1975 – Valmir Merisio, 1976 - Adauto Celso Sambaquy, 1977 - Marcio J. Jorge, 1978 – Adauto Celso Sambaquy, 1979 – Sérgio José Moresco, 1980 – Marinho Vieira, 1981 – Edson Appel, 1982 – Edson Cavalca, 1983 – Edson Cavalca, 1984 – Roberto Zen, 1985 – Décio Belli, 1986 – Toni Nicola Bado. Foi então que houve a primeira parada, pois até o ano de 1991 nada foi realizado.

No ano de 1991, a garotada que disputava torneios juvenis e infantis, reuniram-se e passaram a ocupar a sede realizando campeonatos regulares, com a presença de alguns antigos botonistas. Em 1991 – Carlos Bernardi, 1992 – Marcelo Bianchini, 1993 – Ricardo Zendron, 1994 – Marcio Muller continuaram a escrever a história. Então dá-se mais uma parada, desta vez até 1997, quando Carlos Bernardi consegue o seu bi-campeonato . De 1997 até os dias atuais tudo foi abandonado. Por coincidência, nesse ano eu vim morar em Balneário Camboriú.

Muitas vezes conversava com o pessoal que investiu pesado na construção de nossa sede social. Faltava a pessoa que estivesse interessada em movimentar o futebol de mesa, que arregaçasse as mangas e começasse o trabalho que sempre é muito e desgastante. Ninguém desejava ficar com o encargo.

A luz no final do túnel apareceu agora, em 2011. Por uma feliz coincidência, Ítalo Petrechelli é transferido de Pelotas para Brusque. E, como apaixonado pelo futebol de mesa tenta saber com os mais antigos quem movimentava o esporte na cidade.

Surge a figura do Sérgio de Oliveira, esse gigante do futebol de mesa gaúcho que chama a atenção do Ítalo e o coloca em contato comigo. Conversamos e isso estimulou a minha procura pelos antigos líderes brusquenses. Muitos deles, hoje com suas empresas próprias, talvez não tivessem interesse em voltar. Mas, ao conversar com alguns deles e dizer que o nosso amigo Ítalo estaria fazendo o grande serviço de restauração, o interesse parece que voltou e prometeram-me ajudá-lo naquilo que fosse possível. Dois dos últimos campeões da primeira leva de participantes ficaram entusiasmados e eu acredito que tanto o Roberto Zen como o Décio Belli estarão dando cobertura para a reativação do nosso futebol de mesa brusquense.

Jamais poderemos esquecer o valor de Brusque no contexto nacional, pois foi lá que se realizou o primeiro Campeonato Sul Brasileiro de Futebol de Mesa, em 1979, e em 1981 o sétimo Campeonato Brasileiro. E também tivemos o segundo Torneio Proclamação da República , patrocinado pelo Marcos Zeni, que o levou de Caxias à Brusque, numa homenagem que nos envaideceu muito. Sem contar as grandes promoções que houveram com a Afumepa, com Florianópolis e a turma do Joel Dutra, e principalmente com o pessoal de Caxias do Sul. Muitos botonistas caxienses estiveram em nossas casas, pois os acolhíamos com amizade e eles estavam sempre em casa de algum associado, pois eram nossos irmãos queridos. Estiveram participando de nossos torneios o Airton Dalla Rosa, o Luiz Ernesto Pizzamiglio, o Nelson Prezzi, o Marcos Antonio Zeni, o Adaljano Tadeu Cruz Barreto. Visitas como Oldemar Seixas, Jomar Moura e Claudio Schemes eram constantes em Brusque. Foi na nossa sede que homenageamos o Geraldo Cardoso Décourt com uma placa de prata, durante um churrasco oferecido ao nosso grande botonista brasileiro.

A Associação Brusquense de Futebol de Mesa participou dos Campeonatos Brasileiros de Vitória (ES), Pelotas (RS), patrocinou o sétimo e pela última vez participou do de Itapetinga (BA).

Eu acredito que, se for venturoso o trabalho do Ítalo, voltaremos a ver dias de glória na sede da ABRFM, agora abrangendo dois tipos de regra, pois o Ítalo está associado ao Marcilio Dias de Itajaí, o qual adota a regra de 12 toques. Com isso, dois participantes do Marcilio, residentes de Brusque, terão condições de praticar com regularidade o futebol de mesa na regra de 12 toques, ajudando o trabalho de reconstrução.

Além disso, o apoio da Federação Catarinense será enorme, uma vez que já havia interesse dela em implantar a Regra Brasileira nas disputas estaduais. Com o esforço de um jovem praticante, que já encontrou em Florianópolis um clube para jogar, será um achado e a revitalização de nosso futebol de mesa.

Estou vibrando com isso. Quem sabe os botões guardados há mais de vinte e cinco anos possam ser retirados da gaveta em que estão guardados.

Vamos torcer pelo sucesso do Ítalo.

Até a semana que vem.

Sambaquy

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

38 CAMPEONATOS BRASILEIROS JÁ FORAM REALIZADOS.


No ano do centenário do Mestre Décourt será realizado o 39º campeonato brasileiro de futebol de mesa na Regra Brasileira. Confesso que estava um pouco distante dessas realizações grandiosas que iniciaram com a atitude vitoriosa do grupo que criou a regra, com a intenção da realização do primeiro brasileiro da modalidade.

Foi no distante ano de 1970, realizada em Salvador, que foi dado o ponta pé inicial para essa grande confraternização em torno de mesas, sonho que acalentávamos desde a década de sessenta. E lá se vão trinta e oito campeonatos brasileiros realizados.

Confesso que não estava acompanhando de perto, pois a minha participação se restringiu até o sétimo campeonato, realizado em Brusque, quando ainda era presidente da Associação Brasileira de Futebol de Mesa. Até então, nossos irmãos nordestinos estavam sobrando nas mesas. Sergipe, Bahia e o Rio de Janeiro, que sem ser no nordeste, já havia beliscado um campeonato em Caxias do Sul, através do Antonio Carlos Martins. Reinavam nas mesas e carregavam os troféus maiores para suas sedes.

Mas, a partir do oitavo campeonato brasileiro, quando terminou empatado e sem possibilidade de haver o desempate, o Rio Grande do Sul começou a escrever seu nome nesse rol de campeões. Deixaram os gaúchos tomarem o gostinho de trazer troféus para casa e a coisa complicou para os irmãos nordestinos.

Houve a abertura em 1978 para os botões cavados participarem das disputas. Isso tornou-se uma faca de dois gumes para aqueles que praticavam com botões lisos, pois quem jogava de cavado dificilmente errava uma cobertura, ao passo que para os lisos era sempre bem mais difícil. Até 1991 as disputas reuniam os dois tipos de botonistas em um certame só. A partir de 1992 começam a serem realizados dois campeonatos simultâneos: lisos e cavados. Com isso aumenta o número de campeões anuais, superando a marca de 38 campeões brasileiros, pois a partir daquela data serão dois ou mais os campeões em cada ano.

Salvo melhor juízo, o recorde de títulos ainda continua com os amigos baianos que somam até 2008, vinte e dois títulos, seguidos pelos gaúchos que já alcançaram suas dezessete conquistas. Depois encontramos os cariocas com seus sete títulos, Sergipe e Rio Grande do Norte com três e os estados do Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná e São Paulo que abiscoitaram um título.

Os heróis gaúchos que tiveram a humildade de aprender para agora ensinar, gravaram seus nomes com letras de ouro na Federação Gaúcha, são os seguintes: Miguel Fernando de Oliveira, Victor Afrânio de Lima, Cláudio Luiz Schemes, Aldyr Rosenthal Schlee, Luiz Fernando Silva, Nilmar Ulgim Ferreira, Vitor Mecking, Guido Antonio Stein Garcia por duas vezes, Robson B. Bauer com duas conquistas, Alex Antonio Degani também por duas vezes, Gilvan Silva Moreira por duas oportunidades e Luiz Antonio Rodalles que também venceu em duas. Saliente-se que nos dois primeiros campeonatos havia a disputa por equipes. Eram três integrantes em cada equipe. Nelas o Rio Grande conseguiu o quarto lugar em 1970 e o quinto em 1971. Sobre isso já escrevi quando falei sobre o primeiro e o segundo campeonatos brasileiros da modalidade.

Ao escrever essa coluna sinto o quanto foi bom para o meu estado natal e para os demais estados da união, a realização da empreitada que realizamos para chegar a uma regra que pudesse reunir tantos praticantes ao redor de uma mesa. Vejam bem a diversidade de estados campeões. São nove estados que conseguiram o campeonato brasileiro de futebol de mesa na Regra Brasileira.

E muitos ainda teimam em chamar a nossa regra de Baiana. Nada contra a regra baiana que tinha muita coisa absurda que foi abolida com a unificação. Devemos lutar pelo nome de Regra Brasileira, pois foi a primeira a ser oficializada em disputas nacionais, queiram ou não as demais regras. Todas são ótimas, mas o primeiro passo foi dado em 1967, na célebre reunião entre gaúchos e baianos. De lá para cá quanta glória e quantas vitórias conseguimos.

E voltando a falar do mestre Décourt, quando lhe mostrei as coletâneas sobre o futebol de mesa e falei dos campeonatos brasileiros já realizados, ele ficou encantado e na produção do Hino do Botonista ele salienta que “jogando em qualquer regra, vou praticando o meu lazer”, referindo-se a quantidade de regras existentes, já que ele jogava a sua regra paulista. Para o encontro que teve com Getúlio Reis de Faria, no Rio de Janeiro, quando comemoram o cinqüentenário de sua regra celotex, usou um time liso que lhe enviei, pois o Getúlio praticava a Regra Brasileira.

Por isso, meus amigos, vamos valorizar o que está sendo cultivado em nosso solo e saber que todos nós temos uma parte efetiva nesse crescimento imenso que o futebol de mesa atingiu em nosso país.

E lembrem-se todos que no dia 14 de fevereiro, quando comemorarmos o nosso dia, deveremos comemorar também o centenário daquele que teve a coragem de divulgar em 1930 o esporte que tanto amamos.

Até lá, com o meu abraço.

Sambaquy.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CENTENÁRIO DE GERALDO CARDOSO DECOURT


No próximo dia 14 de fevereiro, quando todo o Brasil comemorará o Dia do Botonista, estaremos festejando efusivamente o centenário do Papa do Futebol de Mesa, o inesquecível GERALDO CARDOSO DECOURT. Essa data é e será sempre em sua homenagem.

Nascido em Campinas (SP) em 14 de fevereiro de 1911, desde cedo se dedicou ao futebol de mesa, o qual viu ser praticado na casa de amigos no Rio de Janeiro, onde residia com seus pais. Aos dezenove anos, em uma atitude heróica e inusitada publica o primeiro livro de regras de futebol de mesa, que ele denominou de REGRAS DE FOOT BALL CELOTEX. Com isso fez a sua divulgação em vários jornais, como sejam: A Noite, A Ordem, Diário da Noite, A Batalha, O Globo, Rio Esportivo, Diário de Noticias e as revistas A Noite Ilustrada e o Suplemento de O Cruzeiro, que eram impressos em rotogravura. Como tinham boa circulação nas principais capitais do país a divulgação ficou conhecidíssima, pois, pelos anos afora Decourt era abordado por aficionados pelo esporte da mesa. Havia também a Gazeta (antes de ser Esportiva) que também o apoiaram em sua empreitada. O argumento usado pelo rapazinho foi de se tornar conhecido de Thomaz Mazzonni e José de Moura que administravam a Gazeta.

Naquele tempo o rádio era incipiente e televisão era um sonho futurista.

Nos seus primeiros campeonatos na Liga Carioca ele era um dos mais jovens, pois iniciou a jogar com nove ou dez anos e a grande maioria dos praticantes já passavam dos vinte anos.

Decourt em sua atividade profissional visitou muitas capitais e quando esteve em Porto Alegre, na década de quarenta ou cinqüenta, organizou, apoiado pelo Correio do Povo, um campeonato de futebol de botões. Isso, ele mesmo me contou com uma carga de orgulho, no bom sentido, pois se sentia um gaúcho honorário.

Em 1957, em São Paulo, num encontro casual com Eder Jofre, então Campeão Mundial de Boxe, recebeu o endereço do Grêmio Dramático Luso Brasileiro, no Bom Retiro, onde se praticava o futebol de mesa. Há poucos dias antes desse encontro a TV Record havia transmitido ao vivo uma partida de futebol de mesa entre o Eder Jofre e o Deputado Herbert Levy. Houve uma repercussão muito grande do fato em vários jornais e revistas esportivas.

Decourt montou um time dando o nome aos botões de seus colegas pintores. Sagrou-se vice-campeão da Federação Paulista. Decourt era um flamenguista fanático e colocava o nome em seus botões homenageando os tricampeões do seu C. R. Flamengo.

Ele fez várias interrupções em sua jornada, por motivo de suas constantes viagens de trabalho. Também não admitia que se dissesse que fora ele o inventor do jogo, já que aprendera a jogá-lo com amigos nas ruas do Rio de Janeiro, lá pelos idos de 1920. A sua invenção foi organizar um livro de regras e denominar o futebol de celotex, devido ao material utilizado para confeccionar as mesas que se chamava de Celotex e semelhante ao nosso Duratex atual.

Como citei anteriormente, Decourt era reconhecido por antigos desportistas que praticavam o futebol de mesa. Em 1942, em Vitória (ES), dois senhores ao escutarem seu nome perguntaram se era aquele mesmo Decourt que em 1930 fora jogar Celotex em Niterói. Respondeu afirmativamente perguntando como se lembravam do fato. Roberto Saleto e Gil Veloso então contaram que um irmão de Gil, torcedor do Vasco da Gama, fora assistir a inauguração do Estádio de São Januário e os dois foram a Niterói para assistir o jogo de botões. Em outra ocasião, com Manézinho Araújo, ex cantor de emboladas, lá pelo ano de 1935, quando saiam de um programa do Cesar Ladeira da Rádio Nacional. Manézinho perguntou se ele era o Geraldo Decourt do Futebol Celotex, pois na Liga Pernambucana existia uma fotografia sua na parede. O presidente da Liga era Jota Soares que era cineasta em Pernambuco. Em 1980, visitando Santos, em companhia de Hideo Ué Filho e Eliahou Vidal, foi surpreendido com a presença de um senhor que beirava os setenta anos: Jurandir da Silva Marques. Esse se lembrava das façanhas do Decourt nos anos 29/30 quando o vira jogar e citava os nomes dos companheiros daquela época. Fez uma apologia as façanhas incríveis do nosso Papa. Alguns meses depois recebeu em sua residência um notável jornalista carioca Helio de Souza Lopes que desejava falar sobre futebol de botões. Depois de três horas de conversas Decourt falou sobre o Celotex e apanhou as matérias publicadas nos finais dos anos vinte e inicio dos anos trinta. O homem explodiu de alegria. Era o mesmo Decourt que ele almejava encontrar. Telefonou para a sua residência avisando sua esposa que atrasaria a ponte aérea, pois havia encontrado um filão de ouro.

Ao voltar para o Rio procura Getulio Reis de Faria, botonista na época com 65 anos de idade que ao saber do encontro redigiu uma carta, datada de 23.06.1980, afirmando que há mais de cinqüenta anos o procurava. Foi então criado um momento mágico entre os dois, pois houve o famoso encontro para a comemoração do JUBILEU DE OURO da Regra de Foot Ball Celotex.

Para esse encontro enviei ao Decourt um time fabricado na Bahia liso, pois o Getúlio era praticante da Regra Brasileira. O encontro dos dois foi super emotivo e emocionante e Decourt queria encerrar sua carreira naquele dia, mas foi impedido por Getúlio, pois ali estava começando uma nova etapa em suas vidas. Decourt ainda escreveria em seu BOTUNICE INFORMA: Ainda não conseguimos nos refazer da “sacudidela” que representou para nós, a revigorante missiva do veterano carioca Irmão Getúlio Reis de Faria, e em resposta ao mesmo, afirmamos que o DESTINO houve por bem determinar o ano de 1980 para nos conhecermos de fato, e não 1930, quando ainda éramos jovens demais e não tínhamos condições para sentir o que sentimos hoje, meio século depois, quando podemos sentir pulsar discretamente sadio de dois corações que ainda batem, naquela batida de nossos antepassados que nos geraram para que um dia, FOSSE QUANDO FOSSE, NÃO COMO UM ‘FOSSE QUALQUER’ SEM SABERMOS QUANDO, mas QUANDO TIVESSER QUE SER, sem a PRESSAS DOS APRESSADOS, viéssemos a poder ESTIMULAR os mais jovens que nós, com o exemplo que confirma a tese de que deve-se DAR TEMPO AO TEMPO, para em TEMPO, podermos saborear o TEMPO que estamos saboreando hoje, ou seja, JUNTOS. Afinal, os dois juntos somavam um século de botonismo.

Então surge Agacyr José Eggers, patrocinando um Torneio em Curitiba e convida a equipe do Botunice para participar. Como não conseguiram completar a equipe, Decourt telefona para mim e solicita a minha presença e mais o Oscar Bernardi que era o presidente da Associação Brusquense, para completar a equipe. Encontramos-nos em Curitiba e Decourt já apresentava o problema na perna esquerda. Na volta para Brusque, nos acompanharam Decourt e sua esposa. Na noite seguinte, na sede própria da Associação Brusquense de Futebol de Mesa, houve um churrasco em homenagem ao nosso grande nome do futebol de mesa brasileiro. Foi-lhe ofertado um cartão de prata com os seguintes dizeres: “Ao Mestre Decourt, o reconhecimento dos botonistas brusquenses pelo seu trabalho em torno do futebol de mesa. ABRFM, setembro de 1982.”

A enfermidade agravou-se e sua última obra foi a composição do hino do botonista. Gravara-o contando com as vozes afinadas de suas filhas, acrescentando depoimentos de viva voz, onde anunciava a sua despedida. Foram 15 cópias de fita K7 a serem distribuídas e que hoje é um tesouro para quem foi distinguido em recebê-las.

Decourt contou sempre com o seu fiel escudeiro Antonio Maria Della Torre, outra figura maiúscula no futebol de mesa nacional.

O carinho que todos os botonistas paulistas e brasileiros tinham pelo bondoso DECOURT se reflete nos apelidos carinhosos que ele portava: “Corujão” ,“Raposão”, “Mestre”,”Professor”, “Patriarca”, “Papa”, “Bom Velhinho” com enfatizava sempre o cerebral Atienza.

Decourt foi um guerreiro notável e permaneceu entre nós até o dia 27 de maio de 1998, quando partiu para assumir no Plano Espiritual o seu lugar de vanguardeiro do futebol de mesa, esperando que cada um de nós, na sua hora, nos encontre para realizarmos o grande campeonato de nossas vidas.

Que esse ano seja comemorado o centenário daquele que foi o Papa do Futebol de Mesa brasileiro.

Sambaquy.