segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O SEGUNDO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL DE MESA – RECIFE PE.


A participação no segundo campeonato brasileiro de futebol de mesa foi mais fácil do que a primeira. A divulgação dos feitos de nossa primeira incursão no campo nacional atraia mais pessoas para a disputa. Na época, além do campeonato caxiense, diversas agremiações estavam disputando ativamente seus campeonatos. AABB, Guarany, Vasco da Gama, Noroeste e Juventus atraiam as atenções dos botonistas caxienses.

O convite partiu da Liga Pernambucana de Futebol de Mesa, presidida pelo inesquecível radialista Ivan Lima. O evento se daria de 13 a 17 de agosto de 1971, na cidade de Recife.

Ficou definido que não haveria Livro de Ouro e não iríamos solicitar ajuda de ninguém. Quem quisesse participar teria de arcar com as suas despesas, uma vez que as despesas da participação anterior haviam dado um pequeno prejuízo ao redator dessa coluna. Novamente a peregrinação entre as agremiações, e, poucos foram os que se dispuseram a nos seguir. Encontramos receptividade com o grupo do Vasco da Gama. Mário Ruaro Demeneghi, Rudy Antonio Vieira e Marcolino Pereira (Tico) se prontificaram a nos acompanhar, uma vez que Walmor Medeiros e eu já havíamos confirmado as nossas participações.

O Tico, antigo jogador do Flamengo e Juventude e que ainda batia uma bolinha no Vasco, tinha uma agência chamada MARCOS PUBLICIDADE, no Edifício Adelaide, sala 3, sub-loja, e conseguiu com a Festa da Uva que se realizaria no próximo ano uma verba para as camisas, desde que fizéssemos propaganda. Nossas camisas, nas costas, promoviam a Festa da Uva. Coisas de publicitário.

No dia 11 de agosto, partimos de Porto Alegre rumo a Recife, num vôo Varig. Saímos do nosso tradicional frio para o calor maravilhoso. Chegamos à noite na capital pernambucana. Por indicação das aeromoças, de quem ficamos amigos, foi-nos indicado o Grande Hotel, na Praia de Boa Viagem. Rumamos para lá e nos hospedamos. Naquele tempo era o hotel das celebridades e nele encontrei o famoso Ademir Marques de Menezes, o popular Queixada, goleador da Copa de cinqüenta no Maracanã. Encontrei também o goleiro Manga, que alguns anos depois seria o arqueiro do S. C. Internacional no famoso bi-campeonato brasileiro.

Nem bem havíamos nos instalado aparece o Ivan Lima e nos carrega para a noite boêmia. O homem era um ícone naquela terra. Conhecidíssimo, pois mantinha um programa de tv na TV Rádio Clube de Recife, aos poucos fomos conhecendo as belezas da noite pernambucana.

No dia seguinte nos retirou do Hotel e nos alojou no Ginásio Geraldo Magalhães, o Geraldão. Nesse ginásio, construído especialmente para grandes eventos haviam dependências para delegações esportivas e culturais. Ficamos na mesma ala em que estavam hospedados os integrantes do grupo teatral que apresentava em Recife a peça HAIR. Fizemos amizade com eles e, posteriormente com as mulatas do Sargentelli. Isso, para os antigos deve ser um prato cheio. E por ser o estado mais distante a comparecer, o tratamento dado a nós foi excepcional.

Logo após alojados, o Ivan nos carregou para a TV Rádio Clube para uma entrevista ao vivo. Foi maravilhoso, pois nenhuma outra delegação teve tal privilégio.

A equipe de recepcionistas do Geraldão era composta de meninas maravilhosas, esculturais, lindas e afáveis. Lembro com saudade de Maria Cléia Pinto de Souza, com a qual troquei correspondência por alguns anos. Gostaria de revê-la, mas depois de tantos anos acredito que seja quase impossível.

Na noite do dia 12 foi realizado o Congresso de Abertura do 2º Brasileiro. No dia seguinte iniciaram-se os jogos. Nesse campeonato eu senti que o clima de rivalidade entre pernambucanos e baianos era quase insuportável. Explico melhor. Jogava contra Oldemar Seixas, baiano, e o resultado era um 2 x 1 para ele, mas eu estava atacando bem posicionado, quando toca o relógio encerrando o jogo. Era a vez de Oldemar jogar e ele erra, ficando meu botão pronto para o arremate. Como todos os jogos se encerravam no relógio estendi a mão para cumprimentar o Oldemar, quando para nossa surpresa o juiz pernambucano falou que o jogo ainda não havia acabado. Pedi ao gol e vi os olhos do Oldemar se arregalarem. Senti a maldade que o árbitro estava usando contra ele, pois baianos e pernambucanos lutavam ponto a ponto para a conquista do título por equipes. Estava em minhas mãos completar ou não a maldade. Chutei para fora a bolinha, para alivio de todos. Para mim valia muito mais a amizade, que um empate conseguido de maneira não convincente.

Esse clima perdurou até o final. Mas os pernambucanos conseguiram, com méritos, chegar ao título por equipes, enquanto que no individual, dois baianos disputaram a final. Roberto Dartanhã Costa Mello e Cesar Aureliano Zama, dois jogadores maravilhosos que protagonizaram um jogo inesquecível. Fui escolhido para arbitrar essa partida final do Torneio. Dartanhã venceu por 1 x 0 na única falha do Cesar Zama. Seu botão travou em uma cobertura e Dartanhã arrematou com êxito, sagrando-se campeão brasileiro.

Com o final do campeonato as delegações foram se retirando. Mas nós ficamos, pois havíamos sido convidados pela administração do Geraldão para o show do Sargentelli e suas mulatas. Foi maravilhoso, com uma mesa diante do palco nos deliciamos com um espetáculo que só havíamos visto na TV, em branco e preto. E tudo ao vivo e a cores.

No dia seguinte, para nossa surpresa, a Prefeitura de Recife nos convidou para um almoço de despedida. Nos levaram a um clube maravilhoso e foi-nos servido um almoço inesquecível, com toda sorte de frutos do mar e com as frutas deliciosas da região tropical.

Nosso regresso teve uma parada na Bahia. Oldemar Seixas havia nos convidado para visitarmos a Boa Terra. Junto conosco estava o Antonio Carlos Martins, carioca que havia ficado em Recife para aproveitar as mordomias que estavam sendo oferecidas aos seus amigos gaúchos. No desembarque na Bahia os botonistas que haviam estado em Recife estavam nos esperando e nos levaram a um Hotel beira mar. Ficamos dois dias nos deliciando com os passeios proporcionados pela boa gente baiana.

Regressamos para o Rio Grande e voltamos a enfrentar o frio, até então esquecido. Do aeroporto até uma garagem em Porto Alegre onde o Mário havia deixado seu carro.

Todos com saudade, mas felizes, pois o tratamento recebido foi atencioso por parte dos pernambucanos e fez com que nos esforçássemos no sentido de preparar o terceiro campeonato brasileiro, que deveria ser realizado em Caxias do Sul.

Mas, isso é outro assunto e voltaremos a ele na próxima semana.

Até um grande abraço a todos vocês.

Sambaquy.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CURIOSIDADES ACONTECIDAS.


Quando apresentei a vocês, a fábula sobre o mais nobre dos esportes, falei que muitos acontecimentos poderiam ser considerados fábulas.

Cada vez que nos reunimos, muita coisa do passado surge em meio às conversas. Lembro que, quando realizamos o nosso Torneio em comemoração ao primeiro aniversário, recebemos visitas de dois baianos. Oldemar Seixas e Ademar Carvalho. Não foi por maldade, mas a criação da Liga Caxiense de Futebol de Mesa foi em pleno inverno caxiense. Logicamente a comemoração deveria ser feita na mesma época. Os dois baianos saíram de uma Salvador com quase 40º para chegar em Caxias com uma temperatura baixíssima.

De dia tudo ia bem. Ademar, logo acostumou-se ao clima, mas Oldemar passou a sofrer demasiadamente. Nos dias que precederam ao torneio, visitávamos as agremiações que praticavam o futebol de mesa. Sempre rolava uma bebida mais forte para ajudar a enfrentar o frio. Só que o Oldemar só bebia guaraná. Ademar, ao contrário, acompanhava o pessoal de Caxias em tudo. Se bebíamos vinho, ele estava junto, se fosse whisky, o Ademar era companheiro e com isso suportava mais fortemente o frio. Oldemar era municiado de casacos, luvas, mantas, umas quatro a cinco camisas e vivia se queixando.

Como eles ficariam alguns dias entre nós, consegui um local para dormirem, ao lado de minha casa. Era um apartamento de uma tia de minha ex-esposa.

À noite, com o abatimento do Oldemar, essa resolveu entregar a ele uma bolsa com água quente, pois esquentando os pés, conseguiria dormir mais facilmente. Mas, parece que nada estava a favor do baiano chorão. A bolsa de tanto ser apertada entre os pés, acabou estourando e molhando toda a cama.

No dia seguinte, a despeito de toda a boa vontade em acomodá-los, foram de mala e cuia para o Alfred Hotel.

Quando estivemos no Guarany, onde eles mostravam sua técnica, cheguei a fazer uma aposta com eles, dizendo que não estava tão frio assim, pois eu até ficaria sem camisa. Acabei tirando o paletó e a camisa e o Oldemar quase desmaiou quando me viu de peito nu. Dizia que os gaúchos eram todos loucos e que moravam em uma geladeira.

Levei ambos para uma colônia, de propriedade de um amigo. Lá fizemos uma queimada de pinhão, coisa que o Ademar jamais esqueceu. Chamava de castanha os pinhões. Perto da fogueira com galhos de pinheiro o Oldemar conseguia até sorrir. Nesse local, foi-nos servida uma graspa com erva doce, que era fabricada pelo meu amigo. Ao experimentar a dita cuja o Oldemar quase vomitou. O Ademar, pelo contrário gostou.

No dia do torneio, dentro da AABB, com um dia de sol de inverno foi tudo bem. Ficamos até quase à noite, quando o pessoal começou a se dispersar. Muitos iriam viajar para as suas cidades e os dois iriam para o Hotel, onde o ar quente do quarto os protegia.

No dia seguinte iriam para o Uruguai, pois quando saíram de Salvador tinham como meta conhecer o vizinho país. Os levamos até Porto Alegre, onde iriam voar para Montevidéu. Só que jamais imaginaram que por lá o frio é ainda maior. Por aqui ainda estávamos acima de zero.

Ao chegarem em Montevidéu, desembarcaram sob frio intenso e o que mais chamou a atenção foi a manchete de um jornal. Dizia ela: ESTAMOS HELANDO. HOY -6 GRADOS.

Os dois foram diretamente para o Hotel. Ligaram o ar quente e ficaram até o dia seguinte, quando apanharam o avião e voltaram ao Brasil, mais precisamente para a Bahia. Chegando na Bahia, o Oldemar soltou-se e a primeira coisa que fez foi pegar o telefone e ligar para dizer que finalmente estava vivo e feliz. O sol estava com quase 40º e ele havia resistido à geladeira sulista.

Depois de alguns dias recebi, pelo correio, um pequeno bloco com as armas uruguaias em sua face e com a dedicatória: Para o irmão, uma lembrança do Uruguai. Tenho guardado até hoje, entre os meus troféus, pois mesmo naquela situação, lembrou-se o meu irmão de comprar algo, que mostrasse a sua aventura em terras geladas.

Lembrar disso tudo reaviva os momentos de alegria e de muita descontração que marcou a nossa amizade. Pena o Ademar ter partido tão cedo. E, para a minha alegria, fui talvez o último amigo a conversar com ele, antes de sua cirurgia. Ademar prometeu que ligaria para mim tão logo recebesse alta, e, fosse para casa. Com o passar dos dias, sem esse retorno tão esperado, liguei para a Margarida e fui informado que ele não havia resistido à cirurgia do coração, a qual se submetera. Ela me agradeceu por ter falado na noite anterior à cirurgia, pois ele havia ficado muito feliz. Senti-me recompensado, mas imensamente triste pela perda de um amigo querido. Hoje, quando escuto as fitas gravadas daquela época, não consigo reter as lágrimas que teimam em escorrer pelo meu rosto.

Oldemar, por ser consumidor de guaraná, está forte, no alto de seus setenta e quatro anos. Conversamos todas as semanas via telefone. Seu programa radiofônico ”Bahia Campeão dos Campeões” já soma trinta e quatro anos no ar. É uma referência esportiva na Bahia.

Bem, essa é uma história acontecida, uma das inúmeras que ainda pretendo contar.

Uma semana feliz para todos vocês.

Sambaquy.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

...E OS BAIANOS JOGAVAM COM A UNHA...


Uma das coisas que mais nos impressionaram, quando recebemos a visita dos baianos Oldemar D. Seixas e Ademar Dias de Carvalho foi o fato de eles não utilizarem fichas, palhetas ou as réguas atuais. Eles impulsionavam os botões com suas unhas do dedo indicador. E o faziam com uma precisão matemática que mostrava a beleza de jogadas feitas com precisão.

Na minha primeira incursão à Bahia, fiquei impressionado com a quantidade de praticantes que agiam da mesma maneira. Joguei em Salvador, Mataripe e Santo Amaro com grandes botonistas, os quais ficaram gravados em minha história: Jomar Maia, Roberto Dartanhã, Geraldo Lemus, Norival Factum, Fernando Contreiras, Armando Passos, Mariano Salmeron Neto, Amauri Alves, Álvaro Cesar, Cesar Costa ( que jogava sempre com um charutinho na boca), Dr. Elias Morgado, Luiz Raimundo, Marcio Gomes, Geraldo Holtz, Carlos Alberto Magalhães, José Mascarenhas, Milton Silva, Webber Seixas, Nelson Carvalho, Oldemar e Ademar, todos impulsionando seus craques com a unha, sempre com a mesma precisão.

Eu havia recebido o primeiro time de botões baianos que aportou o Rio Grande do Sul. Uma seleção brasileira, que apelidei imediatamente como a seleção de 1958, embora eu, nem de longe pudesse ser comparado ao Vicente Feola, que nos deu o primeiro título mundial. Esses botões fazem parte de meu acervo e estão comigo há mais de quarenta e quatro anos. E neles está o segredo de poder jogar com a unha. Eu mesmo consegui realizar algumas partidas jogando com a unha, e fazendo até gols bonitos. Mas, o desgaste sempre foi marcante, e as unhas acabam por se romper, pelo esforço continuado. Era preferível jogar com a palhetas.

O mago dos botões, o meu amigo José Aurélio, que morava à rua J.E.Lisboa, antiga e atual Estrada da Rainha, pois o nome não consegui se firmar,(visto que todos conheciam aquela tradicional rua de Salvador como Estrada da Rainha), conseguia fazer com que fosse possível jogar com a unha. E o segredo dessa confecção era guardado a sete chaves. Jamais ele deixou que víssemos trabalhando em seus botões. Mostrava tudo, menos a fabricação. Lembro ainda de um time que ele havia fabricado para uma encomenda, com os distintivos do Real Madrid embutidos. Um time lindo e cheio de detalhes que, para nós era uma tremenda novidade.

O segredo disso tudo estava no grau da quina dos botões. Os botões para jogar com a unha tinham uma quina arredondada o que facilitava a impulsão dos botões. Nós, gaúchos, usávamos uma quina viva, que permitia que a palheta determinasse a direção do botão em direção à bolinha. O Zé Aurélio, diante de nossas necessidades, teve de adaptar sua fabricação ao gosto dos gaúchos, pois, após a implantação no Rio Grande do Sul, as encomendas aumentaram consideravelmente.

A nossa adaptação demorou mais tempo em virtude das espécies dos botões que os baianos trouxeram em sua bagagem, e, venderam todos no Rio Grande do Sul. Todos foram confeccionados para serem impulsionados com a unha. Quando nós, gaúchos, apoiávamos a palheta em cima do botão, o deslize era imediato devido a inclinação da quina dos botões. E isso prejudicava o nosso desempenho. Custamos algum tempo a nos aperceber dessa artimanha própria dos baianos. O primeiro a descobrir essa diferença foi o Vicente Sacco Netto, que solicitou um São Paulo, com dimensões diferenciadas e com a rebarba mais pronunciada, sem a ondulação baiana . Logo em seguida o Raimundo Antonio Rotta Vasquez solicitou um Vitoriense, idêntico ao do Vicente. A partir daí mudou o sistema de solicitações de botões e o Zé Aurélio passou a fabricar botões especiais aos gaúchos.

Mesmo assim, quando fomos participar do primeiro brasileiro, deve-se ressaltar que os botões ainda eram influenciados pela fabricação baiana, com ângulos adaptados para serem impulsionados com a unha.

Nós ainda tínhamos muito a aprender, e, com certeza, aprendemos com o passar dos anos.

Na época, haviam apenas dois fabricantes de botões de acrílico e um de palaton. Os de acrílico eram o José Aurélio e José Castro Sturaro, e, o de palaton o Milton Silva, o grande botonista Miltinho.

Pagamos o preço do aprendizado. Afinal nós é quem estávamos mudando o nosso sistema tradicional de botões puxadores, fabricados na rua Paulino Teixeira, 51, em Porto Alegre para os botões padronizados, fabricados por baianos e que vinham para nós através da VARIG. Estávamos avançando na escala botonística brasileira e deveríamos pagar o alto preço de sofrer, até podermos abiscoitar os grandes prêmios. Era questão de tempo. E o tempo passou e hoje estamos no mesmo patamar, com um detalhe, os baianos passaram a usar palhetas e réguas para jogarem. Os antigos praticantes da unha estão rareando e desaparecendo. Já não se vê Oldemar Seixas, Webber, Ademar, Miltinho, Jomar Maia, Cesar Zama, José Ataide, Dr. Gantois, Orlando Nunes, Vital Albuquerque, Dr. Valter Motta, Geraldo Holtz, Guilherme José, Luiz Alberto Magalhães (um técnico notável que jogava futebol de mesa com a maestria do xadrez), Roberto Dartanhã, José Santoro Bouças,o Pépe, Dr. Jaime, Ubaldo e tantos outros que encontramos na terra linda da Bahia.

Mas, o que foi mais importante em tudo isso foi a união que aconteceu, pois hoje nos encontramos em qualquer parte do país e podemos nos abraçar com saudade, pois nossos encontros já se realizaram em outros pontos do país, e, por isso, somos velhos amigos, adversários nas mesas, mas amigos do coração.

Que o diga o meu irmão Oldemar Seixas, que da distante Salvador conversa comigo muitas vezes por mês, via telefone. Há quase cinqüenta anos jamais imaginaríamos que isso pudesse acontecer. Só que o futebol de mesa consegue fazer esse milagre. Amigos são verdadeiramente o nosso maior troféu. São guardados em uma galeria especial que está em nosso coração.

Até a semana que vem, se Deus permitir.

Sambaquy.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

PRIMEIRO BRASILEIRO DE FUTEBOL DE MESA REALIZADO NO BRASIL.



Hoje vamos tratar de algo muito sério, que motivou a grande caminhada do futebol de mesa da atualidade.

De 8 a 22 de janeiro de 1967, Gilberto Ghizi e eu ficamos na Bahia, jogando e trocando idéias para a concretização do grande sonho que possuíamos: uma regra nacional para possibilitar a realização de campeonatos brasileiros. Tudo foi motivado por uma reportagem feita por Oldemar D. Seixas, na antiga e extinta Revista do Esporte. Tomamos conhecimento de grupos organizados no nordeste brasileiro e entramos em contato. A história já foi narrada em colunas anteriores. Ghizi, então presidente da Federação Riograndense de Futebol de Mesa e eu, presidente da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, rumamos a Salvador. Lá, entre as rodadas para a concretização da regra, éramos constantemente convidados a jogar em diversas sedes, não só em Salvador, como também em Santo Amaro e Mataripe.

Tudo acertado, voltamos ao Rio Grande amado, trazendo exemplares da nova Regra.

Era necessário impulsionar o maior centro praticante do futebol de mesa, que na época era a Bahia. Lá eram feitos botões, goleiros, mesas maravilhosas e em cada bairro existia uma agremiação que praticava o nosso esporte de forma organizada e responsável. Além disso, os componentes da Liga Baiana eram pessoas que encaravam o futebol de mesa com uma seriedade impressionante. Seu presidente, José de Souza Pinto, o único que não jogava botão, tinha metas e um tremendo carisma entre os baianos. Já estava com idade avançada, mas acompanhava o pessoal com o entusiasmo de um campeão. Dele partiu a idéia de realizar o primeiro brasileiro. E essa idéia foi ganhando força e sendo incrementada por todos os praticantes da Boa Terra.

Em fevereiro de 1969, Miguel Silva, nos visitou em Caxias, trazendo as noticias sobre a possível realização no ano seguinte do tão ambicionado campeonato.

Em novembro de 1969, para a nossa alegria, chega o tão almejado convite. A Liga Baiana destinava cinco vagas para o Rio Grande do Sul, mais precisamente para a Liga Caxiense. Seriam três a disputar o torneio por equipes e dois participariam do individual.

Infelizmente, nem todos comungavam do mesmo entusiasmo que iluminava os meus sonhos. Com o convite em mãos, reunida toda a comunidade botonista da Liga, somente o Walmor da Silva Medeiros, meu colega de Banco do Brasil mostrou interesse em participar. Ninguém mais tinha vontade ou desejo de jogar um campeonato brasileiro. Bastava o caxiense.

Com três vagas para serem preenchidas, a solução estava na garotada do Guarany. Compareci à sede do Recreio Guarany e conversei com os meninos. Eram meninos mesmo. A responsabilidade seria imensa, pois teriam de viajar, caso fosse permitido, com autorização de seus pais. Os três escolhidos foram Airton Dalla Rosa, Jorge Compagnoni e Ângelo Slomp. Com as devidas autorizações paternas, passamos para a fase seguinte. Vamos viajar de que maneira? E como faremos para dar cobertura aos gastos que serão necessários para hospedagem, alimentação, viagem? Como sempre, com boa vontade e muito trabalho, pois naquela época não tínhamos apoio algum, começamos a nos movimentar. Requisitei os três e atribui-lhes tarefas. Em primeiro lugar teremos de comprar um livro de ouro e passar na indústria e comércio de Caxias, explicando que estaremos representando o Estado do Rio Grande do Sul e a nossa cidade em uma competição à nível nacional. Não paramos mais de percorrer, diariamente as diversas empresas locais. A receptividade foi muito boa e conseguimos reunir o dinheiro suficiente para as despesas dos três, já que o Walmor e eu pagaríamos as nossas.

Faltava algo muito importante. O fardamento para nos apresentar nas competições. Teríamos de voltar a pedir auxilio as empresas? Foi quando me ocorreu solicitar à Confecção Sebben, fabricante de camisas, que nos socorresse. Ganhamos cinco camisas sociais, meia manga, na cor azul claro. Providenciamos escudos da Liga, bordados e costuramos nos bolsos. Em princípio, os problemas estavam quase todos resolvidos.

Compramos as passagens. O roteiro eu já conhecia, pois há três anos havia feito a mesma viagem. Sairíamos de Caxias rumo ao Rio de Janeiro. Teríamos de pernoitar no Rio e na noite seguinte seguir viagem rumo à Salvador.

Dia 2 de janeiro de 1970 partimos. Esse primeiro trecho era novidade para os meninos, que nunca haviam saído de Caxias. No Rio de Janeiro, tendo o dia livre, fomos visitar o Getúlio Reis de Faria, em Vila Isabel. Os filhos do Getúlio levaram os três gaúchos para conhecerem a praia. Estavam todos em estado de graça.

Naquela noite embarcamos rumo à Salvador. Na primeira parada, para jantar, pedi uma dose de whisky. A moça que nos atendia trouxe um copo liso, cheio de bebida. Já que eu estava pagando, bebi tudo. Resultado, dormi até perto de Salvador. No restaurante, o Ângelo, que era gordinho, um pouco guloso, comprou algumas barras de chocolate e colocou no bolso de sua calça. A viagem, pela noite à dentro era cansativa e o sono bateu em todos. O Ângelo dormiu esquecendo os chocolates no bolso. Com o calor do verão, mesmo à noite, ônibus fechado, derreteu tudo e foi incrível ver a cara de vitima do Ângelo. Não sabemos até hoje se era por ter derretido os chocolates, se era por ter transformado o bolso da calça em um bolo marrom, ou por ter de fazer o restante da viagem cheirando a chocolate. Ao chegar em Salvador teve de mandar a calça para a lavanderia. Ninguém agüentava ficar por perto. Chocolate nunca mais.

Em Salvador, formos recepcionados por um pessoal maravilhoso. Nos levaram ao consultório de dois dentistas que trabalhavam no Edifício Sulacap. Os dois tinham seus consultórios contíguos, separados por uma sala de estar que servia a ambos. Ao chegarmos lá, pararam de trabalhar, fecharam a sala e colocaram uma mesa para jogar. Os doutores Kleber e Próculo foram incansáveis e até um time deram ao Airton.

O campeonato seria realizado no dia 10 de janeiro de 1970, na Sociedade Espanhola.O local muito bonito e cheio de novidades para todos nós. Na noite anterior foi realizado o Congresso, onde foram detalhados os procedimentos e sorteados os jogos. A equipe seria formada pelo Walmor, o Angelo e eu. O Airton e o Jorge jogariam o individual.

A minha campanha foi razoável. Meu primeiro jogo foi contra José Ignácio, (Sergipe – que seria campeão de 1979, no Espírito Santo) que terminou empatado. Depois, joguei contra Marcelo Tavares, de Pernambuco e o venci. A seguir enfrentei a fera baiana: Miltinho e fui goleado. Ele não errava um chute a gol. Foi o primeiro fabricante de botões de palaton. Meu último jogo foi contra Adélcio Albuquerque, do Rio de Janeiro e devolvi a goleada. Um fato que nos impeliu ao quarto lugar foi o primeiro jogo do Ângelo. Jogava contra um baiano. Esse mandou colocar o goleiro e o Ângelo o colocou de forma que uma das extremidades do goleiro ficou meio milímetro dentro da linha de gol. Da forma que o baiano chutaria não conseguiria marcar. Foi dado o chute que bateu na cara do goleiro e voltou ao meio do campo. Então veio a surpresa: o juiz, outro baiano chamado Diogenes validou o gol, pois disse que o goleiro estava irregular. O Ângelo, menino ainda, ficou nervoso e começou a chorar. Não conseguiu mais dominar seus nervos e acabou perdendo os seus jogos. O Walmor também não foi muito feliz, mas teve alguns resultados positivos. Mesmo assim ficamos em quarto lugar, perdendo para três fortes adversários nordestinos, acostumados a jogar naquele sistema: Bahia, Sergipe, Pernambuco.

No campeonato individual, nossos meninos Jorge e Airton, não tomaram conhecimento dos baianos e pernambucanos, alagoanos, paraibanos e cariocas e chegaram a beliscar. Jorge Alberto Compagnoni ficou com o terceiro lugar e Airton Dalla Rosa com o quarto, dando mostras daquilo que estava sendo desenvolvido em Caxias do Sul. Os dois campeões foram dois baianos que residiam em Sergipe: Atila de Menezes Lisa (que cogitou, anos depois em morar em Caxias, pois trabalhava na Policia Federal) e José Marcelo Freire Farias.

Estava sacramentado o primeiro campeonato brasileiro da modalidade. E dele dois caxienses emprestaram seus nomes para figurarem no site da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa. Cumprimos com o nosso dever.

Na semana que vem voltaremos a nos encontrar.

Até lá com o meu abração.

Sambaquy.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A FÁBULA DO FUTEBOL DE BOTÃO.


Tenho falado muito em fatos concretos, desde que iniciou-se a publicação da coluna. Muitos desses fatos poderiam ser transformados em fábulas, mas foram realidades.

Existem histórias tremendamente engraçadas sobre participação de botonistas, em situações que poderiam fazer nossos leitores darem boas risadas. Deixarei para uma próxima coluna algumas dessas histórias engraçadas. Hoje vou transcrever uma fábula que recebi no dia 24 de março de 2008, e, que mostra o respeito que envolve o futebol de mesa entre as pessoas que escrevem, que produzem artigos e que exploram a opinião pública com assuntos envolventes.

A fábula tem o título: O MAIS NOBRE DOS ESPORTES.

Conta-se que o homem mais rico do mundo desejava saber qual era o mais nobre dos esportes, e, para isso chamou três sábios: um da China, porque a China é o berço da sabedoria; outro da França, porque a França é o berço da ciência e outro dos Estados Unidos, que não são o berço de coisa nenhuma, mas ganham muitas medalhas nas Olimpíadas.

Logo que os três sábios chegaram à casa do magno magnata, este lhes perguntou: - “Senhores, qual o mais nobre dos esportes? Aquele que me convencer disso, receberá, como prêmio, um pote de ouro”.

Então o chinês disse: - Honorável senhor, em todos os esportes há nobreza, mas em nenhum outro há mais do que no xadrez. Ele é um jogo de estratégias e inteligências, onde mais conta o cérebro do que qualquer outra coisa. O xadrez é o esporte do intelecto. Depois, satisfeito com suas próprias palavras, sentou e tomou o seu chá.

Então o francês falou: “Monsieur, nenhum esporte se compara à esgrima. Na esgrima treinamos a pontaria e a rapidez, defesa e ataque, reflexos e precisão. É um esporte onde todo o corpo é chamado a agir, e por isso é o esporte da habilidade física. Depois, satisfeito com suas palavras, sentou-se e bebeu seu vinho.

Então o norte-americano rosnou: Mister, o xadrez e a esgrima são ok, mas o mais nobre dos esportes é o pôquer, que exige dissimulação e farsa, psicologia e trama. Ele não é jogado apenas com o corpo e o cérebro, mas também com a alma. É o esporte do controle emocional. Depois, satisfeito, sentou e bebericou sua Diet Cola.

O homem mais rico do mundo, diante de tudo, disse que necessitaria de algum tempo para pensar sobre aqueles profundos arrazoamentos, e, como pensar dá fome, pediu uma pizza pelo telefone.

Quando o entregador chegou com a pizza, o homem mais rico do mundo, por brincadeira, resolveu lhe perguntar qual era o esporte mais nobre: o xadrez, a esgrima ou o pôquer. O entregador não se fez de rogado e disse: - Esses três esportes são importantes, mas o mais nobre de todos é o futebol de botão.

Os três sábios caíram na gargalhada, mas o entregador permaneceu imperturbável.

- Vejam, o futebol de botão é uma síntese do conhecimento humano. Ele necessita de movimentos estratégicos como o xadrez, pede pontaria, reflexos e precisão como a esgrima e requer autodomínio como o pôquer. O futebol de botão, senhores, é o único esporte onde são necessários intelecto, habilidade física e controle emocional. Tudo ao mesmo tempo e em igual proporção.

Todos ficaram boquiabertos com tais idéias e as aplaudiram com entusiasmo.

O entregador então fez uma partida de botão com cada um dos presentes para celebrar a mais nobre das artes. Ele venceu o chinês por 8 a 0, o francês por 9 a 0 e deu de 10 a 0 no norte-americano. Estranhamente, porém, perdeu de 1 a 0 para o anfitrião; e com um gol contra.

O homem mais rico do mundo ficou tão feliz com a inesperada vitória que não deu apenas um pote de ouro ao entregador de pizza, mas também a mão de sua linda filha e única herdeira.

E a moral dessa fábula esportiva, se é que há alguma, é que é bom ser sábio, mas melhor ainda é ser sabido.

Extraído do livro: “OS CABEÇAS DE BAGRE TAMBÉM MERECEM O PARAÍSO”

Espero que tenham gostado dela, assim como eu gostei. E me digam se realmente não é verdade tudo isso. Sugiro que convidemos os entregadores de pizza a jogarem botão.

Até a próxima.

Sambaquy.